ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 14 de maio de 2016

A REVOLTA DA NATUREZA



Na conferência de abertura do 10.º Literatura em Viagem (LeV), no salão nobre da Câmara Municipal de Matosinhos, Pacheco Pereira abordou, entre outros temas, a questão da linguagem 'orwelliana' (decerto leu “O triunfo dos porcos de George Orwell) para lembrar que "quem controla a linguagem controla o poder".
Por isso afirmou, diz a notícia que li, que “a ideia de “ajustamento” tem um lado filosófico subjacente de uma perspectiva “orwelliana” que pretende dizer que é possível voltar a um estado natural da economia que é a pobreza”!
É possível, digo eu que não sou historiador, não tenho 5 km de biblioteca e sinto mais o gosto de olhar para a frente tentando descobrir aonde o passado que vivemos nos poderá conduzir, não apenas pela linguagem que, naturalmente, deve ser adaptada às circunstâncias para que faça sentido, mas por uma realidade natural que temos tentado controlar sem, contudo, alguma vez a conseguirmos dominar.
É certo que passo mais tempo a pensar do que a ler que é mais fácil desde que, na escola, me ensinaram como se fazia.
A pensar é que nunca alguém me ensinou.
Não desdenho a importância do que se aprende quando se lê, desde que não esqueçamos de que é passado que o futuro não repete. Mas, sobretudo, realço o que somos obrigados a pensar quando lemos ou ouvimos, se é que lhe prestámos uma verdadeira atenção.
Retive desta conferência de Pacheco Pereira a ideia de “ajustamento” que, pretende o historiador, será um modo de dizer que é possível voltar a um estado natural da economia que é a “pobreza”.
Quanto ao “ajustamento” que Pacheco Pereira toma por uma novidade “orwelliana” de domínio do poder pela linguagem, porventura substituindo a “austeridade”, creio que o historiador não encontrou nos seus livros nada que lhe dê uma ideia, pálida que seja, de como ele se tornou necessário depois das tropelias que o “crescimento económico” fez, tentando alterar a Natureza cujas mudanças, historicamente lentas, acelerou ao ponto de o Homem se não entender mais com as alterações bruscas que provocou.
Diz Pacheco Pereira que o “ajustamento” será o regresso à economia natural que é pobreza!
Eu não diria isso do “ajustamento” que as circunstâncias nos impõem depois de termos tentado dar um passo bem maior do que a perna que temos.
Diria que é uma imposição da própria Natureza de que somos uma ínfima parte e que jamais dominaremos pelos pecados que, contra ela, sem pudor temos cometido.
A sua “revolta” está aí para nos dizer como são as coisas e qual é o caminho que apenas será de pobreza se a inteligência nos continuar a faltar ou, o que é o mesmo, a estupidez nos continuar a conduzir para uma luta que jamais venceremos.
Mas creio que estará para breve a maior descoberta de todos os tempos, a de que é de todos o barco em que viajamos e, por isso, convém não o afundar na tempestade que criamos e na qual nem o mais hábil nadador se salvará.
É por isso que se torna indispensável “ajustar” o nosso modo de viver ao que o barco pode aguentar.
Faltou falar da pobreza, do que, de facto, ela é. Mas já vai longo o escrito. Ficará para outra vez.
Mas adianto, desde já, que o empobrecimento não é, necessariamente, o destino porque tenho a esperança de um dia entenderemos o que é o socialismo, a fraternidade.



Sem comentários:

Enviar um comentário