ACORDO ORTOGRÁFICO

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terça-feira, 13 de setembro de 2016

A SINA DO ATOLEIRO



A não ser o próprio António Costa e mais uns quantos que, cada vez menos, o repetem, cresce o número dos que receiam por um novo resgate que Portugal tenha de pedir à “solidariedade” europeia.
Não sou dado a engolir o quer que seja que me impinjam, mas são já muitos os que mostram tal preocupação, sendo de ouvi-los com atenção para avaliar as suas razões à luz de factos que não podem ser escamoteados, como o são o retrocesso nas exportações que caíram para metade, a redução profunda do investimento que se tornou residual, o forte decréscimo do crescimento económico que não consegue chegar a metade da que Centeno previu nas contas que fez para o orçamento deste ano, a precária situação da maioria dos bancos a que o BCE pode retirar o apoio sem o qual dificilmente recuperarão e o crescimento acelerado da dívida pública que já ultrapassou todos os limites razoáveis e não é susceptível de ser reduzida facilmente, nem como a forte redução de gastos nos serviços que é da responsabilidade do Estado garantir e cujas deficiências são cada vez mais notadas.
É por tudo isto que o Finantial Times insiste em falar de uma tempestade perfeita que pode levar Portugal, a curto prazo, à necessidade de um novo resgate de que a redução do défice que António Costa insiste em garantir abaixo de 2,5% do PIB, está muito longe de poder salvar-nos.
O aumento global de impostos é, desde já, uma garantia que o próprio ministro das finanças não desmente e até admite que, mesmo sem agravamento dos impostos directos que Costa fez ponto de honra excluir do seu programa, os cidadãos possam vir a pagar mais do que já pagam.
Por ora, são os impostos indirectos o meio para gerar as receitas que o Estado necessita urgentemente de aumentar, muitas vezes através de decisões que irão prejudicar factores de crescimento que têm sido importantes, assim como desencorajam, mais ainda, o investimento sem o qual a recuperação económica é uma impossibilidade.
Além do mais este é o caminho que continuará a debilitar, até à exaustão, a classe média que, em qualquer país, é a que mais concorre para o consumo interno que Costa e Centeno prometeram aumentar.
Mas é bem possível que nem os impostos directos escapem à voragem que as necessidades venham a impor, nem que seja apenas pela subida dos limites mínimos dos escalões, o bastante para sacar bastante mais dinheiro dos bolsos que já pouco têm.
Não creio que Portugal, assim, fique atraente para além daqueles que, de férias, aqui venham desfrutar os baixos preços que lhes cobramos.
E quando, apesar de tudo, o primeiro-ministro sente a necessidade de, em públicas e risonhas parangonas, considerar que um pequeno aumento de inscrições no ensino superior, como aconteceu este ano, mostra que a política de direita faliu, fica feita a prova da insuficiência de argumentos a favor daquela com que ele prometeu fazer progredir este país.
Deve António Costa estar desinformado da realidade que mostra terem de ser outros os caminhos a trilhar para evitar o descalabro que tudo faz prever.
Menos de um ano depois das eleições que não ganhou mas lhe deram o poder, não imaginaria eu que a situação que a política que o PS adoptou nos conduzisse ao ponto de, como tudo leva a crer, nos pode colocar numa situação bem pior do que aquela que um outro governo socialista, em 2008, nos colocou também!
Um novo resgate será, inevitavelmente, o atoleiro que António Guterres temeu e o fez afastar-se da política portuguesa.



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