ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

terça-feira, 8 de julho de 2014

QUE BELOS TEMPOS OS DO JOÃO SEMANA

A primeira greve de médicos de que me lembro aconteceu em 1976. Uma greve a que aderiram outros profissionais de saúde e que paralisou toda a assistência de que os doentes necessitavam, aqueles em nome dos quais os clínicos fazem o célebre juramento de Hipocrates.
Obviamente haverá sempre desculpas para fazer uma greve, tanto mais que a Constituição nem sequer impõe que haja razões para a fazer!
Era eu adjunto do Almirante Pinheiro de Azevedo, então Primeiro Ministro de Portugal, quando recebeu o secretário geral do PCP que, a propósito daquela greve, lhe quis falar.
Depois de longos minutos em que o visitante tentou esclarecer o seu ponto de vista, o Almirante disse por fim: olhe, eu estava esperançado em que me trouxesse alguma ideia para eu poder resolver esta questão que muito me preocupa. Mas não trouxe! Assim e como ambos somos pessoas muito ocupadas, da próxima vez bastará telefonar-me e dizer “cassete número dois”. Eu fico a saber que são “manobras da reacção” e volto rapidamente ao meu trabalho.
Realmente, fazer críticas e dar palpites é fácil. Mas propostas concretas para resolver problemas…
Pouco as coisas mudaram desde então, a menos um intervalo em que, de conquista em conquista, se parecia ter atingido a felicidade. Todos andavam felizes porque o dinheiro parecia dar para tudo e, ainda, sobejar! Até que acabou.
E é aqui que outra recordação me aparece. A de uma anedota que o meu pai me contava, ao mesmo tempo que me alertava para as realidades da vida. A história bem conhecida da que, feliz, ia para a feira. Pergunta-lhe alguém por vê-la tão feliz – Onde vais Maria? Responde ela com voz jovial e bem sonante – Vou á feira!
Ao fim do dia, lá vinha a Maria com ar cansado. – De onde vens Maria? Em voz sumida responde – Venho da feira…
A feira passou e parece ter deixado saudades nos que nela bem se divertiram. Mas agora os tempos são outros e, fazendo jus ao velho ditado “pede o guloso para o desejoso”, lá vem outra greve dos médicos que dizem sofrer hoje “múltiplas restrições no seu desempenho profissional, estão confrontados com limitações ao exercício pleno das suas funções profissionais e sentem que a qualidade assistencial se vai desagradando”, como afirma o dirigente da FNAM Mário Jorge Neves. 
E pronto… só sabem trabalhar quando há fartura?
Que belos tempos os do João Semana!



Sem comentários:

Enviar um comentário