ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 12 de abril de 2012

CONVENCIDOS, ESTÚPIDOS OU MASOQUISTAS?

A propósito da crise, oiço um e outro e outro e todos parecem ter razão. Cada qual dentro do que é a sua especialidade. Mas, pensando melhor, apercebo-me daquilo que cada um ignora nos parâmetros que considera e, por isso, da insuficiência das conclusões a que chega.
Não vejo é que alguém seja capaz de apresentar mais do que análises parciais ou de propor atitudes isoladas, sem se atrever a uma proposta de solução global. E até compreendo que seja assim porque ela não existe.
De tudo o que se vê ou se ouve, uma coisa ressalta evidente: a economia mundial não passa de um jogo maquiavélico que os mercados jogam sem outros objectivos que não sejam os de acumular capital, sendo as regras deste jogo as que tiverem de ser perante as circunstâncias em cada caso ou momento. Não há, pois, valores morais nem regras de conduta em que nos possamos basear para prever o que possa acontecer e, em consequência, tomar decisões ponderadas.
Não há objectivos sociais, culturais, ambientais, humanitários ou outros quaisquer nas suas preocupações. E, até mesmo, aqueles que com estes aspetos se preocupam, não conseguem encontrar soluções que não tenham de percorrer os caminhos que os mercados impõem ou, em alternativa, o recurso à caridade traduzida em ajudas humanitárias que possam suprir algumas das muitas carências permanentes de povos, de países ou, até, de continentes onde a maioria das pessoas vive na mais completa pobreza.
Nem uma nem outra destas soluções é solução porque da política dos mercados não faz parte a humanidade e das ajudas humanitárias muitos se aproveitam em desfavor daqueles a quem eram destinadas.
A completa rotura dos ciclos financeiros que vai fazendo mais e mais pobres, enquanto outros acumulam quantidades incalculáveis de dinheiro, acabará dividindo o mundo entre as finanças e tudo o mais, tendo de permeio os ditos “trabalhadores” que, afinal, se renderam ao capitalismo porque, mesmo dele dizendo mal, é dele que precisam para a vida que pretendem ter!
O egoísmo, por um lado, e a acomodação, por outro lado, não conduzirão a qualquer saída razoável para uma situação que se agrava dia a dia, aproximando-se o caos que fará tudo voltar ao princípio.
Seja pelas razões que for – não vale a pena bater mais no “ceguinho” – Portugal chegou a um ponto de rotura total, sem dinheiro para que tudo continuasse a acontecer como acontecia e, mais do que isso, sem poder garantir aos cidadãos os direitos que na Constituição colocaram na esperança de serem eternos. O caminho seria ou pedir o resgate que foi feito ou renunciar a fazer parte do mundo capitalista e resolver os seus problemas isolado e com os seus escassos meios que, diga-se também, foi deixando reduzir.
Não vejo como a segunda via seria possível, tal como não vejo que a primeira nos garanta o regresso ao nível de vida que já julgámos poder ter. Menos ainda consigo entender como se pode reclamar que o Tribunal Constitucional intervenha na reposição de direitos que a Constituição consagra e a penúria não permite manter.
Mas o pior de tudo é que o mal não é apenas de Portugal. Tampouco o é da Grécia, da Irlanda, daqui ou dali, porque, qualquer análise física, por isso concreta, nos mostra a insuficiência dos recursos mundiais para satisfazer os propósitos de crescimento contínuo do capitalismo consumista onde acaba por haver mais dinheiro do que bens que possa comprar. Nas mãos de apenas alguns, claro está.
Ainda há quem julgue que o destino do Homem será expandir-se para outros planetas, assim ultrapassando as limitações que este já lhe impõe, sem se darem conta de que a solução urgente de problemas sérios de hoje não pode esperar por hipotéticas soluções de amanhã.
A situação é uma realidade que se pode comparar a alguém que cresceu demais e que, para caber na cama, tem de dormir todo encolhidinho! Se é que o consegue.
Francamente, não espero que o mundo das finanças alguma vez reconheça que deve abandonar um caminho que o levará ao descalabro, tal como, apesar de reconhecer os perigos da degradação ambiental e das alterações climáticas para que fortemente contribui, o mundo não é capaz de tomar as atitudes que se impõem para o evitar, mesmo sabendo as contrariedades que lhe vai causar.

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