(Fotografia de Notícias ao Minuto)
Agora
que mais de cem milhares de hectares de mata estão desfeitos em cinza,
muitos milhões de euros é o valor dos bens destruídos e pessoas morreram, ficaram
feridas ou afectadas pelos horrores que viveram, quando metade de toda a área
ardida na União Europeia se situa em Portugal, não será demais pensar que nada
poderá, no futuro, ser como dantes.
Muito
terá de mudar para criar as condições de segurança mínima que numa sociedade
evoluída são exigidas.
É
de ciência certa que a grande maioria dos incêndios resultam de actos pirómanos,
na sua maioria isolados, o que, para além dos que são causados por actos
descuidados ou irresponsáveis, deixam uma muito pequena percentagem para os
incêndios de origem natural. O que facilmente se aceita dadas as condições em que a combustão expontânea pode acontecer.
São
oportunas as conclusões de Filipa Jardim da Silva, Psicóloga da Oficina de
Psicologia, sobre as características dos ateadores de incêndios que, diz, “têm uma perturbação de controlo de impulsos,
que sofre de depressão, têm algum
atraso mental ou dependência de álcool. Alguém pouco enraizado na sua
comunidade, que está sozinho, com uma vida precária e que, de alguma forma,
desenvolve este fascínio pelo fogo como fonte de prazeres na vida”.
Além
disso, chama a atenção para o papel das redes sociais da internet que “para além de darem esse mediatismo mais
rápido e acessível, também acabam por ser um canal privilegiado de informação.
Hoje em dia, não só nas redes sociais como na internet, conseguimos aprender a
atear um incêndio de forma eficaz” (Notícias ao Minuto).
Para
além do ordenamento territorial indispensável ao desenvolvimento e ao qual em
outra ocasião me referi, há aspectos sociais, políticos, judiciais e
educacionais que têm de ser enfrentados e decididos.
A
sociedade não poderá apenas queixar-se dos danos sofridos pelas calamidades
acontecidas. Terá de prestar atenção ao que nela se passa, procurando minimizar
as circunstâncias que dão azo a que os incêndios florestais aconteçam.
Politicamente,
há decisões da maior importância a tomar, incluindo a destruição das redes de
interesses que sempre se criam nestas circunstâncias e transformam as desgraças
que aconteçam em oportunidades de negócio, aproveitando, racionalizando e
potenciando meios e organizações estatais existentes.
Por
sua vez, a Justiça não poderá continuar a julgar os actos pirómanos como crimes
menores, sejam quais forem os seus autores porque, pelas suas consequências,
reais ou potenciais, o não são. Que se ajustem as leis e os procedimentos
jurídicos à gravidade das consequências dos incêndios florestais que, neste
início da época de 2016, atingiu já proporções excessivas, é uma atitude da
maior urgência que, há muito, a Assembleia da República, deveria ter encarado.
Às
famílias e à Escola cabem responsabilidades que, se descuidadas, tornam a
sociedade desorganizada e permissiva.
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