ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O CRESCIMENTO EXTRAVASOU O SEU DOMÍNIO?


Qualquer economista dirá que que o “crescimento” depende, essencialmente, da eficiência com que se transformam os recursos em capital.
Qualquer matemático dirá que cada função tem um “domínio” fora do qual não existe.
Mas os economistas não definem o “domínio” da “função crescimento”, o que faz crer que lhe atribuem o mais amplo, de menos a mais infinito, da recessão mais profunda ao crescimento ilimitado que a eficiência possa proporcionar.
A eficiência tem crescido muito com a formação e com o desenvolvimento tecnológico, o que fez aumentar a produção de forma quase exponencial até que, por excesso de oferta, por falta de condições de aquisição ou por escassez de recursos naturais, a “crise” se torna inevitável.
Obviamente, alguma coisa está errada em tal função. Não o conceito básico em si mesmo, mas o tal domínio que os economistas não previram.
Foi possível, em muitas das crises, resolver a questão alargando o mercado, emitindo mais moeda ou ampliando a pesquisa e a exploração de matérias primas.
Parecerá que, com uma população tão crescente que ainda aumenta a um ritmo exponencial, o mercado tem muito por onde crescer. A tecnologia parece não parar de se desenvolver e nada parece impedir a crescente emissão de moeda que gera poder de compra e capacidade de investimento o que, quando se não faz, origina crises de dívida como a europeia! Mas o que parece não crescer nem disso dar sinais, muito pelo contrário, são os recursos naturais, incluindo os alimentos, que a eficiência transforma em capital, cuja escassez a economia não considera na sua “função crescimento” mas que os limites físicos deste nosso mundo nos obrigam a reconhecer.
A questão da capacidade de suporte do Planeta volta agora a colocar-se com toda a razão de ser, algumas dezenas de anos depois dos primeiros avisos sérios de cientistas que fizeram estudos e projecções que alarmaram o mundo. O capitalismo, descontrolado, apressou-se a refutar os “limites do crescimento” que o Clube de Roma publicou. Houve, mesmo, outros “cientistas” que, para o satisfazer, criaram teorias que a realidade se encarregou de desmentir. Pelo contrário, a realidade dá por certa a teoria que considera a capacidade finita do Planeta, mostrando, os mais recentes estudos, que existe uma razoável proximidade entre as previsões há muito feitas e as reservas existentes, o que, mesmo assim, não parece convencer os economistas da razão de ser do falhanço dos seus esforços e das suas previsões.
Quando estarão os economistas dispostos a alargar a reduzida visão que têm de uma realidade que não comandam e, finalmente, adaptam as suas “funções” matemáticas à realidade que têm a pretensão de, com elas, representar?

A DESCONTINUIDADE NA HISTÓRIA DO SPORTING


Ao longo do ano, aquele em que o Sporting completou um século de existência, eu e o meu filho Bruno resolvemos criar um site de homenagem ao Clube do nosso coração. Corria o ano 2005. Então, os blogues eram raros e o face book não existia.
A iniciativa foi apresentada ao Sporting como uma forma de colaboração na festa que o Grande Clube merecia, incluindo um projecto de actividades ao longo do ano que tornariam o aniversário uma festa permanente. Depois de parecer bem aceite, o projecto acabou recusado e, mais do que isso, combatido pelos órgãos sociais do Clube! Era já a “continuidade” a defender o “castelo” destinado apenas a uma certa“ linhagem” da qual os “impuros” se não deviam sequer aproximar.
Mas o Grande Sporting merecia a satisfação de um esforço que, estou certo, muito o dignificou, quer pelo próprio site quer pelos acontecimentos festivos promovidos por todo o país e até no estrangeiro, ao longo de um ano. Coisa que a direcção do Sporting não fez!
O Site apareceu e manteve-se muito ativo ao longo de mais de quatro anos! Hoje, ainda que sem muita actividade, mantém-se – www.centenariosporting.com - nele continuando disponível aquela História ímpar que todos os sportinguistas deviam conhecer para nele se reverem como pessoas e como desportistas.
Ao longo do primeiro ano, o site teve como atractivo maior a publicação da História e Vida do Sporting Clube de Portugal, da autoria de Eduardo de Azevedo, meu sogro, ilustre e indefectível sportinguista que, em prosa, escreveu a que é, até hoje, a mais bela Ode ao Grande Sporting. É uma história pormenorizada da vida do Clube, escrita com base em documentos de fundadores e outros continuadores dos primeiros tempos, até à década de 60 do Século XX, aquela parte da vida do Sporting que a maioria dos sportinguistas atuais desconhece e apenas, mesmo na sua ignorância, aproveitam para reclamar uma grandeza à qual nada têm acrescentado!
É um registo precioso dos tempos áureos do Sporting do qual constam factos e pormenores da maior importância para a memória sem a qual nada existe! São tempos em que tive a sorte de participar desde os anos quarenta, uma época na qual foi temperada a linhagem autêntica dos sportinguistas que hoje a “continuidade roqueteira” considera os “aventureiros” que pretendem estragar o Sporting!
Mas eles, a “continuidade” são, bem vistas as coisas, a DESCONTINUIDADE numa História que é cada dia mais urgente retomar porque é a memória que o tempo foi esbatendo porque não foi salvaguardada, que se perdeu porque as mais recentes direcções do Clube a desprezaram.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

QUEM NÃO GOSTA DE TER RAZÃO?


Quem não gosta de ter razão? Claro que eu também gosto, mas nem sempre tenho. Menos natural é que, quando temos razão, ter razão nos não agrade! Mas acontece e não é tão infrequente assim.
Tenho tido razão desde que, há muito tempo, alinho o meu pensamento com o dos que sentem, ou sabem, que o mundo está na iminência de uma mudança inevitável como o demonstra esta “crise” que ninguém é capaz de resolver. Muitas vezes já escrevi sobre as razões pelas quais penso assim e não é, agora, o momento para as repetir.
Perante as evidências, só os casmurros podem insistir em remédios que o não são, em caminhos que não conduzem a lado algum, bem como podem alimentar a esperança de que, vencida a crise, voltaremos à boa vida que tanto apreciámos.
Não me deixo levar pelo pensamento de que, quando tudo parece perdido, acreditam que sempre aparece uma solução, discurso que um “inteligente” qualquer debita, neste preciso momento, num programa de TV. É o fia-te na Virgem e não corras… Todos sabemos o pontapé que se leva quando se procede assim.
A verdade é que a Europa chegou à saturação a que todo o mundo há-de chegar, a partir de agora mais rapidamente do que muita gente pensa.
Os Estados Unidos, com a sua dívida pública monstruosa, mais de 200% do PIB, emite moeda sem baixar o valor do Dollar o que é, naturalmente, um embuste que terá muito más consequências num futuro próximo. O mundo pobre continua pobre, talvez até mais pobre, e os países emergentes têm pela frente um trabalho imenso para colocarem o seu PIB per capita ao nível do dos empobrecidos europeus sem o mercado dos quais vêem o seu crescimento abrandar sensivelmente!
Não me parece que este quadro permita utilizar cores alegres para pintar o futuro que se aproxima para toda a Humanidade se, em vez de tomarmos as decisões adequadas, esperarmos que aconteça aquele “milagre” que sempre esperamos, na hora da aflição!
A realidade aposta em dar-me razão e eu sinto-me muito incomodado porque a tenho! Esquisito, não é?
Vai ter lugar mais uma “cimeira europeia”, penso que a vigésima das que, uma após outra, foram antecipadamente consideradas como decisivas para superar a crise mas que sempre o não foram.
Porque haverá esta de o ser?

A SELEÇÃO NACIONAL E O SPORTING


Uma das seleções de topo da Europa, a Portuguesa, teve a defender as cores nacionais uma maioria de jogadores formados no Sporting. Porém, com exceção de Rui Patrício, nenhum joga no Sporting!
Em equipas de épocas anteriores à que recentemente terminou, com o Sporting liderado por Godinho Lopes, os jogadores eram, na sua grande maioria, nacionais.
Nesta era de Godinho, Duque e Freitas os jogadores são, em maioria, estrangeiros. Uma diferença profunda para o que havia acontecido no passado.
Naturalmente, como a maioria dos portugueses, segui com atenção os jogos da nossa seleção neste Euro 2012 e, como todos também, vi que a seleção portuguesa chegou à meias-finais com muito mérito e que seria com mérito também que chegaria à final, não fora a “roleta” das grandes penalidades que Rui Patrício começou da melhor forma mas que outros não tiveram a sorte de continuar tão bem.
Por todas estas razões, não me sinto diminuído, como português, por ter acontecido assim, depois do que vi a seleção nacional fazer contra os ainda campeões da Europa e do Mundo. Somos capazes de fazer em qualquer coisa o que fazemos no futebol se a isso estivermos dispostos. Mas nem sempre o estaremos e, mais do que isso, fazemos grandes disparates a troco de vantagens imediatas que, por vezes, são altamente imorais.
No meio de tudo isto, foi para mim, sportinguista, doloroso ouvir o que um dos comentadores disse quando mostrou a sua grande preocupação pelo futuro da selecção nacional, porque os grandes clubes passaram a investir em jogadores estrangeiros e não na formação. Além disso, afirmou esse senhor que era uma pena verificar que do Benfica, “tradicionalmente o grande municiador da selecção” não houvesse ali, praticamente, um jogador.
Fiquei estarrecido por ter sido esta a observação que as circunstâncias lhe sugeriram, mesmo quando a selecção mostrava, claramente, a supremacia do que já foi o Sporting cuja equipa, ele não o sabia como o não sabe a maioria dos sportinguistas agora, já foi integralmente, a selecção nacional!!! O que nunca aconteceu com o Benfica.
No tempo dos saudosos cinco violinos, aquela famosa equipa, defendeu as cores de Portugal!
Agora vejam como se arruinou o Sporting, como se encontra sem dinheiro, sem jogadores e SEM MEMÓRIA!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

REFORMAS


Hoje foi dia de, durante as minhas abluções matinais, ouvir o “fórum” sobre a reforma dos tribunais. Admito que não estava, ainda, suficientemente esclarecido para ter uma opinião, generalista que fosse, sobre este assunto.
Mais ainda, quando ouvia o bastonário da Ordem dos Advogados falar de um disparate que uns “betinhos” andavam a fazer, mesmo conhecendo os excessos de certas atitudes que toma, ficava a pensar que, ao menos, haveria alguma razão bem séria para estar contra esta reforma. Um bastonário não fala daquele modo sem ter motivos muito sérios para, além de arrogante, ser inconveniente.
Mas hoje, num fórum no qual, pela natureza da matéria tratada, o simples recalcitrante, para quem apenas o dizer é a única razão de intervir, não tinha muito lugar, o fórum foi agradável de seguir. Um ou outro apareceu, como é inevitável, porque a mudança é sempre difícil de digerir. Aquele argumento de “desconhecimento do Interior” no qual não vale a pena insistir porque o Interior é muito desigual, não faz sentido ser invocado quando se trata de um esquema global de reforma e não de resolução de problemas caso a caso.
Quando, pelas condições locais, o modelo geral não se justificar, haverá que alterar essas condições, se tal for possível, ou adoptar um adequado ajustamento da solução.
Enfim, entendi o que se pretende e, mais do que isso, reparei na abertura com que a discussão se faz e nas melhorias que, ainda, será possível introduzir. Afinal, fecham-se “tribunais” sem os fechar, na enorme maioria dos casos ninguém terá de se deslocar mais do que se deslocava e o sistema judiciário ganha destreza e o andamento dos processos deverá, até, ficar mais rápido.
O mesmo não digo da reforma que se fez nas escolas, sobretudo no ensino básico, a qual impõe a muitas das nossas crianças um sacrifício por vezes quase desumano e, sem dúvida, desmotivador. Quando se trata de educar, a questão assume novos aspectos, coloca novos problemas e, por isso, não pode seguir a regra geral!
Creio que seria bom rever a reforma que se fez!

domingo, 24 de junho de 2012

A PROPÓSITO DE UM ANO DE GOVERNAÇÃO


Ouvi Paulo Portas e de Pedro Passos Coelho na apreciação de um ano de governo, após uma reunião informal do Conselho de Ministros, no Palácio da Ajuda.  
Pareceram-me razoavelmente claros e objectivos no que disseram, tendo em conta o que pela comunicação social se vai sabendo. Como interessado prestei atenção ao que disseram e como o disseram.
Não sou um apoiante incondicional deste governo que avalio sem preconceitos, como a minha independência mo consente, nem da austeridade que, por necessidade, nos impõe. Tampouco sou dos que acreditam que alguma vez possamos voltar à “prosperidade” que já julgámos viver porque sei que tal não é possível, com razões não cabe nesta hora explicar. Mas tenho a esperança de que melhoraremos em relação às dificuldades que agora sentimos.
Não foram, em meu parecer, discursos que me causassem espanto ou me dessem particular alento quanto ao futuro do país e, de um modo geral, do mundo inteiro. Mas pareceram-me avaliações razoáveis do tempo de governação já passado, com previsões cautelosas para os tempos que estão para vir.
Fiquei, depois, curioso de ouvir os comentários dos “profissionais da crítica” que, já a postos, apenas aguardavam o final para, de jacto, debitarem os seus pareceres. Foram, de um modo geral, o que eu esperava: precipitados, preconceituosos e, até mesmo, deturpadores de alguns pormenores importantes do que foi dito ou do como foi dito, mais me parecendo que debitavam avaliações próprias em vez dos comentários às avaliações que outros fizeram.
Não faltou, mesmo, a piada rasca quando, nos comentários sobre como chegaram os ministros e secretários de estado à reunião, é referido alguém que chegou de motoreta para a tomada de posse e agora, um ano depois, chegou a pé!
Se exportássemos comentadores políticos e humoristas, por certo ultrapassaríamos a crise bem mais depressa. Que mentalidades destrutivas que nós temos!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A BIODIVERSIDADE E O FUTURO DA HUMANIDADE


Milhares de espécies da enorme comunidade que é a Natureza se extinguem em cada par de dias, porque a intensiva exploração de recursos que a economia reclama lhes retira as condições de vida que as suportam.
São já inúmeras e, a cada dia, se tornam mais numerosas as espécies em risco de extinção neste planeta em que a biodiversidade é indispensável aos equilíbrios da vida, incluindo o futuro da Humanidade.
Jonathan Baillie, da Sociedade Zoológica de Londres diz, a propósito do relatório “Planeta Vivo 2012” preparado para a  Cimeira Rio+20, que “ignorar este relatório trará graves consequências para a Humanidade” pois, “sendo a biodiversidade um indicador iniludível da saúde do Planeta”, ele é bem claro ao mostrar que ela se reduziu mais ainda depois da Cimeira da Terra realizada há 20 anos.
Bastaria um pouco de paz, reduzir a azáfama deste estilo de vida que, pelo contrário, desejamos acelerar, para que os equilíbrios se refizessem e avida tivesse outro sentido mais próprio da dignidade humana do que este frenesim que nem nos deixa tempo para viver.
Reparem, na indiscrição de uma simples fotografia, como num buraco do tronco de uma árvore, cogumelos, aranhas e sei lá que mais podem conviver, num espaço em que a preservação da calma lho permite.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

ESCUTAS TELEFÓNICAS E JUSTIÇA


Por vezes, fico na dúvida se fazer justiça é seguir regras e procedimentos pré-estabelecidos ou apurar os factos que possam esclarecer o que aconteceu, para se tentar chegar à verdade.
Por tanta coisa que se tem passado, fico na dúvida, também, se, no que diz respeito a Sócrates, um personagem muito falado em casos como o do licenciamento do Freeport, a Face Oculta, o apoio de Figo e outros, se tem feito tudo o que é possível para esclarecer o que, de facto, aconteceu, as culpas que, porventura, tenha e há quem diga que tem.
Este controverso personagem que de impoluto nem sequer a imagem tem, em consequência de certos factos em que irregularidades da própria licenciatura se incluem, mereceria ser esclarecido, culpado ou ilibado de modo que não deixasse dúvidas, para que todos pudéssemos respirar de alívio e recuperar certas confianças perdidas.
Não me esqueço que o Poder Judicial não é um poder eleito pelo povo que é, segundo os preceitos democráticos, o detentor do poder que delega em quem, depois, terá de lhe prestar contas em futuras eleições! Mesmo assim, não pode o Poder Judicial considerar-se dispensado de as prestar também. Isto significa que aquilo que faça terá de ser entendido e apoiado pelo povo, porque é, supostamente, em nome do povo que o Poder Judicial actua, o que me não parece que aconteça no caso das já tristemente célebres escutas telefónicas entre Sócrates e Vara.
Porque um dos personagens era primeiro-ministro na altura, é de uma competência especial, a do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o julgamento da importância de escutas de conversas telefónicas em que o primeiro-ministro intervém, como prova em casos de julgamento de crimes graves. E foi por isso que foram mandadas destruir, mesmo depois de um outro juiz as ter considerado importantes em casos em curso de apreciação. E vale a decisão de uma pessoa em vez da de um tribunal. Estranha forma democrática de julgar!
Mas as famosas escutas de conversas telefónicas entre Sócrates e Vara que já foram mandadas destruir, talvez até por mais de uma vez, ainda existem e diz o juiz de Aveiro que serão oportunamente destruídas e que não permitirá a sua consulta pela defesa de arguidos que a consideram indispensável para a sua defesa!
Deste modo, ninguém poderá impedir seja quem for de pensar que algo estará errado nisto tudo que deveria ser melhor esclarecido, a ponto de qualquer de nós o compreender, em vez de, simplesmente, ter de o aceitar “porque é assim que está determinado que seja”!

domingo, 17 de junho de 2012

VOLTANDO À QUESTÃO DO TRABALHO


Na reflexão de ontem, abordei a questão do trabalho que, como diz o sociólogo Agostinho Rodrigues Silvestre, deixou de ser uma proteção contra a pobreza, de tal modo cresce o número de trabalhadores que a “economia” moderna dispensa.
Assim crescem as fileiras dos batalhões de desempregados por esse mundo fora e não se vê como o democratíssimo “direito ao trabalho” possa ser uma realidade. As razões são muitas para que seja assim e numa sociedade com elevados números de desempregados, apenas a solidariedade social poderá valer. Mas até esta perde força e capacidade perante as tendências demográficas que reduzem o número de nascimentos e aumentam o número de idosos aos quais compete à sociedade garantir um resto de vida com dignidade.
O número de cidadãos ativos de cujo trabalho resulta o valor com que a solidariedade se pode fazer é cada vez menor, tanto pela redução da faixa etária que lhes corresponde como, também, pela redução do número de postos de trabalho disponíveis. Por isso, não será muito o que se pode esperar desta solidariedade que as circunstâncias vão enfraquecendo, por mais habilidosas que sejam as manobras com que se tente esticar o que já está próximo da rotura.
Não me parece que seja pela via desta solidariedade que já inventou o “rendimento mínimo”, o “rendimento social de inserção” e poderá, agora, tentar o “rendimento médio de cidadania” que os problemas sociais causados pelo desemprego se resolverão.
Há muito para reflectir sobre este problema grave que, aos poucos mas em regime de velocidade crescente, nos vai encaminhando para um beco sem saída e onde todos acabaremos por nos atropelar.
Quanto a mim, apenas uma solução que devolva ao trabalho, ao esforço, à imaginação e à criatividade de cada um, o estatuto de garante da satisfação das suas necessidades, deixando para a solidariedade apenas os que não possam, pelos seus meios, sobreviver, poderá resolver um problema que se encontra já entre os maiores que a Humanidade enfrenta! E isto significa mudar muitas coisas, entre as quais redimensionar o “capitalismo” para que o trabalho volte a ter lugar, bem como reciclar a mentalidade dos que se habituaram a “ter um emprego que os sustente” ou a viver de subsídios a que se julgam com direito para fazerem como lhes apetecer.
Não posso, por isso e de modo algum, concordar com soluções como as que sugere a afirmação "O Estado põe no indivíduo a responsabilidade de procurar emprego, o que, numa altura em que o trabalho entrou em desordem mas continua a habitar a ordem social, pode significar forçar os cidadãos a procurar uma coisa que não existe".
É de trabalho que devemos falar e não de emprego!
É um problema extremamente complexo este que já se torna premente resolver.   

sábado, 16 de junho de 2012

UMA QUESTÃO IMPORTANTE NUM FUTURO QUE EXIGE SOLUÇÕES


Num mundo que, necessariamente, tem de sofrer uma mudança global drástica, feita de muitas mudanças em muitos domínios, é indispensável reflectir sobre os problemas que teremos de enfrentar num futuro não muito distante, para encontrar formas adequadas para os resolver.
Um dos aspectos mais prementes, a par da exaustão de recursos e da degradação ambiental com todas as suas consequências, é o modo como, perante a inevitabilidade da falta de empregos para toda a gente, garantir a todos os meios financeiros que a falta de emprego lhes não garante.
Tão importante me parece que me permito transcrever, a seguir, um texto que Natália Faria publicou no Público:

O trabalho deixou de constituir uma protecção contra a pobreza, tendo-se transformado num mecanismo de aprofundamento das desigualdades sociais
A prova disto, sustenta o sociólogo Agostinho Rodrigues Silvestre, é que 12% dos trabalhadores portugueses viviam abaixo do limiar de pobreza em 2010.

Que o número de trabalhadores pobres tem vindo a aumentar mostra-o também o facto de 16% das pessoas que em 2011 usufruíram do Rendimento Social de Inserção (35.015) terem acumulado aquele subsídio com rendimentos do trabalho. Numa altura de precariedade generalizada, estes indicadores denotam que o trabalho está a deixar de ser veículo de emancipação e, mais do que isso, "a necessidade de as sociedades se reorganizarem para deixarem de ter no trabalho a primordial fonte de rendimento dos cidadãos", defende Agostinho Rodrigues Silvestre, na comunicação que vai apresentar durante o VII Congresso Português de Sociologia, de quarta a sexta-feira próximas no Porto.

Com um painel sobre crise e perspectivas políticas que juntará o ex-Presidente da República Mário Soares e o ex-líder da CGTP Carvalho da Silva, o congresso vai juntar centenas de sociólogos, contando com uma sessão temática dedicada à economia, trabalho e precariedade. Nela, Agostinho Silvestre basear-se-á nos indicadores portugueses para sustentar que, pesem embora os esforços para preservar a ética do trabalho e as tentativas de encontrar novas jazidas de emprego, nomeadamente no sector social, as sociedades não mais voltarão a ser de pleno emprego.

"O desemprego em Portugal cresceu de uma forma consistente entre 2000 e 2010, ou seja, numa década passou de 4% para 11% e o que a crise veio fazer foi apenas agudizar essa tendência", observa. "O que isto nos mostra é que o modo como as sociedades se organizaram a partir da revolução industrial, mas sobretudo a partir da II Guerra Mundial - em que o trabalho se consolidou como princípio organizador da vida individual e colectiva e foi proclamado como referência identitária e medida das permutas sociais - vai ter que sofrer uma profunda transformação".

Dito doutro modo, a subsistência dos indivíduos terá que ser desligada do trabalho. "O próprio sistema de protecção social está muito ligado à posição que o indivíduo ocupa no sistema produtivo e a ideia que tem vindo a ganhar consistência, nalguns movimentos intelectuais e nalgumas linhas de investigação, é que esta lógica terá que ser substituída por aquilo a que se tem chamado rendimento médio de cidadania, a atribuir a cada cidadão independentemente da posição que este ocupa no sistema produtivo".

De onde viria o dinheiro? "Por via de uma reformulação total do sistema de Segurança Social, isto é, pela canalização dos recursos afectos a abonos de família, reformas, etecetera, para esse rendimento médio. É uma ideia polémica, mas há cálculos que demonstram que 80% do que se gasta hoje com essa proliferação de apoios chegariam para pagar a todos os cidadãos com mais de 18 anos esse rendimento médio, cujo valor teria que ser discutido, não ao nível de Portugal ou Espanha, mas de toda a Europa e até do mundo ocidental", admite o sociólogo.

Considera que, independentemente do que vier a seguir, o que o Estado não pode, numa altura em que a precariedade laboral se generalizou, é continuar a atirar o ónus do desemprego para as costas dos cidadãos: "O Estado põe no indivíduo a responsabilidade de procurar emprego, o que, numa altura em que o trabalho entrou em desordem mas continua a habitar a ordem social, pode significar forçar os cidadãos a procurar uma coisa que não existe".