ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 28 de abril de 2012

UM GOVERNO DIFERENTE OU UM GOVERNO FALHADO?

No PS, muitos esbracejam. Seguro, rodeado da pompa própria dos grandes chefes, aparece a falar para uma assembleia que nunca se vê, de cada vez que a comunicação publica uma notícia. Mesmo aquelas que se venha a apurar que o não são. Por sua vez, Zorrinho, a mais visível abencerragem do socratismo, com a máscara própria de quem pretende fazer acreditar que nada tem a ver com a austeridade que estamos a viver, vai-se mostrando cada vez mais e os seus ataques ao governo são cada vez mais próprios de quem se sente a caminho do poder, entusiasmado pela possível vitória de um socialista para a presidência francesa.

Por sua vez, as comemorações do 25 de Abril que uns boicotaram porque, disseram, o governo não respeitou promessas da revolução e a maioria ignorou como é natural que aconteça com o que alguns continuam a reclamar como só seu, dá pano para mangas e para muito mais, sobretudo nas análises que se fazem à actuação do governo para o qual muitos já pedem a extrema-unção!
Para os analistas foi como que um festival de variações livres sobre um tema que ainda têm dificuldade em dominar e para a “extrema-esquerda” uma oportunidade para protestos lamechas que as dificuldades que vivemos fazem parecer adequados às circunstâncias. Entendo-os porque é isso que justifica que existam. Uns criticando o que se fez mas não deveria ter sido feito ou feito sem o dever ser, outros fazendo parecer que sofrem as dores de quem, realmente, as sofre. É sempre assim.

Tudo facilitado porque do governo mal se tem dado conta para além de uma ou outra aparição de ministros menos destacados, focando temas que não são, de todo, os que mais preocupações nos trazem no momento. Sobretudo o Primeiro-Ministro, acusado de falta de sensibilidade social e de escassez nos esclarecimentos sobre um próximo futuro que mais e mais nos preocupa a cada dia que passa, mal tem aparecido e, quando fugidiamente o faz, quase nada ou mesmo nada acrescenta ao que já disse e que, uma ou outra vez, terá sido até demais.
Se, pela esperança de um governo mais actuante e menos exibicionista, diferente dos “vendedores da banha de cobra” a que os anteriores se assemelharam, tal procedimento me possa dar a esperança de que, neste, em vez de falar se trabalha, como Portugal tanto necessita, por outro lado a falta dos procedimentos políticos tradicionais, aqueles com os quais se pretende fazer crer que é, aquilo que conviria que fosse, também me trás alguma preocupação. A política vulgar habituou-nos a uma estranha linguagem em que palavras comuns podem ter significados que apenas algumas mentes iluminadas conseguem decifrar. A sua ausência conduz-me a esta dúvida entre a capacidade serena e consciente e a incapacidade.

Mas não quero acreditar que o governo simplesmente se tenha demitido da tarefa a que se propôs e tantas vezes garantiu que levaria até ao fim, como não acredito que tenha reduzido a intensidade dos esforços para a continuar. Não acredito porque é o melhor para mim e para todos, com excepção daqueles para quem ganhar o poder é mais importante do que reerguer o país.
Mas não poderá passar muito tempo até que esta situação seja esclarecida e, assim, saibamos o que, afinal, resultou do trabalho do governo para que todos participem neste esforço enorme de restauração de que Portugal uma vez mais necessita. É grande a ansiedade pelos resultados do que o governo tenha feito para minorar os danos que o país sofre pelas PPP e pelas “rendas” que os interesses de todos nós querem ver anulados e a equidade nos esforços para a recuperação do país exige.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

CAUSAS

Tornou-se moda, nas páginas sociais, constituir causas e procurar aderentes, quantos mais melhor! Raro é o dia em que a adesão a mais uma causa me não é proposta e não faria outra coisa se me decidisse a aceitar tantos pedidos.

Mas não será este o problema porque tal atitude até poderia dar-me prazer. São, na maioria dos casos, temas que a qualquer pessoa serão caros pelas preocupações que revelam. Mas não me parece que faça grande sentido incentivar atitudes que não terão quaisquer resultados práticos, sobretudo porque não originam debates que obriguem a reflectir sobre tantos e tantos problemas com que todos, uns mais outros menos, nos confrontamos a cada dia que passa. De um modo geral, fica a proposta e nada mais.
Por outro lado, trata-se de questões muito específicas que, isoladamente, se tornam quase irrelevantes nesta teia complicada de problemas com que a vida actual nos confronta.

Por vezes, quase me fica a ideia de que com estas iniciativas se procura esbater outras preocupações bem maiores que se agigantam no lote dos problemas com que a Humanidade já se debate, mesmo quando parece disso nem se dar conta.
Está a economia mundial numa situação a que a presidente do FMI, Christine Lagarde, considerou à beira do abismo, do qual parece agora querer afastar-se. No entanto, aumenta o número dos países em que as dificuldades crescem e a recessão se instala. É uma situação ímpar porque nenhuma outra como esta antes foi vivida. Não se entendem os economistas quanto às razões nem quanto às soluções e, até, as “receitas” que em outras crises produziram efeito desta vez não funcionam.

Parece que algumas conclusões deveríamos tirar deste factos, pelo menos a de que estamos perante algo que transcende a nossa capacidade para lidar com ela ou talvez devamos concluir que têm razão os que desde há muito dizem que este momento haveria de chegar, esclarecendo as razões da sua afirmação.
Primeiro “Os limites do Crescimento” que resultou de estudos que o Clube de Roma mandou elaborar e nos alertam para a natureza finita dos recursos naturais que, levianamente, esbanjamos, depois “O Choque do Futuro” em que Alvin Toffler tão bem reflectiu sobre as descaracterizações que a economia consumista estava a introduzir no nosso modo de viver e depois ainda, entre outros, “O Fim do Crescimento” que Richard Heinberg considera uma realidade apesar de os economistas insistirem na recuperação que, afinal, nunca mais começa.

Fica-me, ainda, a ideia de que bom seria termos dado ouvidos a quem, na década de cinquenta do século passado, recomendou o “Crescimento Zero”, a única forma de não criarmos desequilíbrios perigosos e, muitas das vezes, insanáveis.

Mas acredito que estas questões de grande dimensão passem um tanto ao lado da maioria que prefere acreditar em quem lhe diz que tudo voltará a ser como era antes.

Temo bem que não vá ser. E se digo assim é porque não me considero sabedor bastante para afirmar categoricamente o contrário do que os “especialistas” afirmam.
Só não compreendo porque não conseguem resolver um problema que, a ser como dizem, não deveria constituir dificuldade de maior para tantos sábios!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

ESTE NÃO É O MEU SPORTING

Tomei a decisão de jamais votar em urnas pretas e opacas como ainda ontem aconteceu em mais uma votação no Sporting Clube de Portugal, na qual os sportinguistas autorizaram Godinho Lopes a fundir a SPM com a SAD, numa operação que, diz o mais simples bom senso, não passará de mais uma tentativa para salvar uma entidade já “salva”, sem sucesso, por diversas outras vezes. Mas decidiu quem podia decidir e está decidido!

Godinho que conseguiu este feito de demonstrar o impossível, criou uma situação que lhe permitirá “resgatar”, também, a dúvida que jamais se extinguirá de ter sido empossado sem ganhar.
Convocará eleições a curto prazo, nas quais qualquer oponente não terá hipótese de vencer, a menos que haja sido conivente com a operação de fusão que sangra totalmente o Sporting e que só ele poderá gerir. A vitória de qualquer candidato que se tenha manifestado contra esta operação ruinosa será, a todos os títulos, mais do que improvável. A menos que todos tenham enlouquecido!
Desgostou-me a AG de ontem em que a razão esteve no nível de voz com que se disseram as coisas, se reclamou honestidade chamando desonestos a outros (o que a Mesa da AG infelizmente consentiu…) e em que se embrulharam esquemas perigosos na complexidade dúbia que a mentira sempre tem. Mas não se tem razão porque se fala mais alto e não se é honesto porque se chama desonestos aos que pensam diferente. E como é impossível de desmentir, a VERDADE é simples, clara e transparente, como o não foi a proposta que foi aprovada.
Porque não me dou bem com astúcias como esta, não estou minimamente de acordo com o que uma maioria decidiu em desfavor do meu clube, não me conformo com depósitos de votos em urnas opacas e, sobretudo, não reconheço neste Sporting aquele que, ao longo de muitas dezenas de anos foi o meu, decidi ficar com o meu Sporting no coração e deixar este, no qual não reconheço as virtudes que sempre admirei no clube do meu coração.
VIVA O SPORTING!

PRECISAMOS DE UM NOVO 25 DE ABRIL?

Esta foi a pergunta que, em jeito de petição me foi enviada numa página social.

É óbvio que não vou corresponder ao pedido que me foi feito para adesão a uma causa cujo propósito me não alicia. Mas a pergunta fez-me pensar. Que "25 de Abril" seria adequado aos tempos indesejáveis que vivemos? Igual ao anterior? Tenho a certeza de que não.

Não poderíamos ter continuado no isolamento político em que antes nos encontrávamos nem numa política de colonialismo disfarçado que não conseguiu encontrar soluções, mas uma revolução também me não parece que tenha sido a melhor forma de evoluirmos para um modo de viver definitivamente melhor!

Tenho razões para pensar que, afinal e para os bem intencionados, o 25 de Abril foi um grito de revolta para por fim a uma situação insustentável. Para outros terá sido a oportunidade que por mérito nunca teriam alcançado mas que, aparecida, não podia ser desperdiçada. Em muitos aspetos, foram estes quem mais lucrou.

O que então vi então e o que vejo agora levam-me a questionar muito do que se passou. Independentemente da mudança que não poderia deixar de acontecer, dos princípios democráticos que teríamos de adoptar e de atitudes que teríamos de corrigir, uma revolução nunca me parece um bom ponto de partida seja para o que for. Talvez porque, como se diz, o que torto nasce tarde ou nunca se endireita, talvez porque a confusão que gera é propícia a desmandos e a oportunismos que nada têm a ver com os direitos democráticos reclamados, talvez porque muitas motivações nem, sequer, seriam aquelas em que o “espírito” de Abril nos fez acreditar.

Ouvi falar de gavetas cheias de preciosidades das quais a censura nos não permitia desfrutar, de cabeças brilhantes que a ditadura afastou ou manteve amordaçadas, de liberdades que tornariam Portugal um país de vanguarda, de capacidade para iniciativas que nos colocariam no topo do mundo! De nenhuma destas coisas me dei conta. Infelizmente!

Depois de um período agitado em que as diversas “forças” procuraram marcar ou conquistar terreno, cada qual ao seu jeito, com onzes de Março e vinte e cincos de Novembro reais ou encenados consoante as intenções dos seus autores, seguiu-se o sonho de uma Constituição que prometia o Céu! Estive presente na sessão solene da sua aprovação e, já então, receava os vanguardismos que levaram alguns a considera-la a constituição mais evoluída do mundo, porque sempre me pareceram perigosos os passos demasiado largos.

As circunstâncias em que foi concebida e votada tornaram-na, quanto a mim, uma constituição oportunista porque os constrangimentos circunstanciais faziam de qualquer oposição à linha ideológica que a impôs, um crime de lesa-democracia! Faltou liberdade plena e algum bom senso na preparação de uma Lei que iria condicionar as nossas vidas e o nosso futuro.

Definitivamente, penso que o 25 de Abril nos apanhou impreparados para os desafios que a liberdade coloca e, por isso, nos conduziu por um caminho que não nos fez chegar ao melhor dos mundos. A prova está em tudo o que nos rodeia!

As mudanças de que necessitamos agora e que disparates levianos apressaram, não há revolução que as imponha. Ou as entedemos e aceitamos como naturais e inevitáveis ou a Natureza as imporá com a dureza que é própria da sua revolta!

Mas de uma coisa jamais posso esquecer-me: antes do 25 de Abril eu não poderia dizer o que aqui hoje deixo dito.  

segunda-feira, 23 de abril de 2012

COMEMORAR OU NÃO O 25 DE ABRIL?

Não se pede a um militar que saiba de economia, tal como a um economista se não pede para comandar um exército. Não surpreende, pois, que os “militares de Abril” considerem que, pela austeridade que as circunstâncias impuseram, o governo rompeu um trato feito com o povo e, por isso, não vão, este ano, participar nas comemorações do 25 de Abril.
Não foi especificamente dito qual o trato, mas é fácil de entender que será aquele que, interpretado como direitos perante os quais não há deveres, nos levou à tragédia que muitos de nós vivem com esta austeridade a que um excesso de gastos e de custos de “direitos conquistados” nos fez chegar.

Sofro na pele, como muitos portugueses, a dureza dos cortes na pensão que os descontos feitos pelas empresas para as quais trabalhei me deveriam garantir integralmente, do aumento de impostos e da inflação, do que não coloco a culpa nos que, bem ou mal, escolhemos para nos livrar de uma bancarrota anunciada, porque a atribuo aos que, levianamente, geriram mal o país e quase o lançaram num precipício sem fundo.

Não me admiro que Manuel Alegre siga o exemplo de quem, porventura, pense que apenas atitudes de força podem resolver os problemas, pois sei que não consegue ir além de um esquerdismo simplório que ainda não percebeu os sinais dos tempos nem entende a realidade.

Infelizmente, são muitos os que os não entendem ainda.

O mesmo ou semelhante poderia dizer de outros, mas de Mário Soares esperava mais, muito mais.

Sabe este a quem, sei lá porque, chamam o pai da democracia, que as dificuldades do país são reais e que não seria possível a continuação dos desmandos de um “socialismo” esbanjador que ele, um dia, já teve de meter na gaveta e a Guterres levou a afirmar não querer levar Portugal para um atoleiro, aquele para onde Sócrates o atirou!

Curiosamente, foram Soares e Sócrates os mais gastadores e, por isso, mais fizeram aumentar a dívida pública.

Cada um sabe o que faz e por que o faz. Será que desejam atirar o país para o caos que a recuperação exige que seja evitado?

Não digo não haja motivos para reparos na governação que temos, porque também os faço, nem que não compreendo a ansiedade de quem sofre com a austeridade, porque também a sinto. Mas acirrar os ânimos com atitudes como esta? Essa é que não!

domingo, 22 de abril de 2012

UM SIMPLES DESABAFO

Participei em muitas discussões científicas sobre assuntos que era necessário esclarecer e jamais me dei conta de tamanhas perplexidades e contradições como as que vejo agora nos economistas quanto às soluções para problemas que, em vez de se reduzirem, aumentam a cada dia que passa. Não conseguem entender-se quanto às soluções a adotar e, menos ainda, na previsão das consequências das decisões que tomam.
  
A Economia parece-me, nestes tempos, uma ciência frustrada que, depois de um caminho que parecia conduzi-la na senda da modernidade, tem de regressar às origens pelo falhanço de “receitas” que deixaram de produzir os efeitos que antes pareciam gerar. Parece que os “foguetões” que lançam, apontados à Lua, acabam por cair-lhes aos pés!

Não permite a minha formação que me embrenhe numa análise teórica em matérias que apenas de um modo racional posso abordar. Se o fizesse, logo me cairiam em cima os keynesianos, os smithianos ou outros quaisquer que me embaraçariam em quilómetros de teorias, de comparações e de argumentos impenetráveis e que não conseguiria entender por mais boa vontade que tivesse. Mas ensinou-me a vida que algo está, sempre, muito errado nas explicações complicadas, porque o verdadeiro conhecimento as torna necessariamente simples. O clássico “não é assim tão simples” nada mais consegue do que tentar disfarçar profundas lacunas de conhecimento.

Devo considerar-me um felizardo por me ter decidido por uma área do saber em que a complexidade da mente humana não é fator determinante. Ela não se rege por princípios rígidos nem se deixa traduzir por uma fórmula matemática qualquer. Além disso, a imaginação humana é tão fértil que consegue criar “irrealidades” que, porque o são, não duram eternamente, como esta “crise” ampla e definitivamente mostrou. Ao mesmo tempo que criou tigres de papel, fez aparecer, também, monstros que não consegue dominar.

Para além disso, esquecem-se as teorias económicas, nas “funções” que estabeleceram, do “domínio” da sua aplicação, dos “limites” que, num mundo finito, jamais poderão deixar de se conformar com ele.

Não creio, por tudo isto, que seja esta Economia quem vai reencaminhar o mundo na senda de outro progresso, diferente do que não conseguiu alcançar através de um impossível crescimento constante. Por isso não acredito na recuperação da economia mundial nos moldes que conhecemos, o que vai provocar muitas desilusões.

DIA MUNDIAL DA TERRA. UM GRITO PELO FUTURO!

Desde há muitos anos que pertenço ao grupo dos que se preocupam com o Planeta em que vivemos e do qual, por mais que nos esforcemos, não nos conseguimos afastar porque é a única “casa” que temos. Porém, há quem pense que este Planeta é para esgotar porque a nossa civilização prosseguirá em outros planetas.

Não é nova esta ideia da qual, cada vez mais, o bom senso e o conhecimento que temos das coisas nos recomenda o afastamento.

É por isso que devemos cuidar do nosso Planeta que não tem um vizinho que o possa socorrer em caso de necessidade, não tem uma lixeira próxima onde vezar os resíduos que produz em quantidades sucessivamente maiores, não dispõe de ar condicionado que possa ligar ou desligar para equilibrar o clima que rapidamente se altera, não tem um supermercado para o abastecer quando o que produzir não for bastante, porque serão, apenas, os seus mecanismos próprios aqueles de que o nosso mundo disporá para manter os equilíbrios indispensáveis à vida e para produzir o que possa satisfazer as suas necessidades.

É esta a verdade que a comemoração do DIA MUNDIAL DA TERRA pretende que não seja ignorada.
O dia Mundial da Terra foi, pela primeira vez, celebrado nos Estados Unidos nos anos 70 do século passado, tendo como objectivo relembrar a toda a população mundial a necessidade de cuidar da sua casa, do seu mundo do qual ninguém cuidará por si.
Ao longo das últimas décadas tratámos mal do que é nosso, conspurcámo-lo, exaurimos os recursos naturais que nos proporciona, contribuímos para uma mais rápida modificação do clima; a população mundial triplicou e, com ela, aumentou a pobreza e a fome; a produção de alimentos tornou-se insuficiente e a economia mundial entrou em colapso!
Na situação em que o mundo se enncontra, talvez nunca o Dia Mundial da Terra tenha sido tão oportuno de celebrar.
Não o celebraria eu, desta vez, com os modos brandos, seráficos e pedagógicos do costume, mas com um estridente grito de alerta para as terríveis consequências de todos os males que causamos a esta Terra que é nossa e insubstituível!
Algo tem de mudar e já não faltará muito para que isso aconteça. Apenas não sei como mudará, se pela perceção que o Homem tenha dessa inevitabilidade e, assim, pela supressão dos seus maus comportamentos, se pelas catástrofes com que a Natureza agredida responderá ao modo como ele a trata!

sábado, 21 de abril de 2012

DO OUTRO LADO DO TÚNEL

(Publicado no número de Abril do Notícias de Manteigas)

Estreito, escuro e frio, assim nos parece o longo “túnel” que somos forçados a percorrer neste momento dramático de um mundo que, a cada instante, nos surpreende.
Mais de três anos já são passados nesta confusão que uns dizem ser mais uma crise e outros entendem ser o fim de um ciclo, ainda sem perspetivas de quando, outra vez, se faça luz que não seja a que, por vezes, parece ver-se lá ao fundo.
Estou do lado dos que pensam tratar-se da fase final de um modo de viver gastador e apressado que uns quantos expedientes prolongarão ainda um pouco mais, mas após o que, inevitavelmente, as circunstâncias nos imporão outros comportamentos, mais sóbrios e mais pausados, próprios da realidade que a dependência de forças maiores nos impõe.
Foi esta mensagem que, baseado na experiência que retirei do muito que a vida já me ensinou, senti necessidade de deixar aqui, ainda que não convencido de que seja de muita ajuda para aqueles que grandes fragilidades tornarão as vítimas mais expostas à confusão de uma transição que não pode deixar de ser conflituosa, ou de que possa ser de alguma utilidade para os que mais resistência oponham ao desapego da ilusão que foi a abastança que viveram e se tornou nas preocupações que vivem.
Recordo-me de ter mostrado aqui como, numa escala de tempo mais adequada à apreciação dos macrofenómenos, degradámos o ambiente indispensável à vida em apenas um curtíssimo lapso de tempo, pondo em risco o futuro da Humanidade. Mas, também mostrei como, ao longo de uma simples vida, a população do mundo triplicou, os recursos naturais foram delapidados, alguns até quase à exaustão, milhares de espécies de seres vivos foram eliminadas, a produção de alimentos se tornou insuficiente, as toxinas a que estamos expostos cada vez mais nos invadem, contribuímos para as alterações climáticas, a fome no mundo aumentou… Enfim, problemas numerosos e muito sérios que contrariam e comprometem as perspectivas de retoma do crescimento económico pela qual o mundo espera para ultrapassar a crise em que mergulhou e fazem definhar as ilusões dos que ainda sonham poder voltar a viver a vida de excessos em que se perderam.
Cristine Lagarde, a Presidente do FMI, diz que “a economia mundial começa a dar sinais de estabilização, mas não está estabilizada”, acrescentando que “a economia mundial esteve à beira do colapso do qual dá agora mostras de se querer afastar”. Uma análise que dá conta da gravidade do momento, das incertezas que o futuro trás e das dificuldades que o mundo das finanças encontra para se recompor. Nunca uma crise foi tão severa, tão ampla e tão persistente. Alguma coisa está, pois, diferente e não aceita, para as dificuldades financeiras, as soluções do costume!
A outras dificuldades procurará responder a Ciência com novas descobertas e com o aprontamento de tecnologias como as que poderão levar à produção de carne em laboratório, à produção de energia eléctrica a partir de dejetos, à exploração de hidratos de metano para substituir o cada vez mais escasso petróleo e sei lá a mais quantas que nunca substituirão os ciclos naturais nem convencerão o Homem a reintegrar-se na Natureza como a harmonia e o equilíbrio requerem.
A Ciência continua a dar passos largos no entendimento deste nosso mundo mas, enquanto se esforça por esclarecer como o Universo se formou e investiga pormenores cada vez mais delicados da vida que conhecemos, descura a investigação do futuro, deixando que alguns cientistas isoladamente o façam e lancem alertas que os fazem os “meninos feios” que querem estragar a festa para a qual outros, os “meninos bonitos”, tanto têm contribuído. Estes ignoraram as limitações e os perigos do aproveitamento impróprio dos avanços científicos que uns desencaminham para a satisfação de objetivos não sociais e a outros encorajam a prosseguir no consumismo desenfreado porque os consideram sempre capazes de resolver todos os problemas que dele possam resultar.
Mas todos nos apercebemos já da má conta que dão de si os fautores destas trapalhadas que nos enredam. Poucos, se alguns, se entendem na explicação do que está a acontecer e, menos ainda, nas receitas para que a “economia” de novo funcione. Como melhor, conseguem uma “recuperação” de avanços e recuos que coloca toda a economia mundial numa situação de expectativa desconfiada. Apenas uma coisa vai ficando mais clara a cada dia que passa, a certeza de que gastámos muito mais do que deveríamos, apesar de a maioria da cada vez mais numerosa população humana continuar sujeita a privações que a obrigam a sacrifícios desumanos, a viver uma vida excessivamente dolorosa, a adoecer e a morrer sem alimentos e sem cuidados de que os privilegiados podem dispor.
Cada vez se torna mais clara a necessidade de uma mudança que será profunda e dificilmente acontecerá sem convulsões, tantas mais quanto maiores forem o comodismo, o egoísmo ou a insensatez com que se lhe tente resistir. Pretenderão uns poucos continuar a ser senhores do que cada vez menos a Natureza pode dar e muitos, cada vez mais, os que um dia passarão da resignação ao sofrimento para a exigência do acesso aos bens naturais que também são seus.
Contudo, acredito na capacidade do Homem para reconhecer o perigo que corre e, a tempo, se adaptar às condições que a realidade lhe impõe, voltando à terra, ao trabalho e à solidariedade, restaurando valores e sentimentos que na voragem da ambição se perderam e redescobrindo o prazer da satisfação de necessidades não materiais que ao longo de muito tempo descuidou.
***
Era eu ainda menino quando, pela primeira vez, ouvi falar do fim do mundo! Depois disso, quantas vezes li e ouvi sobre desgraças que associam certas datas ou factos a misteriosas “profecias” que alguém deixou escritas? Tantas que nem sei.
De medo em medo de tantas tragédias anunciadas, chegou o mundo ao “terror” da passagem para o milénio em que, alguns diziam, a vida não iria continuar. Mas continua e, com ela, a luta pela felicidade, a esperança num futuro melhor. Porque nem só de pão vive o Homem!

Rui de Carvalho
30 Março 2012




sexta-feira, 20 de abril de 2012

DA LETÓNIA AO NEPAL, UMA HISTÓRIA DE VINHOS…

Hoje escutei uma notícia curiosa. Duzentos mil litros de vinho português estão a caminho do Nepa.! É mesmo! Os nepaleses, os naturais daquele país perdido lá no alto dos Himalaias, vão poder deliciar-se com o bom vinho português.
Tudo acontece porque uma estudante da Letónia que veio para Portugal ao abrigo do programa Erasmus, resolveu fazer um estágio numa empresa vinícola lá para o Norte de Portugal e fez os contactos por via internet, um dos quais para um país para o qual e empresa nunca imaginaria poder exportar.
Imaginem como as coisas acontecem. Quantas empresas portuguesas exportam para o Nepal? Que sabe a maioria dos portugueses deste país estranho onde alguém recebeu a mensagem da jovem do Báltico e se decidiu a vir ver, localmente, as coisas boas que por cá temos?
Quantas histórias destas poderiam ser contadas se mais iniciativas houvesse para dar a conhecer o que temos e podemos exportar! E não são assim tão poucas.
Não teremos as enormes quantidades que outros têm, mas podemos ter a qualidade e a imaginação que eles não têm. Oh não… quem teve a imaginação foi a tal jovem que veio do Norte da Europa.
E se lhe tivessem falado dos pasteis de nata? Porventura os nepaleses se deliciariam, també, com tão saborosos bolinhos.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

AS CERTEZAS DO MINISTRO E AS MINHAS DÚVIDAS

Começo por concordar, em absoluto, com o Ministro das Finanças quando, num encontro no FMI, afirma que “as políticas expansionistas não são uma condição favorável ao crescimento”. De facto e tal como todos sabemos, foi uma imprudente política expansionista que nos colocou na situação de fragilidade em que nos encontramos. Tudo mostra que o “expansionismo” se tornou na impossibilidade de um sistema fechado, de recursos limitados e excessivamente utilizados, como acontece no nosso mundo.
Mas pode haver crescimento sem as loucuras do passado que o tentou como se poder consumir sem restrições fosse o que de melhor dele se pudesse esperar. Há crescimento para além do materialismo egoísta que exaure os cada vez mais exíguos recursos naturais e pode levar a Humanidade até uma situação de carência excessiva, de degradação ambiental irreversível e de caos incontrolado. Sadio é o crescimento que resulta do aproveitamento racional dos recursos, no respeito pelos seus ciclos naturais.
Já não concordo com o ministro quando diz que o programa de austeridade acordado com o FMI e a Comissão Europeia contém “todos os ingredientes necessários para lidar com os problemas fundamentais da economia portuguesa” porque há muito mais a fazer para além do que a Troika, como prestamista, nos impõe. E é sobretudo agora, depois de um primeiro ano de medidas de emergência, que esse "além de" terá de sentir-se que também é feito.
Menos concordo, ainda, com a afirmação de que “as medidas de austeridade não afectam os grupos mais vulneráveis da população”, porque não é verdade, a menos que considere que esses já estavam tão mal que nada lhes poderia piorar as condições de vida. O que acontecerá se, em breve, outras medidas não forem tomadas, é que o grupo dos "mais vulneráveis" se tornará excessivamente numeroso para que o país o possa resgatar.
Já poderei concordar quando diz que “no meu país, as pessoas estão completamente dispostas a sacrificar-se e a trabalhar mais para que o programa de ajustamento seja um sucesso desde que esse esforço seja repartido de forma justa”, desde que a justiça que refere o seja de facto! O que os mais recentes desenvolvimentos não confirmam...
Estamos a ultrapassar limites razoáveis quando se tomam as decisões como as que foram tomadas para a electricidade e, mais recentemente, para o gás natural.
Pensará o ministro que a capacidade de sacrifício das pessoas vai ao ponto de permitir que empresas fornecedoras de bens ou serviços essenciais continuem a poder jogar as leis do mercado enquanto a trabalhadores e a reformados estas lhes estão vedadas e são impostas as leis da austeridade? É aqui que está a questão que o ministro terá de equacionar e resolver rapidamente se não deseja que a maioria se sinta discriminada. Com as consequências que tiver.
É impossível evitar a austeridade a que a tal política desmiolada de expansionismo nos conduziu, mas as esperanças do ministro podem tornar-se pesadelo se a contenção e os sacrifícios não atingirem todos por igual.
Finalmente, fico sem quase saber o que dizer quando o ministro afirma “temos tido o cuidado de proteger os menos favorecidos e os mais vulneráveis ao definir os cortes na Segurança Social e no sistema de saúde quando aumentámos os impostos. Esse é um elemento-chave do sucesso do programa.”
Isto não basta, precisamos de sentir que TODOS participam nesta cruzada de reabilitação de Portugal. E não é isso que, depois do primeiro ano de governo a maioria sente que aconteça porque, "em política, o que parece é"!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A HORA DA VERDADE OU MAIS AUSTERIDADE?

Não tenho dúvidas de que a austeridade era inevitável depois das ruinosas gestões que Portugal teve. Aliás, a austeridade é uma duríssima inevitabilidade para quem gastou até ao cotão dos bolsos e ainda ficou empenhado.
Chegados a este ponto, há que escolher um caminho. Deixar que a austeridade se instale sem nada se fazer para a contrariar, como é próprio dos fracos, ou lutar para a ultrapassar, voltando ao tempo da cara levantada e da vida regrada, como é próprio daqueles que sabem lutar.
Passou um ano em que os portugueses, na sua maioria, souberam ter a atitude mais adequada às circunstâncias, adaptando-se a condições de vida severas, na esperança do prometido tempo melhor.
Todos fizemos as nossas contas e tomámos fôlego para aguentar os dois anunciados anos de “vacas magras”; a Troika fez-nos exames e aprovou-nos; todos tínhamos na cabeça uma contagem decrescente que, afinal, estava errada!
Os anos de maior austeridade não serão 2012 e 2013 porque serão, também, 2014 e seguintes, tantos quantos tiverem de ser...
As retenções do IRS nas pensões foram aumentadas, os combustíveis líquidos aumentam de semana a semana e, para que os gasosos se não pudessem queixar, vão ser aumentados também. E não é pouco!
Lembro-me de quando um dia, ainda menino, vi alguém com um saco em que levava uns cãezinhos acabados de nascer. Depois, meteu o saco dento de um charco de água e ali o manteve o tempo necessário para que os bichos deixassem de reclamar. Pareceu-me bárbaro. Mas explicaram-me que teve de ser assim, que foi necessário afogar alguns dos recém nascidos, porque a cadela era fraca e não poderia com tanto cachorro!
Parece-me estar na altura de ver se o governo é forte e consegue que todos voltemos a ter uma vida minimamente digna ou se alguns de nós acabarão afogados na excessiva austeridade de que um ministro das finanças prometeu que não iria aumentar mais.
Parece, pois, chagada a hora da verdade, de uma realidade diferente daquela que seja ver empresas, monopolistas ou quase, dividir chorudos lucros enquanto o povo vê reduzidos os seus proventos que, quando ainda existem, já quase não dão para o petróleo!
Chegou a hora. Como vai ser?

sexta-feira, 13 de abril de 2012

HÁ MUITO PARA REFORMAR NO ENSINO

É tempo, mais do que tempo, de corrigir os erros que certas práticas de ensino introduziram no nosso sistema escolar que, com pesar o digo, quase se tornou num albergue onde sempre alguém, fosse qual fosse a sua preparação, poderia encontrar um emprego. De raro, o professor tornou-se vulgar e contaram-se por milhares os que, em cada ano, tornavam mais numeroso um batalhão que crescia enquanto a população escolar nitidamente se reduzia.
Algumas coisas, para não dizer quase tudo, está diferente dos meus tempos de aluno. Nem tudo é agora pior, obviamente, mas há excessos comportamentais, quer de alunos que de professores, que têm de ser reajustados, bem como há um nível mínimo de qualidade que terá de ser garantido.
Não penso que deva ser restabelecido o relacionamento distante de outrora, nem reposta a quase ilimitada autoridade de que certos professores se arrogavam, porque, para além de transmitir saber, o professor deve preparar o cidadão que será o professor de amanhã, o trabalhador consciencioso, o pai, o cientista ou o governante…
Se de “pequenino se torce o pepino”, será desde os primeiros anos que o cidadão deve ser preparado e ajudado a desenvolver todas as suas capacidades naturais que, mais tarde, colocará ao serviço da sociedade. Uma tarefa em que os professores, com a sua atitude e exemplo, são essenciais.
Mas a estas questões de qualidade, outras se juntam na lista das reformas que há para empreender, como esta do redimensionamento das turmas em classes normais que, por aumentar de 28 para 30 o número máximo de alunos por turma deixou irritados certos sindicalistas que ainda não entenderam a situação do país.
Fui aluno e fui professor. Por isso, sei do que falo, o bastante para poder dizer duas coisas: em classes normais o número de 35 alunos não é excessivo e, por isso, não é razão para menor qualidade do ensino, sendo esta o que mais depende da boa ou má preparação dos professores.
Ensinar exige qualidades que, para além da uma sabedoria que permita, se necessário, ir além do que os programas determinam, torne interessante e não maçadora a matéria que é ensinada.
Muitos professores, infelizmente, fazem da dificuldade, senão mesmo confusão, da matéria que ensinam a prova da sua sabedoria, assim como do número de reprovações em cada ano, a garantia do rigor do seu trabalho! Que disparate sem sentido cujas consequências se comprovam na má preparação com que muitos jovens chegam ao ensino superior.
Do excessivo à vontade com que se relacionam com os alunos ao descuido da sua apresentação há, também, quem disso faça a prova da sua “democraticidade”, como se a democracia fosse um comportamento onde não cabe o respeito e o rigor das atitudes que o bom comportamento cívico exige. Ser professor é, também, a arte de se tornar um amigo respeitado e confiável
Para além disso, ser professor exige que se torne um exemplo que muitos não são. E por uns sofrem os outros.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

CONVENCIDOS, ESTÚPIDOS OU MASOQUISTAS?

A propósito da crise, oiço um e outro e outro e todos parecem ter razão. Cada qual dentro do que é a sua especialidade. Mas, pensando melhor, apercebo-me daquilo que cada um ignora nos parâmetros que considera e, por isso, da insuficiência das conclusões a que chega.
Não vejo é que alguém seja capaz de apresentar mais do que análises parciais ou de propor atitudes isoladas, sem se atrever a uma proposta de solução global. E até compreendo que seja assim porque ela não existe.
De tudo o que se vê ou se ouve, uma coisa ressalta evidente: a economia mundial não passa de um jogo maquiavélico que os mercados jogam sem outros objectivos que não sejam os de acumular capital, sendo as regras deste jogo as que tiverem de ser perante as circunstâncias em cada caso ou momento. Não há, pois, valores morais nem regras de conduta em que nos possamos basear para prever o que possa acontecer e, em consequência, tomar decisões ponderadas.
Não há objectivos sociais, culturais, ambientais, humanitários ou outros quaisquer nas suas preocupações. E, até mesmo, aqueles que com estes aspetos se preocupam, não conseguem encontrar soluções que não tenham de percorrer os caminhos que os mercados impõem ou, em alternativa, o recurso à caridade traduzida em ajudas humanitárias que possam suprir algumas das muitas carências permanentes de povos, de países ou, até, de continentes onde a maioria das pessoas vive na mais completa pobreza.
Nem uma nem outra destas soluções é solução porque da política dos mercados não faz parte a humanidade e das ajudas humanitárias muitos se aproveitam em desfavor daqueles a quem eram destinadas.
A completa rotura dos ciclos financeiros que vai fazendo mais e mais pobres, enquanto outros acumulam quantidades incalculáveis de dinheiro, acabará dividindo o mundo entre as finanças e tudo o mais, tendo de permeio os ditos “trabalhadores” que, afinal, se renderam ao capitalismo porque, mesmo dele dizendo mal, é dele que precisam para a vida que pretendem ter!
O egoísmo, por um lado, e a acomodação, por outro lado, não conduzirão a qualquer saída razoável para uma situação que se agrava dia a dia, aproximando-se o caos que fará tudo voltar ao princípio.
Seja pelas razões que for – não vale a pena bater mais no “ceguinho” – Portugal chegou a um ponto de rotura total, sem dinheiro para que tudo continuasse a acontecer como acontecia e, mais do que isso, sem poder garantir aos cidadãos os direitos que na Constituição colocaram na esperança de serem eternos. O caminho seria ou pedir o resgate que foi feito ou renunciar a fazer parte do mundo capitalista e resolver os seus problemas isolado e com os seus escassos meios que, diga-se também, foi deixando reduzir.
Não vejo como a segunda via seria possível, tal como não vejo que a primeira nos garanta o regresso ao nível de vida que já julgámos poder ter. Menos ainda consigo entender como se pode reclamar que o Tribunal Constitucional intervenha na reposição de direitos que a Constituição consagra e a penúria não permite manter.
Mas o pior de tudo é que o mal não é apenas de Portugal. Tampouco o é da Grécia, da Irlanda, daqui ou dali, porque, qualquer análise física, por isso concreta, nos mostra a insuficiência dos recursos mundiais para satisfazer os propósitos de crescimento contínuo do capitalismo consumista onde acaba por haver mais dinheiro do que bens que possa comprar. Nas mãos de apenas alguns, claro está.
Ainda há quem julgue que o destino do Homem será expandir-se para outros planetas, assim ultrapassando as limitações que este já lhe impõe, sem se darem conta de que a solução urgente de problemas sérios de hoje não pode esperar por hipotéticas soluções de amanhã.
A situação é uma realidade que se pode comparar a alguém que cresceu demais e que, para caber na cama, tem de dormir todo encolhidinho! Se é que o consegue.
Francamente, não espero que o mundo das finanças alguma vez reconheça que deve abandonar um caminho que o levará ao descalabro, tal como, apesar de reconhecer os perigos da degradação ambiental e das alterações climáticas para que fortemente contribui, o mundo não é capaz de tomar as atitudes que se impõem para o evitar, mesmo sabendo as contrariedades que lhe vai causar.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

FOI UMA FESTA!


No mínimo, achei curiosa a forma como a ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, defendeu a “Parque Escolar” que, como se sabe, o Tribunal de Contas acusa de ter cometido excessos que comprometeram o prosseguimento da reparação e modernização de escolas.
Os gastos foram demasiados, o que resulta de soluções adotadas, de materiais utilizados, de equipamentos instalados, os quais ultrapassarão, em qualidade e preço, os que seriam razoáveis.
O orçamento teve, por isso, uma derrapagem enorme que Maria de Lurdes Rodrigues nega que tenha tido porque o que se fez foi uma festa para os construtores, para os arquitectos, para os engenheiros… que fizeram escolas modernas e que vão durar muito tempo!
A comunicação social tem trazido ao nosso conhecimento alguns casos que ilustram bem os excessos cometidos e que a ex-ministra não pode, de todo, negar. Por isso, apenas poderá confirmar e justificar com a festa que foi. INEXPLICÁVEL!
É a altura de eu lembrar a minha escola naqueles anos da década de 40 do século passado. Era um edifício sóbrio, robusto e bem construído. Tanto que ainda hoje, depois de uns acrescentos e manutenções inevitáveis, existe e serve muito bem como escola!
Mas aqueles tempos eram para gente dura, para quem a vida não era adoçada por fantasias próprias de festas que, estou certo (e como engenheiro que sou, posso dize-lo) não farão com que as escolas durem mais. Tampouco os materiais caros resistirão melhor às irreverências de jovens que, talvez, nem deles se dão conta.
A minha escola não ensinava, apenas, os números e as letras. Era uma escola de vida, também. Ninguém ali era discriminado porque todos sofríamos, por igual, a dureza de um clima que, no Inverno, tornava muito doloroso escrever, tão frias estavam as mãos. Era assim na maior parte dos lares daquela Vila serrana e pior ainda lá no alto da Serra onde os pastores tratavam do gado e nos campos onde os agricultores, nas pequenas leiras dos socalcos da serra, amanhavam terras pobres mas das quais tinham de arrancar o que davam de comer às suas famílias.
É natural e está certo que hoje as escolas tenham comodidades que as de então não teriam, como o aquecimento que evite as dores e o desconforto que o frio nos impunha. Mas até nisso se irá para além do razoável.
Revisitei a minha escola há pouco mais de um ano e, a menos os acrescentos introduzidos, tudo me pareceu igual. A sobriedade e a robustez eram as mesmas.
Foi ali que, sem festa, aprendi muito do que ainda sei.

terça-feira, 10 de abril de 2012

DEITEI-ME COM A TRISTEZA…

Todos, alguma vez, já tivemos daqueles dias em que, mesmo sem razão aparente, acordamos a sorrir e a felicidade está por todo o lado. Cantamos ópera no duche, vestimo-nos a assobiar, e na rua, a cantarolar, dizemos a toda a gente: bom dia, tenha um bom dia!
E não entendemos muito bem como alguns continuam carrancudos como se levassem o mundo às costas.
No café, aquele de todos os dias, todos são nossos amigos e apetece gritar: uma rodada por minha conta!
Pois é, há dias assim.
Outros dias há, porém, em que amanhecemos cinzentões, tanto que nem o sol mais radioso nos consegue iluminar. Tudo nos parece negro e nada vai correr bem. À mente acodem-nos coisas, as mais tristes que já vivemos. É a dor por todo o lado, é o fado que nos pega no lado frio da vida. Parece que sentimos prazer no sofrimento…
Envolvem-nos sensações de dramas nunca vividos. Ou será que, mesmo sem o saber, já os vivemos algum dia?

Fui deitar-me com a tristeza,
Torpe, vadia, cruel,
Na cama que abandonaste,
Desfeita e fria deixaste,
Com amargo sabor a fel,
Nem o perfume ficou,
Desse corpo que foi meu,
Saudades tantas deixou,
Num coração ainda teu.
Destroçado, ficou só
Neste ninho abandonado,
Triste, vazio, gelado...
Sem sussurros de desejos,
Sem beijos
E sem calor…
Sem os corpos bem marcados,
Nos lençóis amarrotados
Por uma noite de amor…
Deitei-me com a tristeza,
Levantei-me com a dor!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A CONFUSÃO CASA PIA

Há quanto tempo se sabia que meninos da Casa Pia andariam ali pelo Parque Eduardo VII e, à boca pequena, se falava de certas individualidades que os procurariam? Há quantos anos um professor daquela instituição clamava contra o que se passava e denunciava situações graves e impróprias de uma instituição estatal? Há quanto tempo os responsáveis governativos disporiam de informações a que não prestaram a devida atenção?
Foi necessário que, um dia, o chamado jornalismo de investigação denunciasse a questão para que todos arrebitassem as orelhas! Isto faz-me crer que o princípio bem pode ser que enquanto a opinião pública o não tiver de saber, melhor será que o não saiba.
Então todos acordaram e saltaram de todos os lados os defensores das vítimas, aos quais apetece perguntar: por onde andaram? O que andaram a fazer?
Quanto às responsabilidades do Estado, quem as reclamou? O Estado é ou não responsável pelo que se passa numa sua instituição à guarda da qual se encontravam as vítimas dos abusos denunciados? Não é possível deixar de reconhecer que o é, tanto como qualquer dos responsáveis pelo que se tenha passado. Mas qual tribunal o vai julgar?
Depois, foi o terrível espectáculo de um julgamento que não pode deixar de extravasar as paredes da sala de audiências e, através de uma cobertura total do que ali se passava, fez de todos nós um público atento que, por vezes, tinha muita dificuldade em compreender o que se passava.
Passaram-se coisas quase inexplicáveis e muitos temos, ainda, sérias dúvidas quanto a decisões tomadas sobre a forma como alguns indiciados foram deixados à margem de uma investigação mais profunda, à conta de estranhas razões difíceis de aceitar.
Para “compor o ramo”, aparecem “vítimas” a afirmar que disseram mentiras pagas por dinheiro e drogas!
Para além de coisas mal explicadas, há agora uma questão de credibilidade de testemunhas que nos pode levar a questionar o que, afinal, se passou.
Não me parece que alguma vez esta questão venha a ter um desfecho que possa deixar em paz as consciências e sempre deixará no ar a pergunta: quem foi mais culpado, os “porcos” que, eventualmente, tenham abusado de rapazinhos, os que se aproveitaram deles em negócios ilícitos ou os “cínicos” que permitiram que tal acontecesse?

O SUPER MINISTÉRIO DE ASSUNÇÃO CRISTAS

Este governo tem uma ministra que gere as pastas da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território! Grande mulher esta que, pelos vistos, é capaz de fazer o que nem o Super-Homem seria.
Somos demasiadamente dependentes de bens alimentares porque nem um terço do que comemos nós produzimos. É certo que, pelas suas características territoriais, Portugal não é um país agrícola. Mas pode produzir muito mais do que produz porque já o produziu.
Não seremos o grande produtor de cereais que julgámos poder ser no Alentejo e, nem sequer, poderemos ser grandes produtores de muita coisa. Porém, ainda temos um clima que nos permite produzir tanto que no Resto da Europa se não produz e em épocas que nos permitem sermos bem sucedidos nas “primícias” agrícolas e em outras coisas de que até já somos exportadores mas que teríamos de produzir ainda muito mais. Sei muito pouco de agricultura, mas sinto que está a faltar um trabalho de fundo para que se aproveitem todas as potencialidades agrícolas do país e, mais do que isso, se atenda ás necessidades alimentares dos portugueses.
Quanto ao Mar, Portugal tem, apenas, a maior Zona Económica Exclusiva da Europa, com uma área de mais de 1.700.000 Km2! A importância do Mar é enorme porque nele se situam recursos incalculáveis, importantes para o futuro do mundo. O estudo e o aproveitamento de tais recursos exigem um trabalho enorme de pesquiza que não vejo que esteja a ser feito. Permitirá a Comunidade Internacional o “abandono” de tal riqueza?
Sobre o Ambiente será necessário dizer mais do que referir a sua importância para a vida? Alguma coisa, até bastante, se fez nas últimas décadas em Portugal, num grande esforço que, porém, não esgotou tudo o que há para fazer. Não poderemos descansar neste domínio de tamanha importância. Além de que exige conhecimentos científicos e técnicos alargados e pouco abundantes.
Finalmente o Ordenamento do Território, uma tarefa sempre adiada e mal compreendida neste país desequilibrado! Por ela se ficarão a conhecer “os cantos da casa” e tudo quanto neles possa haver, para depois limpar, decidir como arrumar e como aproveitar tudo aquilo de que se dispõe.
Esta será a diferença entre a vida e a morte de um país que é o mais antigo da Europa!
Será possível sair da crise com um superministério destes? Eu creio que, para coisas tão importantes e decisivas nestas áreas, seriam preferíveis quatro superministros!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

AS EX-SCUT E O FUTURO DO ZÉ

Ainda não tinha viajado numa ex-SCUT desde que foram introduzidas portagens.
Desta vez percorri cerca de um terço da A1 e a maior parte da A23 numa ida e volta à Serra da Estrela que, mesmo sem ainda ter feito as contas, só de portagens foi bem dispendiosa.
Na A23 ouvi soar dezenas de apitos no aparelho da Via Rápida que corresponderam, talvez, a 1,25 euro por apito! Nesta via, os custos para o utilizador passaram de nulos a muito elevados.
Dei-me conta de bastante menos tráfego na A1 e de pouquíssimo na A23. Nesta, cruzei-me com poucas viaturas e nem uma só vez fui ultrapassado, apesar de ser daqueles condutores que pouco ultrapassam as velocidades máximas. Quero dizer que, quando reparo que as ultrapassei, me apresso a retomar a velocidade consentida. Antes era bem diferente. Era ultrapassado por centenas de viaturas ao longo do percurso que fiz.
Dei comigo a pensar qual seria a necessidade de uma via assim para tão reduzida utilização.
Para quem não vai fazer turismo de estrada, havia vantagem na utilização de auto-estradas onde, para além de mais segurança, se poderá fazer uma marcha mais adequada e gastar menos combustível. Porém, com as elevadas portagens que são cobradas, não haverá vantagem que resista e que leve os condutores a preferi-las. Aliás, também o custo crescente dos combustíveis se tornou numa razão para que se evite utilizar viatura própria. São duas ordens de razões para esta redução drástica de tráfego nas auto-estradas que se nota, também, no número de viaturas nas áreas de serviço que quase encontrei “às moscas”.
Não será possível ao Estado, deste modo, evitar enormes prejuízos que se somam aos que os contratos feitos nas PPP já acarretavam e eram proibitivos.
Custa-me a compreender como, perante esta evidente redução de tráfego até valores que fazem as auto-estradas parecer desertas, se não estudam e fixam as portagens numa perspectiva de benefícios mútuos, para o utilizador e para o Estado. Mas, pensando bem, nem sei se haveria resposta para tal intenção quando a tendência é para que cada vez mais se torne proibitivo o uso do automóvel, um luxo a que nos podíamos dar no tempo das SCUT e da gasolina a pataco…
Numa economia em que os automóveis, pelos impostos que geram quer na sua comercialização quer na venda de combustíveis e, também, pelos postos de trabalho que geram tanto no circuito comercial como no da reparação e da manutenção, são um dos pilares, esta redução deve ser tomada como uma chamada de atenção para um futuro que, tudo o faz crer, será bem diferente e, por isso, pensado de outro modo.
O automóvel é de importância fundamental neste tipo de economia actual que, como muita gente já nem duvida, tens os seus dias contados. Geram impostos elevadíssimos, criam numerosíssimos postos de trabalho tanto no circuito comercial como no da reparação e da manutenção, são a razão de numerosas obras de construção e manutenção de vias de circulação, entre outras razões que os tornam num dos factores mais importantes.
Estará a economia preparada para este novo e inevitável comportamento das pessoas perante os custos que o automóvel acarreta?
Por fim, apetece-me perguntar: quem vai pagar as PPP rodoviárias que estas razões tornam cada vez menos utilizadas? Se cada vez menos será o utilizador... será o Zé!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

QUESTÕES DE CREDIBILIDADE

Foi um dia negro para o governo e para todos nós que esperávamos, depois de um governo que nos arruinou, um outro que nos salvasse.
Ninguém poderia esperar, pela situação de quase bancarrota criada, que a salvação fosse fácil ou sem dor, nem que o governo fosse fraco perante a necessidade de atitudes que exigissem determinação. Todas foram compreensíveis e nem as críticas dos partidos para os quais há alternativas que não dizem quais nem as do Partido Socialista ao qual, por óbvias razões, mais competiria cooperar com o governo do que o confrontar, foram capazes de por em causa a credibilidade de um governo que mostrava capacidade para recuperar a credibilidade do país. Mas foi o próprio governo quem o fez! Desacreditou-se a si próprio numa entrevista infeliz do seu Primeiro Ministro a quem uma defesa patética do Ministro das Finanças, na Assembleia da República, ainda mais desacreditou.
Depois de uma ou outra gafe de somenos importância que a inexperiência lhe não permitiu evitar, Passos Coelho cometeu um erro fatal que pode ter comprometido a confiança de que todos temos necessidade para suportar as duras medidas de austeridade.
Era claro que todos esperávamos que não fosse além de 2013 o golpe nos rendimentos que, sobretudo no caso dos reformados, não há como compensar! E não podiam, quer o Primeiro Ministro quer o Ministro das Finanças, deixar de ter conhecimento desta esperança que nos ajudava a aguentar. Todos diziam que seria assim e até houve ministros que, claramente, o afirmaram sem que o Primeiro Ministro ou o Ministro das Finanças os desmentissem.
É um duro golpe este de nos ser dado conhecimento de que não só o corte vai durar mais um ano, 2014, como, ainda por cima, não vai terminar em seguida. Os subsídios, assim erradamente chamados porque fazem parte da remuneração pelo trabalho prestado, serão repostos gradualmente…
Não considero isto uma gafe, mas um estilo de fazer as coisas que me não agrada!
Creio ter sido um rude golpe para nós e para este governo e, francamente, temo as consequências.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

DESCUIDO, CONFUSÃO, INCOMPETÊNCIA OU TRAIÇÃO?

Não me parece que uma entrevista de rádio, a que rádio for, fosse o modo como Passos Coelho deveria tratar de um assunto tão sensível e importante para muitos portugueses como é a reposição dos subsídios que retirou a funcionários públicos e a reformados. O que ouvi, onde “repor” e “devolver” foram palavras confusas porque, ainda que tendo significados diferentes, foram indistintamente utlizadas, não pode deixar sossegado ninguém e pode ser, até, motivo de grande indignação porque, o que o Primeiro Ministro pareceu dizer, não pode deixar de ser tomado como uma traição a quem confiou no que antes lhe fora dito.
A retirada temporária dos subsídios pode aceitar-se como uma medida de efeitos rápidos em situação de emergência, ao longo dos anos 2012 e 2013 como sempre foi dito, enquanto as medidas estruturais não tinham, ainda, tempo de produzir os seus efeitos. Agora parece que 2014 será, também, ano de privação e, depois disso, a situação não será regularizada de imediato.
Não me pareceu que o Primeiro Ministro tivesse explicado bem tudo isto e, sobretudo, não esclareceu porque o disse e porque escolheu uma entrevista de rádio para o dizer.
É confusão a mais, explicações a menos e razão para que lhe seja feita a pergunta: se tudo estava a correr tão bem, o que se alterou para vir agora com a desculpa, nada credível, de que a “intervenção” em Portugal ainda se prolonga por 2014, porque, a quando da suspensão dos pagamentos dos malfadados subsídios, foi o governo claro ao dizer que seria durante os dois anos referidos?
Não pode esquecer o Primeiro Ministro que esses subsídios fazem parte da retribuição de prestação de trabalho pelos atingidos pelos cortes e, em particular no caso dos reformados da actividade privada, resulta de dinheiro que as empresas entregaram ao Governo para o devolver sob a forma de reformas àqueles de cujos ordenados foi retirado!
Vitor Gaspar dissera que não via razões para aumentar ou prolongar a austeridade imposta aos portugueses e nada fazia crer que Passos Coelho dissesse, agora, o que disse. Ou será que não foi bem isso o que disse ou quis dizer?
A menos que uma explicação cabal e plausível seja dada para esta alteração e que significará, por certo, que o governo não foi capaz de levar a cabo a tarefa a que se propôs e nas condições em que garantiu que estaria a consegui-lo, sinto que muitos portugueses perderão a confiança num Primeiro Ministro que, até aqui, parecia merecê-la.

domingo, 1 de abril de 2012

A REFORMA ADMINISTRATIVA

É pena que em Portugal se não consiga fazer uma reforma administrativa com jeito!
Nesta altura, reclamam os autarcas contra a redução do número de freguesias no país, o que me leva a pensar que qualquer dia tenham de reclamar, de novo, porque não quererão ver reduzido o número de municípios.
Ninguém parece entender-se quanto ao modo de fazer e, muito menos, quanto à razão de ser desta decisão cuja bondade ainda ninguém demonstrou. Aliás, não parece que a redução de Freguesias seja uma medida razoável de contenção de despesas que a situação do país imponha, tanto pelos reduzidos custos que eliminará como pelos relevantes serviços de proximidade que serão deixados de prestar.
Vem de longe este mal que a actual divisão administrativa bem espelha e que, sem qualquer sentido, ainda é a que vigora. Para além dos Concelhos e das Freguesias que séculos de História já consagram, a divisão do país em Províncias e em Distritos que, administrativamente, não servem para coisa alguma, deveria ser motivo de análise e de um aprofundado estudo que conduzisse à “regionalização administrativa” que a Constitução prevê mas que, ao contrário de outros preceitos constitucionais, ninguém reclama.
Penso que em Portugal, onde fortes desequilíbrios regionais são evidentes e a desertificação do interior se acentua, seria favorável a existência de um nível autárquico regional com espaços definidos em função do reequilíbrio de factores sociais e económicos que permitissem um adequado aproveitamento dos recursos naturais do país.
Não será uma medida que, aparentemente, se conforme com as medidas de austeridade que a situação financeira do país impõe, mas seria uma atitude positiva nas reformas estruturais de que Portugal, urgentemente, necessita.
É a diferença entre economia e finanças de que poucos se dão conta. Deixar de gastar um euro será poupança ou desperdício conforme o que, em troca, se obtenha.
Numa regionalização bem realizada, os custos seriam irrisórios em face dos benefícios que, por ela, se alcançariam, sobretudo pela valorização dos mais importantes recursos que Portugal sempre mostrou possuir, os humanos.