O
tempo quente continua e as tragédias provocadas pelos incêndios florestais
também.
A
propósito desta calamidade nacional que destrói bens de valor inestimável, por
vezes tudo quanto alguém amealhou ao longo de toda uma vida e ceifa vidas
humanas, são elevadíssimos os custos que a sociedade, através do Estado (todos
nós), tem de pagar.
Num
interessante caderno de investigação do Correio da Manhã de ontem pode ter-se,
para além de outras informações interessantes, uma noção dos prejuízos causados
por estes incidentes que, sabe-se já, se devem, na sua grande maioria a
descuidos e a acções deliberadas de pirómanos ou, quem sabe, de alguém que de
tais actos tire vantagens.
Regista-se
que, desde 2002 já arderam mais de 1,5 milhões de hectares.
Se
atendermos a que a superfície total de Portugal Continental é da ordem de 8.9
milhões de hectares, teremos a noção de que cerca de um sexto de todo esse
território já foi pasto de chamas em 14 anos apenas!
Terão
ardido mais 300.000 ha de pinheiros bravos, quase tanto de eucaliptos, mais de
70.000 ha de sobreiros, mais de 25.000 há de carvalhos e mais de 35.000 ha de
outras espécies como azinheiras, pinheiros mansos e castanheiros.
E
quantas culturas ficaram destruídas, para além dos animais que não conseguiram
escapar com vida?
Em
apenas um ano, o de 2003, arderam mais de 425.000 ha e no ano que decorre a
área ardida já ultrapassa os 100.000 ha, mais do dobro da área ardida no ano
passado.
A
investigação revela que a média dos custos ds Estado (de todos nós) nos últimos
12 anos, foi de 68,5 milhões de euros por ano, dos quais 60% em meios aéreos.
A
estes custos devem acrescentar-se uma verba de 20 milhões de euros anuais gasta
na prevenção.
Deste
modo e desde 2005, o Estado (todos nós) gastou mais de 820 milhões no combate a
incêndios, dos quais quase 500 milhões em meios aéreos, aos quais deveremos
juntar as despesas com prevenção que serão da ordem de 220 milhões no mesmo
período.
É,
francamente muito dinheiro o que o Estado (todos nós) gasta para combater os incêndios
e não me custará afirmar que muitíssimo mais do que isso é o valor do que neles
se perde como habitações que ardem, gado que morre, culturas destruídas,
árvores ardidas, equipamentos inutilizados, etc, sem contar com o que não tem
preço, como as vidas humanas que se perdem, os horrores que se vivem, o desespero
de quem se sentem em perigo e dos que tudo perdem.
E
a investigação termina falando do “cartel do fogo” que, como diz, em 10 anos transferiu
mais de 821 milhões de euros de dinheiro público para o bolso de privados,
verba que deve estar abaixo da realidade que será mais elevada se tivermos em
conta a prevenção.
Parece-me
natural que acontecimentos destes, envolvendo tantos valores se tornem
apetecíveis a grandes negócios em que o Estado (todos nós) é, como é hábito que seja, explorado.
Aliás,
todos sabemos, pelo que nos informam, como o Estado (todos nós) tem sido
explorado em centenas de negócios que tem feito, como o resgate financeiro a
que fomos obrigados revelou!
A
uma frase eu prestei particular atenção por me parecer uma síntese notável da
intervenção do Estado neste problema tão sério: “O ESTADO DERRAMA DINHEIRO PARA
CIMA DOS FOGOS E LAVA AS MÃOS”!
Qualquer
coisa, muita coisa aqui não bate certo e quando, depois de tanto tempo, os
responsáveis vêm agora falar de ordenamento do território e de que é urgente
fazer isto ou aquilo, tomar estas ou outras medidas, a minha raiva explode e
apetece-me perguntar o que andaram cá a fazer este tempo todo?
Como
foram castigados e investigados os responsáveis pelos incêndios, como foram
ressarcidos dos seus danos aqueles que a incapacidade do Estado não protegeu
como era seu dever?
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