Na reflexão de ontem, abordei a
questão do trabalho que, como diz o sociólogo Agostinho Rodrigues Silvestre,
deixou de ser uma proteção contra a pobreza, de tal modo cresce o número de
trabalhadores que a “economia” moderna dispensa.
Assim crescem as fileiras dos
batalhões de desempregados por esse mundo fora e não se vê como o democratíssimo
“direito ao trabalho” possa ser uma realidade. As razões são muitas para que
seja assim e numa sociedade com elevados números de desempregados, apenas a
solidariedade social poderá valer. Mas até esta perde força e capacidade perante
as tendências demográficas que reduzem o número de nascimentos e aumentam o
número de idosos aos quais compete à sociedade garantir um resto de vida com
dignidade.
O número de cidadãos ativos de
cujo trabalho resulta o valor com que a solidariedade se pode fazer é cada vez
menor, tanto pela redução da faixa etária que lhes corresponde como, também,
pela redução do número de postos de trabalho disponíveis. Por isso, não será
muito o que se pode esperar desta solidariedade que as circunstâncias vão
enfraquecendo, por mais habilidosas que sejam as manobras com que se tente
esticar o que já está próximo da rotura.
Não me parece que seja pela via
desta solidariedade que já inventou o “rendimento mínimo”, o “rendimento social
de inserção” e poderá, agora, tentar o “rendimento médio de cidadania” que os
problemas sociais causados pelo desemprego se resolverão.
Há muito para reflectir sobre
este problema grave que, aos poucos mas em regime de velocidade crescente, nos
vai encaminhando para um beco sem saída e onde todos acabaremos por nos
atropelar.
Quanto a mim, apenas uma solução
que devolva ao trabalho, ao esforço, à imaginação e à criatividade de cada um, o
estatuto de garante da satisfação das suas necessidades, deixando para a
solidariedade apenas os que não possam, pelos seus meios, sobreviver, poderá
resolver um problema que se encontra já entre os maiores que a Humanidade
enfrenta! E isto significa mudar muitas coisas, entre as quais redimensionar o “capitalismo”
para que o trabalho volte a ter lugar, bem como reciclar a mentalidade dos que
se habituaram a “ter um emprego que os sustente” ou a viver de subsídios a que
se julgam com direito para fazerem como lhes apetecer.
Não posso, por isso e de modo
algum, concordar com soluções como as que sugere a afirmação "O Estado põe
no indivíduo a responsabilidade de procurar emprego, o que, numa altura em que
o trabalho entrou em desordem mas continua a habitar a ordem social, pode
significar forçar os cidadãos a procurar uma coisa que não existe".
É de trabalho que devemos falar e
não de emprego!
É um problema extremamente
complexo este que já se torna premente resolver.
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