É óbvio que não vou corresponder ao pedido que me foi feito para adesão a uma causa cujo propósito me não alicia. Mas a pergunta fez-me pensar. Que "25 de Abril" seria adequado aos tempos indesejáveis que vivemos? Igual ao anterior? Tenho a certeza de que não.
Não poderíamos ter continuado no isolamento político em que antes nos encontrávamos nem numa política de colonialismo disfarçado que não conseguiu encontrar soluções, mas uma revolução também me não parece que tenha sido a melhor forma de evoluirmos para um modo de viver definitivamente melhor!
Tenho razões para pensar que, afinal e para os bem intencionados, o 25 de Abril foi um grito de revolta para por fim a uma situação insustentável. Para outros terá sido a oportunidade que por mérito nunca teriam alcançado mas que, aparecida, não podia ser desperdiçada. Em muitos aspetos, foram estes quem mais lucrou.
O que então vi então e o que vejo agora levam-me a questionar muito do que se passou. Independentemente da mudança que não poderia deixar de acontecer, dos princípios democráticos que teríamos de adoptar e de atitudes que teríamos de corrigir, uma revolução nunca me parece um bom ponto de partida seja para o que for. Talvez porque, como se diz, o que torto nasce tarde ou nunca se endireita, talvez porque a confusão que gera é propícia a desmandos e a oportunismos que nada têm a ver com os direitos democráticos reclamados, talvez porque muitas motivações nem, sequer, seriam aquelas em que o “espírito” de Abril nos fez acreditar.
Ouvi falar de gavetas cheias de preciosidades das quais a censura nos não permitia desfrutar, de cabeças brilhantes que a ditadura afastou ou manteve amordaçadas, de liberdades que tornariam Portugal um país de vanguarda, de capacidade para iniciativas que nos colocariam no topo do mundo! De nenhuma destas coisas me dei conta. Infelizmente!
Depois de um período agitado em que as diversas “forças” procuraram marcar ou conquistar terreno, cada qual ao seu jeito, com onzes de Março e vinte e cincos de Novembro reais ou encenados consoante as intenções dos seus autores, seguiu-se o sonho de uma Constituição que prometia o Céu! Estive presente na sessão solene da sua aprovação e, já então, receava os vanguardismos que levaram alguns a considera-la a constituição mais evoluída do mundo, porque sempre me pareceram perigosos os passos demasiado largos.
As circunstâncias em que foi concebida e votada tornaram-na, quanto a mim, uma constituição oportunista porque os constrangimentos circunstanciais faziam de qualquer oposição à linha ideológica que a impôs, um crime de lesa-democracia! Faltou liberdade plena e algum bom senso na preparação de uma Lei que iria condicionar as nossas vidas e o nosso futuro.
Definitivamente, penso que o 25 de Abril nos apanhou impreparados para os desafios que a liberdade coloca e, por isso, nos conduziu por um caminho que não nos fez chegar ao melhor dos mundos. A prova está em tudo o que nos rodeia!
As mudanças de que necessitamos agora e que disparates levianos apressaram, não há revolução que as imponha. Ou as entedemos e aceitamos como naturais e inevitáveis ou a Natureza as imporá com a dureza que é própria da sua revolta!
Mas de uma coisa jamais posso esquecer-me: antes do 25 de Abril eu não poderia dizer o que aqui hoje deixo dito.
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