A primeira greve de médicos de
que me lembro aconteceu em 1976. Uma greve a que aderiram outros profissionais
de saúde e que paralisou toda a assistência de que os doentes necessitavam,
aqueles em nome dos quais os clínicos fazem o célebre juramento de Hipocrates.
Obviamente haverá sempre
desculpas para fazer uma greve, tanto mais que a Constituição nem sequer impõe
que haja razões para a fazer!
Era eu adjunto do Almirante
Pinheiro de Azevedo, então Primeiro Ministro de Portugal, quando recebeu o
secretário geral do PCP que, a propósito daquela greve, lhe quis falar.
Depois de longos minutos em que o
visitante tentou esclarecer o seu ponto de vista, o Almirante disse por fim:
olhe, eu estava esperançado em que me trouxesse alguma ideia para eu poder
resolver esta questão que muito me preocupa. Mas não trouxe! Assim e como ambos
somos pessoas muito ocupadas, da próxima vez bastará telefonar-me e dizer “cassete
número dois”. Eu fico a saber que são “manobras da reacção” e volto rapidamente
ao meu trabalho.
Realmente, fazer críticas e dar
palpites é fácil. Mas propostas concretas para resolver problemas…
Pouco as coisas mudaram desde
então, a menos um intervalo em que, de conquista em conquista, se parecia ter
atingido a felicidade. Todos andavam felizes porque o dinheiro parecia dar para
tudo e, ainda, sobejar! Até que acabou.
E é aqui que outra recordação me
aparece. A de uma anedota que o meu pai me contava, ao mesmo tempo que me
alertava para as realidades da vida. A história bem conhecida da que, feliz, ia
para a feira. Pergunta-lhe alguém por vê-la tão feliz – Onde vais Maria? Responde
ela com voz jovial e bem sonante – Vou á feira!
Ao fim do dia, lá vinha a Maria
com ar cansado. – De onde vens Maria? Em voz sumida responde – Venho da feira…
A feira passou e parece ter
deixado saudades nos que nela bem se divertiram. Mas agora os tempos são outros
e, fazendo jus ao velho ditado “pede o guloso para o desejoso”, lá vem outra
greve dos médicos que dizem sofrer hoje “múltiplas restrições no seu desempenho
profissional, estão confrontados com limitações ao exercício pleno das suas
funções profissionais e sentem que a qualidade assistencial se vai
desagradando”, como afirma o dirigente da FNAM Mário Jorge Neves.
E pronto… só sabem trabalhar
quando há fartura?
Que belos tempos os do João
Semana!
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