Teve hoje início no Rio de
Janeiro uma Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
vinte anos depois da que foi chamada a Cimeira da Terra. Agora, tal como então,
os líderes mundiais, reconhecendo os perigos graves de um crescimento económico
sem controlo que causa poluição excessiva e, pelo efeito de estufa, é
responsável pela aceleração das alterações climáticas que são cada vez mais
notadas, propõem-se encontrar soluções para um “desenvolvimento sustentável”
que satisfaça as necessidades globais e mantenha o ambiente saudável. As mesmas
questões voltam a ser colocadas, acrescidas de outras que, entretanto, se
tornaram pertinentes.
Uma situação que não se apresenta
agora, em termos globais, melhor do que há vinte anos, torna mais exigente a
necessidade de gerir equilibradamente os recursos naturais, controlar e reduzir
a poluição, proteger a biodiversidade e reduzir o efeito de estufa responsável
pelo aquecimento global, ao que acresce, agora, o gravíssimo problema da
insuficiência alimentar.
Apesar de todas as iniciativas, conferências, declarações,
protocolos e agendas, além dos esforços dos ambientalistas para que fosse dada
atenção às causas de tantos problemas que colocam em risco a própria Humanidade,
a situação actual só pode ser considerada pior do que a de há vinte anos antes,
tendo de reconhecer-se que as carências aumentaram mesmo quando a exploração
dos recursos naturais excede já, em 50%, a que corresponderia a uma situação
naturalmente sustentável. Esta situação não é, obviamente, compatível com o
desenvolvimento sustentável que se pretende alcançar, menos ainda quando o
crescimento económico é o objectivo de todas as economias para sair da situação
de crise em que há anos se encontram.
Não vejo como, preocupados com os
problemas de uma economia que não pára de derrapar nos seus próprios efeitos e,
por isso, reclama mais crescimento que consome mais recursos e provoca mais
degradação ambiental, é possível a contenção que o desenvolvimento sustentável
pressupõe.
A agenda desta Cimeira inclui,
ainda, nos objectivos, a erradicação da pobreza!
Num mundo com quase mil milhões
de famintos cujas necessidades de alimentação competem, na produção de
biocombustíveis, com o acréscimo de produção de energia que o crescimento económico reclama, não
será tarefa fácil erradicar a pobreza de que a fome é um dos sintomas mais dramáticos.
Uma profunda incompatibilidade
entre o crescimento económico contínuo e o desenvolvimento sustentável, lado a
lado com o inevitável braço de ferro entre dois estádios de desenvolvimento, o do
Norte e o do Sul, que dificilmente se entenderão quanto ao esforço de cada um
nas mudanças a promover, mais adensam as dificuldades para evitar os graves
problemas que, embora reconhecidos, ninguém parece determinado a resolver.
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