ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

É VERDADE QUE…


É verdade que vivemos, anos a fio, acima das nossas possibilidades; É verdade que fomos na conversa dos que apelaram ao consumo inútil que faz “crescer” a economia, pelo que nos empenhámos muito para além do que os nossos rendimentos permitiam; É verdade que tivemos políticos incompetentes que foram na conversa de “políticas comuns” agrícolas, de pescas e outras que a UE nos impôs e nos deixaram sem os meios que agora muito jeito nos fariam para recompor a economia; É verdade que tivemos oportunistas que fizeram da política e do sindicalismo os trampolins para as vidas desafogadas que agora têm; É verdade que julgámos poder viver das remessas dos emigrantes, dos apoios comunitários, de subsídios para isto e para aquilo, até quase nos convencermos de que seria possível viver à larga sem trabalhar; É verdade que fomos cegos admiradores de muitos que engendraram artimanhas fantásticas que, do nada, os elevaram ao estrelato da finança nacional; É verdade que fomos enganados pelos que vestindo a pele de “anjo da guarda” do povo, apenas fizeram dele o pedestal em que fundaram as redes de influências que criaram.
É verdade que a Assembleia da República, agora tão diligente nas críticas às acções do governo, fez vista grossa ou até nem viu os desmandos de uma governação que apenas podia ter como resultado o descalabro; É verdade que o Banco de Portugal falhou completamente no controlo de certos negócios bancários montados e geridos por gente de sucesso rápido nesta democracia que permitiu o desabrochar da uma insuspeita criatividade que a “ditadura” reprimiu; É verdade que foi o governo de alguém que agora, dia após dia, factos e factos colocam sob suspeição de atitudes recrimináveis, o que mais contribuiu para esta situação de dificuldades imensas; É verdade que são já demasiadas as razões que nos levam a considerar o julgamento político insuficiente para tantas atrocidades que chegam ao nosso conhecimento.
Mas é verdade, também, que uma memória demasiado curta não deixa ver com clareza as origens das nossas desgraças, reconhecer os culpados pelos desmandos que nos empobreceram e, pelo contrário, nos leva a considera-los agora os “novos salvadores” e condenar quem, melhor ou pior, tenta suavizar as consequências dos erros por eles cometidos.
O oportunismo e a esperteza saloia continuam a dar resultados magníficos nos que, em vez de usarem a cabeça, preferem pensar com os pés e, por isso também, até nem é de estranhar que um bispo apele à saída para a rua contra “esta política de miséria de um governo que mereceria ser deposto”! O governo que temos não é o melhor do mundo, poderia fazer melhor, mas as circunstâncias podem vir a dar razão ao general romano que deste povo disse que “não se governa nem se deixa governar”!
Apesar de tudo, tenho a certeza de que também não será a cortar mais nos salários dos poucos que ainda trabalham que nos livraremos desta situação de penúria em que nos encontramos! Podem as circunstâncias fazer do desemprego a chaga mais dolorosa desta nossa sociedade martirizada por uma linhagem de políticos e de sindicalistas a quem os seus interesses não deixaram muito tempo para pensar nos outros, mas a desqualificação do trabalho nunca poderá ser, seja a política qual for, a partida para uma estabilização que já começa a tardar!

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