O
modo mais fácil de desculpabilização é, naturalmente, culpar os outros, tal
como a desvalorização dos outros é o único modo que muitos encontram para realçar
os seus fracos préstimos.
É
assim na vida comum mas é, sobretudo, assim que na política se travam as
batalhas pelo poder, das quais não vejo outras consequências que não sejam o
faz e desfaz a que a alternância dá lugar.
Vi
nascer a democracia em Portugal, senti a esperança da força que a liberdade dá
aos homens de verdade. Mas depressa passei a sofrer as desilusões dos maus
tratos que lhe deram, das picardias que fizeram, do modo como dela se aproveitaram.
É em
tricas entre politiqueiros que se perde o tempo que, assim, não sobra para
procurar, para os problemas cada vez mais sérios que a Humanidade enfrenta, as
soluções que requerem, porque a diferença entre uns e outros está em tudo e em
nada, sendo o fazer diferente do seu antecessor a maior proeza do que chega e depois
fará o que aquele que se lhe seguir também desfará depois!
Já
lá vai o tempo em que este jogo do faz e desfaz parecia não causar grandes
mossas, tal era o muito que se tinha para o poder deitar fora sem o aproveitar.
Foi
outro “fartar vilanagem” que a História juntará ao que Álvaro Vaz de Almada,
conde de Avranches, gritou na Batalha de Alfarrobeira!
Mudaram
os tempos e, sem grande admiração, assistimos àquilo para que já fôramos avisados,
que os recursos do planeta não são infinitos e que o frágil Ambiente indispensável
à vida requer cuidados que o persistente princípio “poluição ou miséria” lhe
não presta.
Tomei
ontem conhecimento (até transcrevi a notícia) das previsões do Fórum de Davos
que divulgou os dados de um estudo realizado com a fundação da navegadora Ellen
MacArthur e a consultoria McKinsey sobre a quantidade de plástico acumulada nos
oceanos que compara, em peso, com a quantidade de peixes neles existentes.
A
proporção entre toneladas de plástico e de peixes era de uma para cinco em
2014, prevê-se que seja de uma para três em 2025 e que a quantidade de
plásticos exceda a de peixes já em 2050!
Em
primeiro lugar, teremos de reparar de que não falamos de um futuro distante
porque são pouco mais de 30, hoje menos de meia vida, os anos que nos separam
daquele horizonte fatídico que, entre outros efeitos, já vai tornando o peixe
incomestível.
E
se às consequências deste “pormenor”, ao qual jamais ouvi qualquer político
referir-se como parâmetro importante no difícil sistema de equações que tem
para resolver, juntarmos as de outros tão ou mais graves do que as daquele,
como são as das alterações climáticas que os políticos fingem querer resolver
em conferências de faz-de-conta que duram há mais de sessenta anos, eu
pergunto-me o que esperarão estes oportunismos cujo plano de acção não vai além
de quatro anos, depois dos quais uns querem conservar o poder e outros
conquistá-lo, com as mentiras que, para tal, forem necessárias, sem cuidarem
das propostas de solução para os problemas gravíssimos que o bem-estar de todos,
a já muito curto prazo, requer.
Será
que a brincadeira vai continuar até que remédio já não haja?