Deve
ser “andaço”, como antigamente se dizia dos males que se propagavam rapidamente.
E deve propagar-se através do ar, para onde a verborreia que tomou conta deste país
expele os perdigotos que transportam os vírus que o provocam.
Uma
sessão na Assembleia da República tornou-se o reflexo de um país sem rei nem
roque, de um reino de abencerragens à beira de ser engolido por um poder maior
que é a realidade da qual não dão grandes provas de saber qual seja, ou de uma
coutada da qual vários querem ser o patrão!
Tudo
parece muito engraçado enquanto o é, mas veremos até quando, porque um dia e
como é das normas que aconteça, as comadres zangam-se…
E
sucedem-se as perdas de tempo que não servem para coisa alguma, não resolvem qualquer
dos graves problemas que temos e apenas adornam esta guerra de poderes idiota
em que caímos!
Fazem
contas para um banquete para o qual a despensa vazia não terá grande contribuição,
disfarçam-se as fraquezas com passe de magia que não passam de impostos toscos que
fingem não o ser e põe-se a tónica num défice conseguido com a redução drástica
das condições em que são prestados aqueles serviços que apenas ao Estado compete
prestar, em vez de na produção de bens que façam o país ser auto-suficiente na
satisfação das suas necessidades básicas. Que continua a não ser.
E até
já chegou a altura de fazer decretos-lei inconstitucionais que o Presidente
aprova e publicamente contesta, como aquele sobre a nova administração da Caixa
geral de Depósitos que fica isenta daquilo de que não pode ficar, a publicação
dos seus rendimentos, como compete a todos os gestores públicos.
O
Governo legisla que os administradores da CGD ficam dispensados do estatuto de
gestores públicos, o Presidente promulga a decisão, toda a gente contesta esta
aberração e o Primeiro-Ministro responde dizendo que o Governo apenas fez o que
está na lei e o Presidente da República diz que os novos gestores da Caixa não
podem ficar isentos porque são gestores públicos.
Até
pode nem ser exactamente como digo, mas não anda longe e será de qualquer outra
maneira tão caricata como esta porque muita coisa deixou de fazer sentido neste
país onde é cada vez mais difícil saber exactamente o que se passa.
Eu
creio que isto está a ficar demasiadamente confuso para ser compreendido.
Dizia-se
que a regra era “dividir para reinar”, mas como o tempo dos reis aqui já passou,
parece que a regra passou a ser “confunde-o para o dominares”.
(*) Parlamentar e Primeiro-Ministro britânico no tempo da
Raínha Vitória, Disraeli foi um ilustre pensador.
O brilho do seu discurso ofuscava os que se lhe opunham e
foi, por isso, um dos parlamentares mais brilhantes de todos os tempos.
Então, era assim. Agora os tempos são outros e a argúcia
parlamentar não basta.
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