Nesta época em que Lisboa festeja o seu Santo a quem, há já
oitocentos anos se atribuem milagres populares como no caso daquela bilha de
barro que uma pobre moça partiu ao enche-la na fonte, mas que, também, foi
Doutor da Igreja a quem o próprio S Francisco solicitava conselhos, não me
apetece falar de desgraças, seja a imerecida derrota perante a Alemanha no Euro
2012 seja a desgraça da vida que temos neste aperto financeiro que tempo demais
de vida de perdulários nos granjeou.
Este padre franciscano que, pelas suas virtudes, a Igreja
fez santo pouco depois de morrer, realçou nos seus sermões a pobreza que os
excessos dos ricos faziam mais dura ainda. Farto de não ser ouvido, sem o
sucesso que nunca alguém alcançou quando apregoa a solidariedade, resolveu
pregar aos peixes que, justificou, melhor entenderiam as suas preocupações para
com os que menos têm, vivem uma vida difícil ou, até, morrem de fome.
Pela dura situação de tanta gente que, sem razões para
festejar, tenta disfarçar as suas penúrias em tímidos e discretos gestos que
pedem ajuda, não ficaria admirado se, por aí, num manjerico qualquer, pudesse
ler este pedido desesperado:
Ó meu santo padroeiro
Que de António tens o nome
Arranja-me algum dinheiro
P’rós filhos matar a fome!
Mas até estas desgraças se esquecem nos arraiais e nas
sardinhadas que fazem de um Doutor da Igreja um divertido santo popular que
espreita as raparigas bonitas na fonte e lhes conserta as bilhas e a quem certas moças recorrem em tempos de outras aflições…
São sem número os pedidos que fazem ao Santo aquelas a quem
os parcos dotes físicos vão deixando para tias. Por isso, me não surpreenderia,
também, que num manjerico se pedisse:
Ó meu rico Santo António,
Casai-me que bem podeis,
Já tenho teias de aranha
Naquilo que Vós sabeis…
Mas,
É tempo de Santo António
E das Marchas populares,
Tempo de festa que a “crise”
Não se atreve a perturbar!
É tempo de Santo António
E das Marchas populares,
Tempo de festa que a “crise”
Não se atreve a perturbar!
E se, como o povo diz, é a fé que nos salva, imagino um enorme manjerico com uma quadra onde se lê:
P’las ruas desta cidade que sete colinas tem,
Andam devotos, poetas que ao seu Santo e ao Céu
Pedem graças e benesses que, tanto tu como eu,
Vamos pedindo, também…
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