Já não é novidade para ninguém que durante tempo demais vivemos acima das nossas posses, organizámo-nos para um tipo de vida que não poderíamos manter. Nós e o Estado! Foi uma enorme farra na qual todos, uns mais e outros menos, participámos.
Não vale a pena fingir que não demos por nada, que outros tiveram a culpa mas não nós, pois ninguém acredita num milagre que, repentinamente, fizesse de Portugal um país rico onde todos pudessem viver à larga.
Acelerámos no consumo e travámos na produção. Eram direitos que, rapidamente, pensávamos ir conquistando!
SE, em vez disto, tivéssemos evoluído ao ritmo que nos era próprio, aquele que as nossas potencialidades pudessem suportar, não teríamos de voltar, agora, aos níveis de 1975, ou inferiores ainda.
Não me parece que alguém, em consciência, possa não se sentir culpado por este colapso que o simples bom senso poderia ter evitado ou, pelo menos, tornado bem menor.
Direitos foram consagrados sem se avaliar se seriam sustentáveis, regalias foram atribuídas como conquistas que a baixa produtividade não justificava, mordomias dantes não sonhadas tornaram-se próprias de uma nova classe de senhores. Tudo e do melhor, era a regra dos que viram chegada a hora de poderem ter a vida que, antes, noutros invejavam.
Por aqui aconteceu assim. Por outros lados considerados mais evoluídos, a ânsia de enriquecer despoletou artifícios financeiros dos quais resultaram as célebres “bolhas” que provocaram a euforia que também nos arrastou.
Perante esta realidade, rebelamo-nos contra o que? Mostramos a nossa insatisfação porque? Porque os salários terão de ser reduzidos aos valores possíveis? Porque direitos insustentáveis têm de ser ajustados? Porque bens adquiridos sem meios bastantes para o fazer são retirados? Porque teremos de reduzir o nível de vida ao que é possível sem artifícios financeiros?
Ou será que teremos de nos penitenciar porque, distraídos pelos regalos que a abastança nos proporcionava, nem demos conta dos sonhos megalómanos de quem elegemos para nos governar, da corrupção que se instalava, das negociatas descaradas que se desenrolavam diante dos nossos olhos e até dos compromissos pessoais que assumíamos sem condições para o fazer?
É óbvio que estou indignado, que me sinto frustrado, mas também me sinto culpado por me ter servido de um sistema que, tudo me mostrava, não podia ter vida longa.
O egoísmo destroçou a solidariedade, a ganância degradou o ambiente, a ânsia de crescimento exauriu os recursos naturais, circunstâncias que tentamos disfarçar com atitudes que o tempo mostrará não serem mais do que panaceias que apenas atrasarão o inevitável.
A solução? Mudar de vida! É isso que devemos exigir.
Sem comentários:
Enviar um comentário