ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 19 de abril de 2012

AS CERTEZAS DO MINISTRO E AS MINHAS DÚVIDAS

Começo por concordar, em absoluto, com o Ministro das Finanças quando, num encontro no FMI, afirma que “as políticas expansionistas não são uma condição favorável ao crescimento”. De facto e tal como todos sabemos, foi uma imprudente política expansionista que nos colocou na situação de fragilidade em que nos encontramos. Tudo mostra que o “expansionismo” se tornou na impossibilidade de um sistema fechado, de recursos limitados e excessivamente utilizados, como acontece no nosso mundo.
Mas pode haver crescimento sem as loucuras do passado que o tentou como se poder consumir sem restrições fosse o que de melhor dele se pudesse esperar. Há crescimento para além do materialismo egoísta que exaure os cada vez mais exíguos recursos naturais e pode levar a Humanidade até uma situação de carência excessiva, de degradação ambiental irreversível e de caos incontrolado. Sadio é o crescimento que resulta do aproveitamento racional dos recursos, no respeito pelos seus ciclos naturais.
Já não concordo com o ministro quando diz que o programa de austeridade acordado com o FMI e a Comissão Europeia contém “todos os ingredientes necessários para lidar com os problemas fundamentais da economia portuguesa” porque há muito mais a fazer para além do que a Troika, como prestamista, nos impõe. E é sobretudo agora, depois de um primeiro ano de medidas de emergência, que esse "além de" terá de sentir-se que também é feito.
Menos concordo, ainda, com a afirmação de que “as medidas de austeridade não afectam os grupos mais vulneráveis da população”, porque não é verdade, a menos que considere que esses já estavam tão mal que nada lhes poderia piorar as condições de vida. O que acontecerá se, em breve, outras medidas não forem tomadas, é que o grupo dos "mais vulneráveis" se tornará excessivamente numeroso para que o país o possa resgatar.
Já poderei concordar quando diz que “no meu país, as pessoas estão completamente dispostas a sacrificar-se e a trabalhar mais para que o programa de ajustamento seja um sucesso desde que esse esforço seja repartido de forma justa”, desde que a justiça que refere o seja de facto! O que os mais recentes desenvolvimentos não confirmam...
Estamos a ultrapassar limites razoáveis quando se tomam as decisões como as que foram tomadas para a electricidade e, mais recentemente, para o gás natural.
Pensará o ministro que a capacidade de sacrifício das pessoas vai ao ponto de permitir que empresas fornecedoras de bens ou serviços essenciais continuem a poder jogar as leis do mercado enquanto a trabalhadores e a reformados estas lhes estão vedadas e são impostas as leis da austeridade? É aqui que está a questão que o ministro terá de equacionar e resolver rapidamente se não deseja que a maioria se sinta discriminada. Com as consequências que tiver.
É impossível evitar a austeridade a que a tal política desmiolada de expansionismo nos conduziu, mas as esperanças do ministro podem tornar-se pesadelo se a contenção e os sacrifícios não atingirem todos por igual.
Finalmente, fico sem quase saber o que dizer quando o ministro afirma “temos tido o cuidado de proteger os menos favorecidos e os mais vulneráveis ao definir os cortes na Segurança Social e no sistema de saúde quando aumentámos os impostos. Esse é um elemento-chave do sucesso do programa.”
Isto não basta, precisamos de sentir que TODOS participam nesta cruzada de reabilitação de Portugal. E não é isso que, depois do primeiro ano de governo a maioria sente que aconteça porque, "em política, o que parece é"!

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