Há coisas que vejo tratadas com leviandade
que não merecem, assim como com uma superficialidade e oportunismo que conduz a
conclusões simplistas que nos afastam da realidade que o modo preconceituoso
como actuamos jamais permite alcançar.
Estou a lembrar-me das tragédias que, neste
Verão, têm sido a preocupação constante neste país que é, da Europa, aquele
onde, sobretudo os incêndios, mais acontecem por falta da prevenção que o
ordenamento do território, infelizmente nunca feito, permitiria.
Em vez dele, a confusão a que interesses
económicos egoístas dão lugar é a situação em que a nossa floresta se encontra.
Faz-me confusão como elementos de partidos
que foram responsáveis por sucessivos governos, perdem tempo assacando-se,
mutuamente, culpas pelo que acontece em consequência do que não foi feito, em
vez de, definitivamente, reunirem forças e competências para evitar que volte a
acontecer, porventura com maior intensamente ainda, como o já inevitável
aquecimento global leva a prever que aconteça.
Eles devem saber, pelo menos tão bem quanto
eu por que razão as coisas acontecem assim, ou ainda se não deram conta de que
o que outrora tinha valor e era aproveitado na satisfação de necessidades ou
reinserido nos ciclos biológicos, agora se tornou o lixo abandonado que
constitui o rastilho que propaga o fogo?
Não se pode mudar de modo de viver
abandonando, sem cuidados, o modo como antes se vivia.
Mas um dia aprenderemos que os “Wall Street”
desta vida que não vêem mais do que dinheiro nem mais ninguém para além
daqueles para quem o dinheiro é tudo, não nos livrarão da fome quando os seus
excessos tiverem arrasado os recursos e o Ambiente que suportam a vida, porque esquecem
que o dinheiro apenas tem valor enquanto o mais existir, as pessoas, as
florestas, os campos cultivados, a solidariedade, a cooperação…
É patético ver como, depois da tragédia
acontecida, o Primeiro Ministro se afadiga a exigir as investigações e os
cuidados de que antes nem sequer se lembrou!
Mas é natural que quem não se preocupa com
mais do que com o que possa parecer progresso, contas ou estatísticas
trabalhadas, apenas se lembre das desgraças quando acontecem e então se lembre
que ao longo das estradas podem existir calhas que podem acolher os cabos
aéreos que os incêndios queimam, cortando as comunicações.
Por outro lado, não fala de outras coisas em
que, possivelmente tem responsabilidades, como o SIRESP em cuja contratação
participou, no modo como a coordenação das diversas intervenções é feita e se
apressa a fazer aprovar umas leis imediatistas que não serão, de todo, aquilo
de que necessitamos para sermos o país prevenido que não somos.
Esta guerra dos défices, dos juros dos
empréstimos, das estatísticas de emprego, dos orçamentos cativados e das maiorias
oportunistas, um dia acabará numa tragédia ainda maior do que aquelas que agora
enfrentamos! Apenas porque o preconceito continua a
impor-se à realidade, o que faz do futuro a brincadeira a que se joga para ver
quem ganha quando, assim, perdemos todos!
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