Para
David Brin, consultor sobre transparência, segurança e novas perspectivas sobre
tecnologia e o futuro, o grande mérito da ficção científica que alguns tomam
como uma previsão do futuro, e logo nos vem à ideia o Júlio Verne, é, pelo
contrário, pintá-lo com cores tão negras, de tal modo que as pessoas se
assustem e lutem para que não aconteça assim.
A
ideia de Brin é excelente e até deveria estar certa. Mas não vejo que seja esse
o resultado. De todo!
Ainda
nos deslumbramos com os livros que Júlio Verne escreveu, com as ideias loucas
que teve, quando nos damos conta da autêntica premunição que continham. E
tantas vezes nos perguntamos como foi possível ter aquela antevisão de tantas
coisas boas que acabaram por acontecer.
O
tempo passou e hoje a ficção científica é diferente pois, em vez de coisas que
signifiquem progresso, coloca-nos perante situações terríveis, calamitosas
mesmo, mas as pessoas ainda tomam por aventuras em que, mesmo quando a
Humanidade corre o maior perigo, a força superior do Homem sempre vence!
Falava-me,
há tempos, um ilustre jornalista dos excessos de Al Gore que, segundo ele,
acabam por tirar credibilidade a alguma verdade que neles haja quanto às
variações climáticas e outras questões ambientais!
Respondi-lhe
que era necessário não confundir a verdade com o que se faz com ela, mas sim
tentar compreender a mensagem que tais excessos nos possam transmitir. Não
sabia, ainda, o que Brin havia dito, mas já me identificava com ele, pelos
vistos.
É
esta uma questão grave, a atenção que não prestamos a estes alertas que a
ficção nos trás, os quais consideramos excessivos porque nos obrigariam a uma
mudança de modo de viver que ninguém parece querer, aventuras nas quais
persistirmos na ideia de que sempre o Homem foi capaz de resolver os graves
problemas que se lhe colocaram.
As
calamidades destas ficções assumem várias formas. Enquanto Al Gore mostra os
cataclismos que sobre nós se abaterão por não estarmos atentos à realidade
física do mundo em que vivemos, antes, George Orwell escrevera o Grande Irmão
(Big Brother), aquele ser que olha por todos e de todos sabe tudo, afinal, a
única forma de poucos dominarem muitos.
Mas
poucos se apercebem, ainda, de que o Grande Irmão já anda por aí, vai-se
criando aos poucos. Nas leis que se vão fazendo, é mais um pouco do Grande
Irmão que aparece, desde o NIB que já dispensa que tenhamos nome, até, às
Finanças que tudo sabem do que possuímos e às câmaras de vigilância que sabem
por onde andamos e o que fazemos.
Como
disse Orwell “"o Grande Irmão zela por ti", é para teu proveito que
faz tudo o que faz.
Começa
por me parecer estranho que tantas falcatruas se tenham cometido e se cometam
com tão apertada vigilância. Talvez para dar que fazer à Justiça, digo eu!
Mas
os prevaricadores são mesmo os que fazem ou controlam as leis, como me parece
ver numa espécie de “Triunfo dos Porcos”, também escrito por Orwell, do qual a
União Soviética, por exemplo, não parece enaltecer-lhe as virtudes.
Hoje,
"Big Brother" ou "Grande Irmão" são termos usados para
descrever qualquer excesso de controle ou autoridade, por alguém ou pelo
governo, as quais culminam em violação de direitos e invasão de privacidade.
A
revista Book classificou o Big Brother como o número 59 na sua na lista
"100 Melhores Personagens de Ficção Desde 1900", mas em Outubro de
2006, já o colocou em segundo lugar na lista das "101 Pessoas Mais
Influentes Que nunca Viveram".
É
isto que se está a passar, até nos orçamentos de Estado que se fazem. Será que
ninguém se dá conta?
Parece
é que ninguém quer saber das mensagens importante que, como diz Brin, a ficção
sempre trás.
É
por isso que acontecem as desgraças…
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