ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 3 de setembro de 2016

QUEM É CHARLIE?



Quem pode ter já esquecido os mortíferos sismos em Itália que causaram a morte a quase 300 pessoas e fizeram desaparecer uma cidade histórica de Itália, Amatrice?
Quem não tentou perceber já o drama de muitos milhares de pessoas a quem o sismo afectou, deixando-os sem pais, sem filhos, sem parentes, sem amigos e, muitas vezes, na mais profunda miséria?
Finalmente, quem não se sentiu horrorizado com aquela tragédia de dimensões impressionantes?
De todo o mundo acorreram ajudas que se continuarão até que sejam apagadas as consequências possíveis de apagar.
É assim a solidariedade humana ou era assim até que outros valores sem valor se levantaram nas franjas sem alma de uma sociedade onde a animalidade cada vez mais domina e consegue cativar aqueles a quem, sei lá, o pó branco e a erva seca mataram os neurónios da dignidade ou a falta deles tornou monstros.
Sempre o humor andou por aí, desde os mais remotos tempos da humanidade e sempre candidatos a humoristas houve que não conseguiram ultrapassar a banalidade que, depois, orientaram para a brejeirice e até para a inconveniência que faz da alma um vazio onde nasce a porcaria retardada com a qual fazem rir tanto imbecil.
Ri-se de um simples palavrão dito a propósito de nada.
Não me parece ser fácil ser humorista e não o deve ser porque o humor é um bem raro, oportuno e eficaz quando doseado pela solidariedade que também é a arte de, fazendo rir, aliviar quem se sinta amargurado. O que não parece, de todo, a intenção do celebérrimo Charlie Hebdo que faz da morte e do horror a sua inspiração.
Será humor, será gente? Gente não é, certamente e o humor não é assim… (à moda de Augusto Gil...)
É mais do que compreensível a revolta dos italianos por este humor macabro que deveria merecer, do governo francês, não a explicação de ser um direito de expressão cujo teor não perfilha, mas a declaração de o achar porco e mal intencionado!
NOTA: O dito jornal humorístico Charlie Hebdo foi vítima de um ataque brutal, levado a cabo, em 2015, por militantes islâmicos que, deste modo, quiseram limpar a imagem do seu Profeta vilipendiado pela irreverência que não respeita os valores alheios.
A solidariedade à volta do jornal e dos seus editores assassinados fez o jornal ganhar muito dinheiro, aumentando centenas de vezes a sua tiragem.
Repudiei tal forma de proceder, como repudio qualquer vingança na qual se perde a noção do ser que somos.
Mas milhões por todo o mundo fizeram questão de mostrar a sua solidariedade na afirmação “Je suis Charlie”, coisa que, apesar do horror que senti, eu nunca fui. E continuo a não ser neste humor macabro, desumano, desrespeitador da dor dos outros e contrário ao sentimento mais nobre da Humanidade, o respeito pelo próximo!

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