É verdade que vivemos, anos a
fio, acima das nossas possibilidades; É verdade que fomos na conversa dos que
apelaram ao consumo inútil que faz “crescer” a economia, pelo que nos
empenhámos muito para além do que os nossos rendimentos permitiam; É verdade que
tivemos políticos incompetentes que foram na conversa de “políticas comuns”
agrícolas, de pescas e outras que a UE nos impôs e nos deixaram sem os meios
que agora muito jeito nos fariam para recompor a economia; É verdade que
tivemos oportunistas que fizeram da política e do sindicalismo os trampolins
para as vidas desafogadas que agora têm; É verdade que julgámos poder viver das
remessas dos emigrantes, dos apoios comunitários, de subsídios para isto e para
aquilo, até quase nos convencermos de que seria possível viver à larga sem
trabalhar; É verdade que fomos cegos admiradores de muitos que engendraram
artimanhas fantásticas que, do nada, os elevaram ao estrelato da finança
nacional; É verdade que fomos enganados pelos que vestindo a pele de “anjo da
guarda” do povo, apenas fizeram dele o pedestal em que fundaram as redes de
influências que criaram.
É verdade que a Assembleia da
República, agora tão diligente nas críticas às acções do governo, fez vista
grossa ou até nem viu os desmandos de uma governação que apenas podia ter como
resultado o descalabro; É verdade que o Banco de Portugal falhou completamente
no controlo de certos negócios bancários montados e geridos por gente de
sucesso rápido nesta democracia que permitiu o desabrochar da uma insuspeita
criatividade que a “ditadura” reprimiu; É verdade que foi o governo de alguém
que agora, dia após dia, factos e factos colocam sob suspeição de atitudes recrimináveis,
o que mais contribuiu para esta situação de dificuldades imensas; É verdade que
são já demasiadas as razões que nos levam a considerar o julgamento político
insuficiente para tantas atrocidades que chegam ao nosso conhecimento.
Mas é verdade, também, que uma
memória demasiado curta não deixa ver com clareza as origens das nossas
desgraças, reconhecer os culpados pelos desmandos que nos empobreceram e, pelo
contrário, nos leva a considera-los agora os “novos salvadores” e condenar
quem, melhor ou pior, tenta suavizar as consequências dos erros por eles cometidos.
O oportunismo e a esperteza
saloia continuam a dar resultados magníficos nos que, em vez de usarem a
cabeça, preferem pensar com os pés e, por isso também, até nem é de estranhar
que um bispo apele à saída para a rua contra “esta política de miséria de um governo
que mereceria ser deposto”! O governo que temos não é o melhor do mundo, poderia
fazer melhor, mas as circunstâncias podem vir a dar razão ao general romano que
deste povo disse que “não se governa nem se deixa governar”!
Apesar de tudo, tenho a certeza
de que também não será a cortar mais nos salários dos poucos que ainda
trabalham que nos livraremos desta situação de penúria em que nos encontramos!
Podem as circunstâncias fazer do desemprego a chaga mais dolorosa desta nossa
sociedade martirizada por uma linhagem de políticos e de sindicalistas a quem
os seus interesses não deixaram muito tempo para pensar nos outros, mas a
desqualificação do trabalho nunca poderá ser, seja a política qual for, a
partida para uma estabilização que já começa a tardar!
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