Recordo-me do tempo que havia
apenas dois jornais desportivos em Portugal. Creio mesmo que terei ainda dado
conta de ser apenas um, a Bola que nasceu para ser o órgão oficioso de Benfica.
O Mundo Desportivo terá aparecido depois.
A eles se juntou uma revista, Stadium,
que não teve vida longa e cujo director creio ter sido Mário Simas, um grande
nadador que nunca mais esqueci.
Lia os jornais de Sábado em que
os “especialistas” publicavam as suas previsões, cientificamente apoiadas, para
os jogos que decorriam, invariavelmente, ao Domingo.
Domingo era o dia de S Futebol e,
em Lisboa onde os dois grandes rivais se encontravam, a Carris estabelecia
carreiras especiais desde diversos pontos da cidade. Convergiam todas no Campo
Grande, onde Benfica e Sporting tinham os seus estádios (ou seriam ambos do
Sporting?) onde milhares e milhares de pessoas, por vezes famílias inteiras, se
juntavam para ver o jogo! Ou até os jogos porque jogavam os juniores, as
reservas, eu sei lá.
Interessante era, depois, ler os números
publicados na Segunda-Feira e comparar as previsões com os resultados!
Cedo aprendi não ser a futebolística
uma ciência exacta. Mas a cegueira cubista dos redactores superava isso com
explicações tão “científicas” como as suas previsões falhadas e que, pensavam, atenuariam
os “melões” crescidos em dia de Missa.
Lembro, até, de algumas anedotas
ilustradas que eram publicadas, como uma em que o Francisco Ferreira, médio do
Benfica, fazia de barbeiro que perguntava ao Peyroteu, sentado na cadeira, Ó freguês,
a navalha incomoda?
Curiosamente, no dia seguinte
Peyroteu, como era seu hábito, marcou uns golitos ao Benfica!
Enfim, tempos em que as
brincadeiras não passavam muito disto, da inevitável rivalidade que o desporto
sempre desperta.
Mas hoje é diferente! O futebol
virou negócio chorudo no qual vingam os espertalhões!
E o Sporting, onde a esperteza
foi outra, perdeu o passo e, com isso, a superioridade tão flagrante nos seus
tempos áureos que levou alguém a escrever, a propósito de uma táctica então em
voga, os quatro em linha, que o Sporting adoptava uma táctica que era só sua, “quatro
em linha e ele à frente”!
Agora, a Bola, o Record, o Jogo e
milhares de programas radiofónicos e televisivos, parecem não bastar para
satisfazer a clientela ávida de novidades e de confrontos.
Tornaram-se milhares os que vivem
de falar e de escrever do desporto do pontapé na bola e nem sempre a matéria é
bastante para os alimentar. Também os interesses se tornaram outros, com
guerras que se travam para travar a transparência que, mesmo sendo própria do
desporto, não convém aos que o futebol fez milionários.
No meio de tudo isto, o Sporting
vai conseguindo, para bem do desporto nacional mas para desespero de muitos,
recuperar pouco a pouco o que, ao longo de anos de espoliação, perdeu.
Depois da simpatia que sempre
despertam os coitados, passou a despertar a ira dos inconformados que temem
perder as mordomias que foram conquistando enquanto o leão dormia.
Por isso, inventam-se estórias,
montam-se teorias, dizem-se disparates, trocam-se insultos e há, até, “inteligentes”
que viram burros quando a clubite aguda ataca.
Que delírio! E ainda chamam de
saudosistas os que suspiram pelos “bons velhos tempos”.
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