Acabei de ler um livro sobre a “Economia Portuguesa” no qual o autor, depois de concluir que “todas
as medidas capazes de nos fazer regressar a um crescimento económico baseado na
produtividade enfrentam (…) obstáculos políticos e sociais que são na prática
inultrapassáveis”, afirma que restam a Portugal três possibilidades, uma das
quais seria “uma espécie de milagre à irlandesa, …….” pelo qual “a Irlanda
passou do caso do caixote do lixo que era nos anos 80 para chegar ao estatuto
de segundo país mais rico da UE…”! Afinal, o enorme sucesso irlandês não
passava daquela ilusão de riqueza que a levou a emparceirar connosco e com
outros no “clube da bancarrota” que, aos poucos, vai ficando maior! Muitos tiveram
essa ilusão e muitos mais ainda a conservam.
Parece que se se tivesse afirmado
que Portugal teria de, forçosamente, ultrapassar os obstáculos políticos e
sociais para ser economicamente viável, teria acertado em cheio, porque não há
outra forma de tornar Portugal economicamente equilibrado!
Antes, tinha ouvido Vitor Gaspar
afirmar que os “modelos económicos” não estão a reagir como se esperava perante
as medidas adoptadas. Coisa que eu já sabia e por diversas vezes aqui registei,
porque se não trata de uma crise mais mas de um fim-de-ciclo que ainda nenhum “Prémio
Nobel” conseguiu, ainda, reconhecer. Na economia, como em outra actividade qualquer, ou
os modelos são os adequados às circunstâncias ou os resultados da sua aplicação
para prever o futuro só podem ser errados. Os “modelos” são construídos em
função da experiência e na presunção de que a sua extrapolação reproduz o futuro de acordo com uma teoria estatística estável. Mas de tempos como os que vivemos, a experiência não
existe! Só a inteligência atenta nos pode mostrar que, porque estão a acontecer
coisas que nunca antes haviam acontecido, a estatística se alterou e a extrapolação do passado não reproduzirá,
necessariamente, o que sucederá no futuro!
Olhe-se um pouco para todo o
mundo e procure-se, no decréscimo da actividade económica global, na degradação ambiental, nas alterações climáticas, na exaustão de recursos, na escassês de alimentos, onde estão as
razões que nos façam crer num futuro crescimento sustentado…
Hoje, num daqueles preciosos
programas de rádio em que, a par do que queiram dizer os que conseguiram ligar
primeiro para debitar as suas teorias ou excitações, há sempre uns iluminados
que apenas se lembram bem do que outros disseram mas não fizeram, sem nunca se
recordarem do que eles próprios previram e não aconteceu, mais uma vez me dei
conta desta prosápia insensata de pensar que sabemos o que nunca, com
seriedade, estudámos. São os oráculos, os sábios que constroem teorias que,
para felicidade sua, nunca serão testadas, mas de cuja certeza e rigor não têm a
mínima dúvida.
Só não entendo como não são estes
mas sim outros os que acabam por dar a cara na governação que, faça-se como se
fizer, sempre terá o seu mais do que fundado desacordo. A razão é simples. As
coisas são o que são e não o que os políticos gostariam que fossem. Há outras
Ciências para além da política. Bem diferentes porque, nelas, os fenómenos revelam
leis que não podemos alterar e não se regem por leis que nos apeteça ditar!
É preocupante esta sucessão de
equívocos nas opiniões, nos actos e nas previsões, própria de quem “não joga
com o baralho todo”, porque não é capaz de ver e pensar para além das baias das análises a que as suas limitações o obrigam. Mas a realidade é
bastante mais ampla e nela está força da razão que não consegue entender.
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