ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 29 de março de 2012

FUTEBOL, MÁFIAS E ÁRBITROS

Os “wikis” que pela internet vão aparecendo tornam-se, aos poucos, em ameaças para muita gente. Desta vez foram as informações privadas dos árbitros de futebol o que alguém resolver publicar e, deste modo, ficaram disponíveis para quem as quisesse registar.
Aconteceu exactamente numa altura em que muito se discutia a influência das arbitragens nos resultados dos jogos de futebol, em particular num jogo do Sporting apitado por Bruno Paixão.
Desde então, queixam-se os homens que apitam as faltas de que são vítimas de assédios e de ameaças que estão a tornar as suas vidas num inferno. Um terá havido, até, que a polícia fez sair de sua casa por questões de segurança que ameaças diversas punham em perigo. Ameaças à família, em particular a uma filha cujas rotinas diárias os ameaçadores mostraram conhecer na perfeição, assim à guisa daquelas séries CSI, mas sem aqueles polícias inteligentíssimos que tudo resolvem num instante.
O futebol está a tornar-se uma coisa feia, conflituosa e perigosa. O que começou por ser um desporto é agora uma lutas feroz, com assistências ululantes que apoiam, vaiam, insultam, incitam, como num circo romano em dia de lutas de gladiadores.
Sabemos quantos milhões cada jogo compromete, quantos têm a sua vida dependente destes espectáculos que se vão tornando degradantes e origem de confrontos sangrentos entre claques, para além de se terem tornado num negócio que movimenta verbas incalculáveis numa economia que quase já não tem onde cair morta! Quando tal acontece, as “máfias” instalam-se. E talvez seja isso que, se não for posto um forte freio neste descambar perigoso, acabará por acontecer.
Começou pelos pobres árbitros a que a TV passou a fazer a vida negra. Eles têm de decidir em segundos. A TV pode ver e rever as vezes que quiser e até pode colocar uns tracinhos que mostram ou não que alguém está fora de jogo!
Mas o futebol não nasceu para ser visto pela televisão... Se passou a ser, terão de ser arranjadas novas regras e novas formas para julgar as faltas porque, de outro modo, será uma luta muito desigual esta em que os árbitros terão de se confrontar com tecnologias de ponta e, sobretudo, com públicos perigosos!

quarta-feira, 28 de março de 2012

O CINISMO PREVISÍVEL DA POLÍTICA

Depois de uma entrevista do Primeiro Ministro que, em minha opinião, uma jornalista com a experiência de Judite de Sousa deveria ter aproveitado muito melhor, as recolhas de opiniões aos diversos partidos era inevitável.
As respostas foram, sem qualquer exceção, as esperadas. Juraria que seria capaz de as dizer mesmo antes de as ter ouvido. Senão palavra por palavra, seria quase!
O Primeiro-Ministro não terá dito nada que não soubéssemos já através do que tem dito nos últimos tempos. Não há novidades para dar todos os dias e, sobretudo, não há milagres que o governo possa fazer para ultrapassar em pouco tempo as dificuldades que o anterior governo acumulou ao longo de vários anos, nem o Primeiro Ministro tem dons divinatórios que lhe permitam garantir mais do que os indicadores que possui , nem adiantar mais do que os esforços que o governo faz lhe consintam dizer.
Estou certo de que não haverá solução para uma crise que não tem mais fim que não passe por uma adaptação inicial à penúria global a que este tipo de economia nos conduziu para, depois, evoluir seguindo caminhos mais seguros.
Não serão as soluções que os ditos partidos de esquerda apregoam sem dizer quais que nos colocarão no caminho certo que nunca retomaremos sem, primeiro, arrumarmos a casa colocando as finanças em ordem porque, seja qual for o padrão de vida futuro, sempre haverá finanças cujo princípio são só pode ser o de que se não deve gastar mais do que se tem!
Que os partidos que apoiam a coligação governativa tivessem achado que o Primeiro Ministro esteve bem nas explicações que deu, seria de esperar, tal como de esperar seria que os partidos de oposição afirmassem o contrário. Até o recurso a falácias como é próprio do PCP, do PEV e do BE não são de estranhar pois são partidos dos quais, historicamente, nada mais se pode esperar. Porém, a falta de recato do PS que acusa o governo das desgraças sociais que o seu último governo provocou é o que mais ressalta no conjunto das críticas escutadas.
Para mim ficou claro que é ainda cedo para cantar vitória ou para respirar de alívio porque, como seria de esperar, a emergência nacional ainda não passou. Por isso seria tempo de cooperação, de dar as mãos e de todos nos esforçarmos para sair de um buraco que, sem isso, se pode tornar demasiado fundo para dele se poder sair. Esta seria a contribuição que a oposição daria para ajudar Portugal, pertencendo ao PS a maior responsabilidade quer pela sua dimensão quer pelas culpas que não pode deixar de sentir por esta austeridade que a sua governação causou mas que, apesar disso, contesta.

terça-feira, 27 de março de 2012

SOCIALISMO E ESTADO SOCIAL

Apesar da minha convicção de estarmos a viver os últimos tempos de uma abastança que nada justifica e a realidade mostra ser impossível de manter, considerando inevitável que uma nova forma de economia seja adotada, não sou avesso aos esforços que o governo faz para recuperar a que foi devastada por disparates imensos, por oportunismos que dela criminosamente se aproveitaram e por um inqualificável desprezo pelo que que é de todos e, por isso, deveria merecer todo o respeito a quem foi dada a responsabilidade de o gerir.
Aos poucos nos vamos apercebendo da enormidade do buraco em que caímos, bem como dos erros e das irregularidades que para ele contribuíram.
Corremos atrás de maus exemplos de outros governos que vivem acumulando dívidas que já ultrapassam mais de duas vezes o PIB ou conseguem registar resultados orçamentais positivos enquanto a maior parte dos seus governados sofrem as agruras da pobreza.
Deixámo-nos embalar por uma ilusão de socialismo que distribui o que não gera e concede benefícios que não tem como garantir.
Apegamo-nos a direitos que a Constituição confere, porém sem nada contribuir para os podermos merecer.
Tapamos os olhos para não ver a crua realidade que os factos representam e gritamos aqui del rei que nos querem roubar!
Afadigam-se os responsáveis a apagar traços de irregularidades, fazer barulhos que confundam as vozes que as apontam, apresentar razões que mais não fazem do que brincar com a inteligência dos que, mais cedo ou mais tarde, haverão de os julgar.
Está a ser muito difícil para todos viver este tempo de privações e nem todos estarão ainda capazes de identificar aqueles contra quem reclamar porque, como é de todos os tempos, se continua a confundir a mensagem com o mensageiro.
Por isso me é grato reconhecer aqui a retidão e a verticalidade de um homem que fez parte do governo de Sócrates, Luis Amado, que, numa extensa e muito esclarecedora entrevista reconheceu que o governo actual está a fazer o que se tornou inevitável em face da situação a que o país chegou! Afirmou, mesmo, que a urgência de sair da situação de resgate em que nos encontramos é premente, o que ele, como Ministro dos Negócios Estrangeiros que foi, pode reconhecer como pouca gente, através da humilhação que nos faz sofrer e dos prejuízos que nos causa.
Não é simpático um governo que nos impõe a austeridade que nos faz sentir saudades daqueles tempos em que a imprevidência nos deu o que não tinha para dar e, agora, nos deixa desprotegidos contra as falácias dos que, sem terem soluções, nos garantem que as há!
Deus queira que os sinais que os “mercados” começam a dar, através da redução do valor dos juros que nos cobram, sejam reais e duradouros, assim como desejo que não voltemos a cair no logro de um “socialismo” sem controlo para que possamos fundar o “Estado Social” que os nossos recursos nos permitam assegurar.

sábado, 24 de março de 2012

A PARQUE ESCOLAR E OUTROS DESMANDOS…

Descobre-se agora, no Tribunal de Contas, o que será uma fraude de 270 milhões de euros nas obras das escolas a cargo da Parque Escolar, o que põe em causa o objectivo de modernização previsto. O projecto terá de, por ora, ficar por aqui com prejuízo para muitas escolas que necessitam de reparações urgentes e, por esta razão, as não podem ter.
Tratar-se-á de obras nas quais se terão praticado excessos que levaram os custos muito para além dos orçamentos, sem que, ao que parece, alguém a tempo se ter dado conta disso. É caso para perguntar se quem criou uma entidade para uma dada função não controla se os objectivos definidos são ou não atingidos, se os orçamentos aprovados e executados correspondem ou não ao que no projecto se previa, se ao dinheiro entregue ao projecto corresponde ou não a obra desejada, enfim, se cuida do controlo do projecto cuja execução confiou a alguém. Parece que não.
Num país para cujo futuro a educação é essencial, parece que as coisas que dizem respeito aos meios para a garantir são entregues a quem não será de confiança para o fazer e, mais do que isso, se deixa à “rédea solta” até que, um dia, alguém descobre que algo não vai bem.
Não é deste modo que as coisas se devem fazer, sem controlo. Mas parece que era deste modo que as coisas se faziam. Estas e outras de que já tivemos conhecimento e, porventura, outras de que o viremos a ter.
Nos tempos que vão correndo, aquela quantia não é desprezável porque nas Contas do Estado, onde o pouco dinheiro não consente folgas, qualquer cêntimo tem o seu peso e não pode ser esbanjado.
Quando muito se fala no BPN para que se saiba exactamente até onde a fraude fez caminho, não se devem esquecer outros casos que muito graves são também e, quem sabe, beneficiaram muita outra gente em vez do Estado e dos Contribuintes que desembolsaram o dinheiro mal utilizado.
Não vou referir aqui o que todos sabem, mas de uma coisa eu sei: é altura de gastar algum dinheiro a esclarecer todas as irregularidades que governos irresponsáveis permitiram que fossem feitas e castigar quem tiver de ser castigado de um modo exemplar, para que sirva de exemplo para o futuro e os contribuintes portugueses não continuem a contribuir para o saco dos que, impune e ilegitimamente, o possam encher!
E não se esqueçam que diz o povo que "tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica ao portão"!

sexta-feira, 23 de março de 2012

COM UM SOM DE TOQUE A FINADOS, A GREVE PASSOU

De geral não teve nada e de greve bastante pouco. Foi uma estreia desastrosa do novo Secretário Geral da CGTP que não soube, como é próprio de um comunista pouco aberto à realidade, ler os sinais dos tempos, tal como o é de quem nem entende que o tempo dos combates inúteis já passou.
Já não estava à espera daquela batalha de números que é própria destes eventos grevistas, de uns dizerem que é 100 o que os outros dizem não passar de 20 ou 30! O Governo nem se deu ao trabalho de fazer comentários e os que se ouviram da CGTP foram muito discretos e com som a falsos.
Agora há que encarar os factos de outro modo, há que lutar de outra forma que não seja esta negativa que as greves sempre tiveram.
Se alguma vez houve direito à indignação, essa vez é hoje. Mas se a necessidade de informação alguma vez se fez sentir, esta é a vez e teremos de informar e sermos informados a sério, sem demagogias e sem mentiras que, a cada dia que passa, se tornam mais ridículas.
Mais ridículo do que terem ensinado a crianças que aquela pessoa, o Primeiro Ministro, que ia visitar a sua escola era o senhor que aumentava os impostos e, com isso, tornava a vida mais difícil e mais cara, não se pode imaginar. Perderam-se noções essenciais de respeito e de dignidade para fazer do confronto agastado um modo errado de estar na vida, de encarar as dificuldades de lutar por uma vida melhor.
Continuar a escutar os mesmos argumentos idiotas que fazem do pastel de nata e da sugestão de emigrar os pecados mortais desta governação é a prova mais provada da falta de argumentos e da perversidade de certas motivações nesta altura que deveria ser de união de todos os portugueses para mostrarem ao mundo a grandeza da sua alma e a força da sua raça!
Foi um dia tristonho este que os grevistas costumam aproveitar para fazer de festa! A oposição continua a ser precisa e é uma das cada vez mais raras virtudes da democracia que cada vez menos a sabe fazer como as circunstâncias exigiriam.
A um Governo empenhado, como o deveria estar, em ultrapassar um momento muito duro na vida dos seus governados, parece faltar-lhe a chama que conduz as gentes aos grandes feitos. Não pode ter a arrogância de pensar que não necessita de todos nós para o conseguir e que apenas teremos de nos contentar com a esperança nos resultados do seu trabalho que teremos de ter como o melhor para resolver todos os problemas. Não é assim porque grandes são os chefes que motivam os seus comandados e lhes fazem sentir as razões nobres da luta que travam e, por isso, a inevitabilidade das perdas que sofrem. Não se ganham batalhas com exércitos submissos e ignorantes das causas por que lutam, como se não ganham, também, com as insurreições dos descontentes ou dos que pretenderiam ser eles os chefes!
É a baralhação total neste país e num mundo que ainda não entendeu que tem de mudar muita coisa e que os tempos de falsa abastança que viveu não voltam mais.

quinta-feira, 22 de março de 2012

SEM TRANSPORTES, A GREVE ACONTECE!

Bastará aos promotores garantir a adesão dos transportes para que a greve assuma uma dimensão que, de outro modo, não teria. É o que se chama um golpe baixo e sujo que obrigará muita gente a perder um dia de trabalho e ter o respectivo corte salarial que muita diferença lhe fará nos seus já escassos recursos para enfrentar as necessidades do dia a dia!
Além disso, arregimentam-se os muitos que, ao longo de anos e anos, se habituaram a viver de subsídios e de outros benefícios sociais que lhes permitia acordar com o dia já ganho e tem-se uma greve que até pode parecer geral mas que, de todo, o não é! É uma imensa mentira que discursos inflamados e estatísticas empoladas farão parecer um evento social histórico.
Quantos serão os impedidos de se deslocarem para ir trabalhar porque não têm transporte e quantos não poderão, também, faze-lo porque os “piquetes de greve” lho não consentem? Todos estes terão a perda de um salário que não será o investimento que o delegado do PCP na CGTP diz que será este dia perdido, porque não tem por base uma alternativa sequer para tornar menos dura a vida que esta austeridade inevitável provoca.
Garantir a adesão dos transportes não é difícil. É um sector em tempo de profunda crise que se segue ao de uma abastança que a ilusão de uma riqueza inexistente lhe permitiu viver até há não muito tempo atrás. Os trabalhadores sabem como o seu futuro é incerto porque não será possível continuar, como até aqui, a viver de crédito que não há, a fazer gastos excessivos e inúteis, a descuidar o que necessitaria de ser bem mantido, a usufruir de regalias que nada justifica e a ter oportunidades que poucos mais teriam.
É difícil entender como se chegou ao ponto em que o sector público dos transportes se encontra. Os governos sucessivos nomearam gestores incompetentes e a Assembleia da República, que agora tanto barafusta, não controlou o que se passava como era seu estrito dever que fizesse. É caso para perguntar: os deputados que se dizem representantes do povo, andam a fazer o que? Será que não passam de meros delegados dos partidos que os escolhem e, por isso, apenas se preocupam com o mal dizer político? Será que não vão além do oportunismo que os faz preocupar sobretudo com os ordenados e as regalias que a si próprios atribuem, esquecendo os interesses do povo que, talvez iludido, os elegeu?
Esta democracia que o 25 de Abril criou foi vítima de muitas ilusões e de oportunismos dos quais agora vemos os efeitos. Poderia ter seguido outro caminho. Mas foram demasiadas as ansiedades que esperavam o seu momento de notoriedade, muita a avidez de ter o que nunca teve e excessiva a permissividade com que tudo foi consentido! Podia ter sido diferente, mas não foi.
Agora faz-se uma greve geral porquê? Para protestar contra os cortes salariais, contra as leis laborais, contra a austeridade a que a muita imprevidência, o desbarato e a leviandade nos levaram? Se fizerem chover dinheiro lembrem-se de mim porque sou dos que têm de pagar todas as “favas” que tanto desleixo e oportunismo de outros causou.

quarta-feira, 21 de março de 2012

A NATUREZA E A CIDADE

Os citadinos foram-se afastando da Natureza, envolvidos pela “floresta de betão” que foi crescendo. Foram deixando de sentir as maravilhas deste Todo a que pertencem.
Felizmente foram surgindo espaços que se transformam num interface onde a Natureza e a cidade se encontram, onde os citadinos podem reaproximar-se do que urbanizações maciças o afastaram.
É nesses espaços que podem ver como se revestem as árvores que o Inverno despiu, como a Natureza volta a florir, como é calmo olhar em volta se sentir que há vida para além da lufa-lufa que este nosso modo de viver impõe e que pode haver paz mesmo na crise!







HOJE É DIA DE POESIA, AMANHÃ DE GREVE GERAL, DEPOIS DE DESILUSÃO!

Acabo de ouvir diversas opiniões, entre as quais as de alguns economistas, que, perante os resultados da situação das nossas finanças públicas recentemente divulgados, divergem entre duas opiniões essenciais: Há ou não alternativa à austeridade?
Enquanto uns afirmam que sem esta austeridade o país se teria afundado e, em consequência, estaria a enfrentar muito maiores dificuldades e mais pobreza do que a austeridade lhe trás, dando as explicações que, naturalmente, a experiência da vida nos obriga a aceitar, outros afirmam que a alternativa existe, ainda que nunca digam qual seja! Mas eu poderei imaginar que seria a de entrarmos no grupo de Cuba, da Venezuela, da Coreia do Norte e de outros países onde a “abastança e a liberdade” fazem felizes os seus povos!
Mas passemos adiante.
Se comparadas com as afirmações do Ministro das Finanças que insiste na garantia da não necessidade de novo resgate e de que Portugal voltará aos “mercados” em Setembro de 2013, pois tudo corre como o previsto e estamos, já, a meio da ponte, as afirmações que escutei são, todas elas, contrárias ou, na melhor das hipóteses, de grandes dúvidas. Bom seria se... mas…
Não vou referir-me, de novo, àquelas outras participações avulsas neste programas, feitas de chavões que decalcam “a voz do dono”, porque, mais uma vez e a menos uma ou outra rara intervenção com alguma razoabilidade, deturpam circunstâncias, factos e afirmações para fazerem a demonstração impossível de que tudo seria melhor de um modo que ninguém diz qual seja!
O que seria correr melhor, afinal? Acabaria a austeridade que a penúria nos impõe? Voltaríamos à vida descuidada que antes levávamos? Poderíamos voltar a fazer a vida de ricos que não somos? O que seria diferente, afinal?
É óbvio que, como ouvi Octávio Teixeira afirmar, a austeridade não é expansionista, uma verdade que não contradiz ninguém pois jamais alguém afirmou o contrário. O mesmo não digo em relação à alternativa que diz existir, pois o mesmo afirmam Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e outros que, apesar da insistência da afirmação, nunca deram a conhecer o que seria o seu projecto de desenvolvimento do país nem qual seria a felicidade que o povo, desse modo, viveria.
Depois há, também, aqueles que, não podendo iludir as causas nem defender os causadores desta situação vergonhosa que vivemos, atabalhoadamente lançam as culpas mas costas de outros a quem atribuem atitudes e afirmações que nunca fizeram ou que deturpam de modo descarado.
Não será assim que as coisas vão melhorar. Certamente.
Também a análise que faço das coisas me não permite concordar com o Ministro das Finanças e, de um modo geral, com todos os demais. A razão é simples e baseia-se na escassez global que não vai permitir, seja a quem for neste mundo, continuar a jogar o jogo que têm jogado numa perspectiva de abundância que a realidade não consente.
É a hora de entender que o jogo agora é outro, mais próximo da sobrevivência que caracterizou os nossos antepassados do que da grandiosidade que nos conduz à perdição.
Acredito no Homem e nas suas capacidades para mudar o mundo, o modo de nele viver, mas sem qualquer expressão quando se trata de querer mudar a Natureza que é, afinal, tudo aquilo de que dispomos para viver.
Há tanta coisa que se pode fazer para viver bem neste mundo onde, apesar de tudo, o Homem pode ser feliz.
Hoje é o dia da poesia e ouvi alguém ler um poema em que Shakespeare afirma “mudai o mundo que o Homem mudará também”. Pois bem, o mundo mudou. Não precisamos de grandes rasgos de observação para sabermos que mudou. Então porque não muda o Homem? Por que continua a desejar o impossível, em manifestações ridículas em que se deixa levar pelos interesses dos que as promovem, em vez de olhar de frente a realidade e fazer o que, se ele o não fizer, a Natureza fará por si? Com dores imensas, podem crer!

segunda-feira, 19 de março de 2012

DA ABASTANÇA À CRISE, DA CRISE À GREVE GERAL

A vida estava a correr bem. No emprego ganhava-se razoavelmente, havia tempo para umas coisitas por fora e descontados os fins de semana, os feriados, as pontes e as férias, até que nem era mau de todo o que se recebia cartoze vezes por ano!
Pensou o Venâncio que, deste modo, poderia ter o que durante tanto tempo sonhou, até mesmo um fato por medida no melhor alfaiate da cidade! E porque não se o banco até emprestava o dinheiro? Falou com a mulher que lhe disse que talvez fosse melhor não exagerar, fazer um pé-de-meia porque os filhos haveriam de crescer, ir estudar e tirar um curso para terem um bom futuro. Mas o Venâncio estava decidido e foi mesmo ao alfaiate.
Um dia regressou com o fato já pronto. Era do melhor tecido e o corte devia ser impecável tendo em vista o preço que pagara.
Vestiu-o e chamou a mulher para lhe mostrar a preciosidade. Mas ela logo notou uma pequena ruga num ombro o que, numa peça como esta era inaceitável! E vai o Venâncio ao alfaiate para reclamar, porque o fato teria de ficar impecável, pois fora esse o negócio. O “mestre” olhou o fato e o Venâncio e, com um sorriso complacente disse-lhe: meu caro senhor, isto não é defeito algum. Tenho aqui como clientes os maiores intelectuais do país e, se já reparou, nenhum deles tem os ombros bem direitos em consequência da posição de escrever. Se levantar um pouco o ombro esquerdo verá que a ruga desaparece. E desapareceu mesmo.
Ufano, o Venâncio voltou para casa, chamou a mulher e disse-lhe: ainda temos muito para aprender. Repara mulher que o fino é não ter os ombros da mesma altura. Fica-se com um ar de intelectual e o fato não tem rugas.
A mulher arregalou os olhos de admiração, apreciou o fato e verificou que a ruga tinha desaparecido. Oh! Mas outra se tinha formado nas costas. As costas do casaco deixaram de cair bem! Já pouco agradado com a coisa, lá volta o Venâncio ao alfaiate para reclamar da nova ruga, desta vez nas costas. O “mestre” mais uma vez lhe explica que era o efeito de não ter colocado bem o ombro porque, se reparasse bem, os intelectuais também iam adquirindo uma deformação nas costas e que se ele assumisse a posição que era a certa, também essa ruga desapareceria. E desapareceu!
Mais uma vez o Venâncio teve de explicar à mulher estas coisas que ela não sabia mas que eram, afinal, o que distinguia um homem de sucesso de qualquer outro. Vestiu o fato, adquiriu a pose recomendada e… sem ruga!
Mas a mulher notou que, em consequência, se formara uma outra ruga, desta vez por baixo do braço direito… e lá andou o Venâncio entre a casa e o alfaiate tantas vezes que, todo deformado, conseguiu que o fato não tivesse uma só ruga.
Cheio de empáfia, saiu o Venâncio à rua com o seu fato novo e a sua nova pose de homem bem sucedido, mas logo houve quem comentasse: há alfaiates muito bons. Olha aquele tipo todo empenadinho e o fato assenta-lhe como uma luva!
Invejou-lhe a massa que teria para poder ter um fato de um tecido tão bom e poder servir-se de “mestres” que, com certeza, se fariam pagar bem. O que não sabia é que o fato ainda não estava pago, nem o carro, nem a TV, nem o computador do filho, nem aquelas férias no caribe, nem … Ainda devia tudo ao banco que lhe cobrava juros que não permitiam que a dívida decrescesse.
Talvez com esse fato, agora cheio de rugas e bem coçado, vai o Venâncio participar nas manifestações da greve geral de quinta-feira, contra a austeridade que cortou subsídios, os meses extra de pagamento, reduziu o número de feriados, acabou com as tolerâncias de ponto…

sábado, 17 de março de 2012

CAUSAS JUSTAS

São tantos os disparates feitos em desfavor do Estado, tão pesados os encargos que trazem a quem já tão sobrecarregado está por uma austeridade que não pode ser evitada que se multiplicam as “causas” a favor de outras tantas atitudes para pôr fim a desmandos que vão deixando exangue o país.
Não é fácil de acreditar que, em nome do Estado, se tenham assumido encargos e responsabilidades que em qualquer em contrato ou negócio de boa fé parecem não ter lugar.
Gostaria de corresponder a tantos pedidos de “causas” que me são dirigidos, todos merecedores da maior atenção e inspirados por uma mais do que justa repulsa pelos prejuízos de que a “magnanimidade” de certos governos é a causa e são a razão do sofrimento do povo, mas do qual os beneficiados ficam, obviamente, isentos.
Muito se tem falado das PPP e dos prejuízos que causam, do que o recente episódio da Lusoponte foi uma amostra do sorvedouro que elas são. Mas há outras “rendas” que o Estado paga e são escandalosas. Há muitos contratos que grupos de presssão não tiveram dificuldade em impôr a um Estado distraído nas suas responsabilidades de zelar pelo que pertence a todos e não é, não deve ser esbanjado em maus contratos ou favores alguns.
Caiu-me bem a promessa do Ministro da Economia de que nem uma vírgula se alterará nos propósitos do Governo para corrigir situações prejudiciais para o Estado que, dizia-se, a saída do Secretário de Estado da Energia tinha prejudicado. Foi dito, até, que ele teria sido a primeira vítima do confronto com os “interesses instalados”, contra os quais o Estado pouco pode.
Mas não devem os que abraçam estas “causas” baixar os braços nem desarmar nos seus intentos, para que seja criada a força que reclame, sem margem para dúvidas, o que é de todos nós e imponha, em nome do Direito e da Moral, que acabem as situações que tantos prejuízos nos causam.
A todos eu digo que estou com eles e que à deles sempre juntarei a minha voz na denúncia de tais casos e na exigência de que tudo seja feito para os acabar.

REDUZINDO AO ABSURDO...

(Publicado na edição de Março de 2012 do Notícias de Manteigas)

Passamos o tempo a procurar explicações para o que sucede, sobretudo quando o que sucede não é bom, quando a vida se torna mais difícil, quando o dinheiro escasseia e temos de pedir ajudas que outros nos possam e queiram dar. Nunca desinteressadamente, já se sabe. É o momento que se vive.
Põe-se a culpa no muito que gastaram o Estado e todos os que viveram acima das suas posses, critica-se o consumismo, denunciam-se as despesas excessivas, os gastos inúteis, os desperdícios, as decisões erradas e, até, a corrupção que as circunstâncias consentem.
O tempo tornou-nos permissivos e quase indiferentes ao que se passa, pouco nos importando que à nossa volta haja quem não tenha onde cair morto ou quem, até há pouco sem vintém, seja agora um milionário. Tudo nos parece natural nesta vida de ganância e do salve-se quem puder.
Consumimos mais do que produzimos e os excessos que satisfazem a ânsia de consumo que suporta a economia são a causa do egoísmo que mata a solidariedade, da degradação ambiental cujas graves consequências já sofremos e da crescente escassez de recursos que, afinal, nunca foram demais.
Para ultrapassar as dificuldades, os economistas são unânimes: é necessário que a economia cresça, que a produtividade aumente, produzir, exportar e consumir mais para dinamizar a economia! Aliás, que sentido faria produzir o que ninguém consumisse? Mas dizem, também, que é preciso poupar, gastar e importar menos para não desequilibrar as contas.
Por outro lado, a penúria obriga a reestruturar o Estado que, ao longo de muitos anos, numa função social mal esclarecida, foi o empregador de muitas dezenas de milhar de pessoas que o mercado de trabalho não absorvia porque tecnologias cada vez mais evoluídas e menos carentes de mão de obra as tornavam dispensáveis. Por isso, a reestruturação inevitável acaba por fazer agora os desempregados que seriam os excedentes normais da economia, sem que, entretanto, fosse entendido o problema e encontrada a solução.
Com todas estas contradições, fico sem saber qual a receita certa para vivermos melhor, sem a dureza da austeridade a que a bancarrota nos obriga e com a dignidade própria dos Seres Humanos que somos.
É neste cenário de confusão global que os “países ricos” entram em recessão e as “economias emergentes” vivem a breve ilusão que eles já viveram, a de uma economia em constante e imparável crescimento.
Conhecidos os resultados de tal leviandade que nos levou da euforia à contenção, do fausto à pobreza, eu pergunto se serão os pobres do Terceiro Mundo ou os arruinados do Mundo Desenvolvido quem vai consumir o excesso de produção que faz crescer os novos gigantes da economia que têm, dentro de si próprios, uma pobreza profunda e numerosa que não podem eliminar e tem sido a sua galinha dos ovos de ouro.
A resposta razoável que encontro é dar razão aos que, desde há muito, apontam os riscos de uma “civilização” consumista, intempestiva, incontrolada, destruidora do meio ambiente e sem hábitos sociais para além das “trocas e baldrocas” dos negócios, da especulação nas bolsas de valores que sobem e descem, dos afazeres sem fim que não deixam tempo para mais nada nem para ninguém, dos confrontos destruidores e das correrias loucas que fazem mortos e estropiados por esses caminhos fora.
Todos reconhecemos estes males sem os quais, porém, parece não sermos capazes de viver e, muito menos, a economia consegue crescer. Por isso, para além de inventar “necessidades”, a economia explora os nossos mais subtis defeitos para que o consumo não abrande. O modo sofisticado como nos seduz com propostas que acabarão por nos perder, faz lembrar o “canto da sereia” que tantos navios arrastou para o fundo do mar.
As consequências deste aliciamento são funestas. Para além dos muitos milhares de empresas que faliram em 2011, mais de onze mil famílias se declararam falidas também, uma atitude inevitável mas cujas consequências não são, ainda, bem conhecidas como forma de regressar a uma vida normal depois do período de carência absoluta que se lhe segue. E não se prevê que este ritmo abrande tão depressa.
Muitos dos efeitos desta crise nunca antes haviam sido sentidos. É a crise em que todas as “bolhas” rebentam numa sequência imparável que não deixa refúgio onde salvaguardar seja o que for.
Para além da procura do que possam ser as causas desta situação sem precedentes, uma abordagem diferente poderá esclarecer-nos sobre a razão de ser destes incómodos que, a intervalos cada vez menores e de modo cada vez mais severo afetam a economia e o bem estar de todos nós.
Imaginemos, então, que todos passávamos a ter os comportamentos certos, aqueles que os educadores nos apontam como os melhores, os estudiosos nos indicam serem necessários para preservar os equilíbrios indispensáveis à vida, as regras da boa convivência nos ditam e o respeito pela vida nos exige. Deste modo, não consumiríamos mais do que o necessário, seríamos contidos nos gastos, solidários nas atitudes e prudentes nas decisões, respeitaríamos a Natureza, não cometeríamos excessos alimentares nem teríamos outras práticas doentias, voltaríamos a usar mais a energia dos nossos músculos, andaríamos mais a pé, pouparíamos os recursos naturais, protegeríamos o ambiente e evitaríamos os danos que os desentendimentos violentos sempre causam.
Mas a economia ressentir-se-ia deste modo de proceder e aconteceria a recessão mais profunda de que há memória. A derrocada deste nosso modo de viver seria abruptamente inevitável, apenas porque havíamos decidido adotar comportamentos sóbrios, solidários e sãos, o modo de estar na vida que a Natureza nos consente sem castigo.
Em tudo isto parece haver semelhança entre a bíblica expulsão do Homem do Paraíso, por ter ido além do que lhe era permitido, e esta azáfama angustiada e incerta em que a Humanidade se enredou, numa ânsia ilimitada de ter cada vez mais e mais mas que, aos poucos, lhe pode dar menos e menos!
Talvez entre o Paraíso e o Homem haja incompatibilidades difíceis de superar ou a tentação de possuir seja mais forte do que o desejo de ser feliz!
Seja como for, não nos pode conduzir à felicidade e nem dar-nos segurança o que se alimenta das nossas fraquezas, assim como não se poderá prever vida longa ao que, arrogantemente, agride o que é mais forte, num confronto desigual em que o mais fraco acabará por ser vencido.
Rui de Carvalho
Lisboa, 9 fevereiro 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

SONDAGENS…

Pode usar-se a tradicional e abstracta expressão que diz que “as sondagens valem o que valem” ou, até mesmo, dizer que não têm qualquer valor, mas a verdade é que se acumulou já experiência bastante para as tornar razoavelmente credíveis e, por isso, as considerar como uma base de informação que os políticos não devem desprezar.
Quer as amostras utilizadas quer os questionários dos quais dependem as margens de erro e a clareza dos resultados, são já fruto de um saber que ao longo do tempo se foi acumulando, mas não é fácil, numa conjuntura como a que vivemos, quando tudo é desconfortável e as perspectivas de futuro são demasiado escuras, responder às questões que uma sondagem coloca.
Acabo de ver publicados os resultados de uma que mostra que, em relação à anteriormente feita, a “maioria” continua a existir e até se reforçou um pouco, que o PSD continuaria a ser o partido mais votado e que, tal como o CDS, viu reforçadas as intenções de voto, enquanto o PS perde um pouco nessas mesmas intenções.
Apesar destes resultados positivos, o Governo da Maioria continua com uma pontuação muito negativa, tendo abaixo de si apenas os Juízes e o Ministério Público.
Pode causar estranheza que, com a maioria a subir e com o PSD a continuar a ser, potencialmente, o partido mais votado e com melhor resultado do que na anterior sondagem, o Governo esteja a ser tão mal pontuado. Mas não me parece que seja de estranhar que assim aconteça. As razões que encontro são, essencialmente, duas: a maioria dos portugueses não confia nos socialistas para governar o país, por um lado e, por outro, não são capazes de considerar bom um governo que os obriga a viver uma austeridade dura, tão dura como a realidade que a impõe.
Estamos num período que coloca demasiadas incertezas quanto ao futuro, mesmo quanto ao mais próximo, com a esperança em melhores dias minada por tanta descrença que as análises de tantos especialistas diariamente alimentam.
Mas, aos poucos, vai germinando a ideia de que nada voltará a ser como antes e que um novo modo de viver terá de surgir em consequência da “desalavancagem” que toda a economia terá de sofrer, pois terão de acabar as dívidas, o que colocará as economias mais “prósperas” ao nível das suas reais potencialidades e a viver dos recursos próprios.
Muitas questões se colocam quando pensamos no futuro. Poderão, por exemplo, os Estados Unidos continuar a aumentar uma dívida que já ultrapassa 200% do seu enormíssimo PIB? Poderá a China continuar a ser uma economia próspera com mais de dois terços da sua população a viver em níveis de pobreza? Teria o Brasil o superavit de 20 mil milhões de dólares se desse à sua população um nível médio de vida igual ao dos portugueses? Poderão as “economias emergentes” continuar a crescer quando as “economias evoluídas” que as fizeram crescer cada vez menos lhes comprarão? E sei lá quantas questões mais…
Por aqui, ainda não me parece tarde para apreciar o trabalho do Governo que, diz a Troika, está a cumprir as obrigações assumidas no acordo de resgate. Mas, para além disso, é necessário um enorme “trabalho de sapa” cujos efeitos não são rápidos a manifestar-se, por mais que a nossa impaciência os reclame.
Este ano será decisivo em todos os aspectos. Não apenas veremos se somos capazes de sanear as nossas finanças, como saberemos como o próprio mundo vai reagir às dificuldades que, inevitavelmente, a situação de carência global a que chegou lhe vão colocar.

quinta-feira, 15 de março de 2012

CRITICA-SE O ARTISTA NÃO NA SUA CARA MAS PERANTE A SUA OBRA

Há quem preste bons serviços ao país quando diz o que pensa, se o faz de um modo sério, se fala de coisas concretas e importantes para todos nós, fazendo do que crê ser a verdade a sua batalha em prol de um melhor futuro. Mas outros há, porém, que fazem da TV o seu meio para tentar não desaparecer de um palco onde muito poucos, por vezes nenhuns, louvaram o papel que já lá desempenharam.
É o que me apetece dizer quando vejo Santana Lopes, para mim um falhado da política, aparecer a debitar sentenças como esta de dizer que “criticar Sócrates é bater em que já não está”, acrescentando que o Presidente da República deveria esperar o final do mandato para dizer o que disse no já muito célebre prefácio que tanta celeuma levantou!
Pois eu discordo por duas razões. Sócrates meteu o país numa alhada da qual resultam graves problemas para todos nós e, mesmo que a tradicional inimputabilidade dos políticos lhe garanta não ter de prestar outras contas, terá de ser julgado por erros que um Primeiro Ministro não deve cometer. Por isso, o juízo público é inevitável. Depois, não é esquecendo-os que os erros cometidos nos ensinam como fazer melhor, nem evitamos repeti-los no futuro.
Por outro lado, se Sócrates não está é porque decidiu afastar-se de uma cena onde, por certo, não seria bem olhado. Por isso, como parece ter anunciado, foi estudar Ciências Políticas em Paris, qual cirurgião que vai aprender a sê-lo depois de maltratar o doente.
Temos em funções um Governo que, para seu e nosso mal, não pode ser a simpatia que a todos conviria que fosse. E é assim por causas que não devem ser esquecidas, porque mais criticável do que falar de alguém nas suas costas seria fazer pagar o justo pelo pecador. Pelo menos por ora, enquanto a política que está a ser seguida não mostrar os seus efeitos.
Esquecer Sócrates e o seu tenebroso governo seria uma atitude de avestruz, metendo a cabeça na areia para não olhar o perigo!

quarta-feira, 14 de março de 2012

A LUTA TEM MESMO DE COMEÇAR?

Recebi um E_mail que tem por “assunto” que “a luta tem mesmo de começar”. Umas imagens iniciais do 25 de Abril, deixam a ideia de que o princípio de Otelo para uma nova revolução pode fazer carreira se a situação de austeridade se mantiver sem esperança de melhoria e se a sensação de injustiça de serem apenas os mais fracos a pagar a crise não for desfeita por factos exatamente contrários àquele que a demissão do Secretário de Estado da Energia deixa transparecer.
Diz o autor do mail que é tempo de começar a sentir que se faz justiça por atitudes que desmontem interesses instalados, castiguem corruptos, eliminem instituições desnecessárias, façam pagar quem roubou, estenda a austeridade a todos e muitas outras coisas que é perfeitamente justo reclamar.
Isto, na altura em que se diz que um membro do governo se demitiu por perder a luta que travou contra poderosos interesses instalados, é uma forte chamada de atenção ao governo de Passos Coelho para que, completada a primeira fase, a da contenção, passe rapidamente à seguinte que será a de homogeneizar a participação na salvação nacional e de arrumação de uma casa que anteriores manias de grandeza deixaram no caos.
Entretanto, torna-se urgente que as medidas destinadas ao relançamento da economia comecem a manifestar algum efeito e nos devolvam a esperança de um futuro um pouco melhor.
Eu sei, já o afirmei vezes sem conta, que a economia não irá recuperar, jamais, o “fulgor” de outros tempos insensatos, quando gastar para crescer era o lema. Sei, também, que não há direitos ou “conquistas” que resistam à falta de meios para os sustentar. Por isso, não vale a pena lutar por um retorno ao desvario de uma economia que se alimenta dos nossos próprios vícios.
Mas que vale a pena lutar por um esforço global justamente repartido, disso não tenho dúvidas!
O pedido de indemnização feito pela Lusoponte “pelo risco de variação nos impostos” que se acrescenta ao que outras empresas privadas já fizeram e parecem totalizar 1,2 mil milhões de euros, são atitudes a que o Estado tem de responder com força, rigor e severidade, porque o esforço para recuperar o país deve ser de todos.
A verdadeira luta será esta que terá de ser travada contra interesses muito fortes que estão habituados a impor-se ao Governo mas que, manda a equidade, devem participar, também,na austeridade que as circunstâncias impõem a todos.

terça-feira, 13 de março de 2012

A ODIOSA DÍVIDA DAS PPP

Depois de Miguel Relvas ter afirmado que “o orçamento das Estradas de Portugal é a ruína do país”, foi ontem, no programa “olhos nos olhos” de Judite de Sousa e Medina Carreira, o dia de ficar a saber coisas arrepiantes sobre estas Parcerias Público Privadas que, afinal, são, mesmo, o descalabro que o Ministro dos Assuntos Parlamentares diz que são. E devem ser, de facto, porque os números que envolvem são alarmantes e são opacamente medonhos os contratos que as regem.
Francamente, fiquei alarmado com os encargos a que os contratos destas parcerias nos obrigam, quer nos valores obrigatórios que são mais de cinquenta mil milhões até 2050 quer nos que correspondem à parte variável que resulta das negociações para ajustamentos que, de tempos a tempos, são feitas. Enfim, são encargos que a debilidade financeira do nosso país não vai permitir satisfazer, a menos que se estique, ainda mais, a corda da austeridade que ou abranda dentro de pouco tempo ou acabará por ter o efeito das curas que matam!
Mas impressionou-me, de modo incomum, o facto de trinta por cento dos encargos com PPP resultarem de contratos assinados nos últimos três anos dos governos de Sócrates – 2008 a 2011 – quando a chamada crise já tinha mostrado as suas garras! Felizmente que os correspondentes ao novo aeroporto de Lisboa e ao TGV foram ainda travados porque, a não o terem sido, a situação seria de descalabro iminente.
Para que Portugal consiga sair da embrulhada em que o meteram, este contratos têm de ser revistos e os valores que envolvem drasticamente reduzidos, estendendo a estes parceiros do Estado a austeridade e a participação no esforço global para reerguer o país.
Mas também, de algum modo e tendo em conta a parte não pública destes contratos desvantajosos para o Estado e contra os verdadeiros interesses dos seus cidadãos feitos por um governo que detinha todos os poderes e condições para assim proceder sem dar contas a mais ninguém, parece não ser totalmente descabida a noção de “dívida odiosa” como Alexander Sack chamou às contraídas por governos autoritários para objectivos estranhos aos interesses dos cidadãos, do que os credores tinham perfeita noção.
Era longo e quase estridente o coro dos que então clamavam contra os excessos esbanjadores do governo, a quem Sócrates respondia de forma bizarra, ora dizendo sentir-se o único a puxar pelo país ora clamando contra o discurso da tanga dos que, dizia também, não queriam o progresso! Vangloriou-se, mesmo, de ter tido a coragem de aumentar a dívida pública para dinamizar a economia…
Hoje temos um país cheio de auto-estradas que o tráfego reduzido não justifica, sendo Portugal um dos países do mundo com maior densidade deste tipo de vias. Seria esta uma prioridade num país com baixa média salarial e muita pobreza ainda ou seria um interesse das grandes construtoras que dominavam a economia?
A penúria absoluta a que estes encargos, demasiadamente elevados para as nossas capacidades, nos conduzirão, acabará por, a curto prazo, gerar um conflito de gestão dos parcos recursos disponíveis: pagar salários e pensões, sustentar os Serviços de Saúde e de Educação, além de outras obrigações básicas do Estado, de um lado e, do outro, pagar as vultosíssimas verbas que ruinosos contratos impõem contra o interesse real dos cidadãos.

segunda-feira, 12 de março de 2012

DO PREFÁCIO DO PRESIDENTE AO PASTEL DE NATA

Lembro-me de, quando era miúdo, gostar de ler aos sábados as previsões para os jogos de futebol de domingo que os conhecedores da coisa apoiavam em variados e complexos fatores para, na segunda-feira, ler o que os mesmos comentadores diziam depois de não terem acertado na maioria das coisas que disseram. Mas lá iam conseguindo razões ou desculpas para não ter sido como prenunciaram. Como é costume dizer, lá davam a volta ao texto. Então os jogos eram todos ao Domingo e à mesma hora, não havendo jornais desportivos diários como agora há.
Hoje divirto-me também, mas a escutar os comentários e as previsões de outros comentadores que, tão falíveis como aqueles, são, no entanto, mais requintados no seu modo de explicar as coisas, baseados em ciências outrora inexistentes e de tal modo que, quanto menos delas se entender… melhor!
Tenho adotado, ao longo da vida, um princípio que se tem revelado eficaz: quando me dão explicações que a lógica real me não permite entender, logo concluo que têm a maior probabilidade de estarem erradas. Desconfiadamente, fico atento. Quase sempre o tempo acaba por me dar razão.
Nos programas “especializados”, quando se pretende dar mais credibilidade a uma dada interpretação do que se passa na política, são chamados a opinar os constitucionalistas, os politólogos e outros mais desses sábios das ciências convencionais regidas por leis que eles próprios criaram, os quais sempre arranjam o que criticar em nome de princípios que, sem margens para dúvidas, definem e a sabedoria própria dos títulos que ostentam não consente ao comum mortal por em dúvida! Curiosamente, as críticas quase sempre são para dizer que está mal feito algo que devia ser feito melhor, mas que nunca explicam como fariam. E compreendo porque a sua função é criticar e não fazer…
Depois, também me não parece que os preconceitos que não conseguem disfarçar lhes permitam o uso pleno da inteligência que, por certo, possuem, tão grandes são os disparates que, por vezes, dizem em nome do que pretendem ser convicções mas, muitas vezes, não passam de interesses nos jogos de poder que caracterizam a democracia.
Depois da celeuma causada por um célebre prefácio que mereceu as maiores críticas certificadas por "competências incontestáveis", veio hoje o Senhor Presidente da República pedir que se leia, com atenção, o que escreveu e se encontre na Constituição a razão de ser da deslealdade que referiu.
Li e lá me fui recordando dos factos que menciona, sobretudo quando refere as críticas aos excessos de despesa e outras atitudes de gestão que muita gente criticava ao Governo então em funções. Lembro-me de muita coisa que li e que aqui escrevi a dizer que as coisas iam acabar mal. Como acabaram! Éramos os do discurso da tanga, como Sócrates gostava de dizer.
Quanto à “deslealdade institucional” e independentemente do que a Constituição a esse respeito nos possa dizer, acho que não informar o Presidente da República de situações ou de atitudes que possam ter impacto sensível e grave na vida do país é, sem dúvida, altamente reprovável. E foram as circunstâncias e não a Constituição que o vieram provar!
Esta lenga-lenga dos sábios comentadores e dos “engraçados” que a gozar com estas coisas ganham a vida, fez-me lembrar a questão dos pasteis de nata que tanta chacota custou ao Ministro da Economia.
Quando se trata de uma situação de dificuldades financeiras e económicas do tamanho das que vivemos, parecerá ridículo falar do aproveitamento dos pasteis de nata para as superar. Parece mas não é!
Saber ouvir e tirar do que se escuta as conclusões mais próprias, é dom que nem todos têm ou não querem ter, sobretudo quando lhes convém tirar partido da confusão que possam gerar e, assim, descredibilizar quem fale.
Pareceu-me que o Ministro nada mais quis do que dizer que sem produções em que, pela quantidade ou preço possamos concorrer com países de maiores meios ou socialmente menos evoluídos,deveríamos tirar partido de tantas coisas boas que temos e são muito apreciadas. E é isso que teremos de fazer.

sábado, 10 de março de 2012

SERÁ QUE VÃO ACABAR AS COSTELETAS?

A alimentação de uma população cada vez mais numerosa - sete mil milhões e a crescer... - é um dos graves problemas do nosso mundo. Este problema pode ser, a par dos que se verificam com outros recursos também, uma ameaça ao futuro e à sobrevivência da Humanidade.
Há muito que se chama a atenção para os perigos de muitos excessos que são cometidos em nome de conceitos de crescimento e de bem estar que não têm nas suas preocupações a satisfação das necessidades básicas essenciais de uma população mundial cada vez mais numerosa e mais carente do que lhe permita uma vida com a dignidade própria de seres humanos. A fome e a falta de higiene são flagelos para muitos milhares de milhões de pessoas.
A OMS diz ter sido atingido o objetivo do milénio que era proporcionar água potável a dois mil milhões de pessoas em todo o mundo, o que, todavia, deixa ainda cinco mil milhões sem acesso a um bem essencial à vida saudável. Também a fome continua a ser o drama maior de outros tantos milhares de milhões, entre os quais muitas crianças que morrem precocemente.
A Humanidade já se deu conta de que não consegue produzir alimentos bastantes, apesar de todos os esforços para melhorar os rendimentos das culturas e a alimentação dos animais, do que, bem se sabe, têm resultado alguns problemas sérios de saúde pública, para além do decréscimo da qualidade dos alimentos produzidos, senão mesmo a sua contaminação por toxinas.
Procuram-se novas soluções como, por exemplo, a que agora se anuncia e diz respeito à produção de carne artificial que, dizem os que preparam tal “alimento”, poderá estar disponível dentro de dez anos. Não sei se a carne que assim vai ser produzida será bife da vazia, da alcatra ou de outro lado qualquer, mas temo que a saborosa costeleta esteja fora de questão neste processo que não deve produzir osso!
Pessoalmente, não creio que a solução para os problemas do Homem, sejam eles quais forem, se encontre fora dos ciclos próprios da Natureza como, desde há já algum tempo, se tem tentado.
Não duvido da capacidade do Homem para ultrapassar os problemas que se lhe deparem mas, para isso, terá de ser a sobrevivência a sua preocupação e não as cotações das bolsas e outras coisas com que se tem distraído...

sexta-feira, 9 de março de 2012

DE REGRESSO A SÓCRATES

O dia acordou perturbado por um prefácio do Presidente da República no livro Roteiro VI, no qual Sócrates é acusado de falta de lealdade institucional, de falta de diálogo com a Oposição e sei lá mais que coisas que agitaram o PS que, em peso, saiu a terreiro para defender o seu antigo líder.
Tudo muito bem aproveitado pela comunicação social com títulos apelativos e com os célebres programas de antena aberta, onde cada um diz o que lhe vai na alma ou lhe dá na gana, na crista da onda.
Apesar de considerar estes programas um jornalismo negativo porque mais desinforma do que informa, vou-lhes prestando alguma atenção porque, assim, vou-me dando conta do nível de confusão e de desinformação em que este país se encontra.
Poucas vezes ouvi chamar tantos nomes a alguém, desta vez a Cavaco Silva que, entre muitas coisas, desde desleal, mentiroso, incompetente e, até, insano, foi aconselhado a tratar-se se, porventura, não se sentir bem.
Não morro de amores pela pessoa que, de algum modo, tem culpas neste cartório por, quando governante, ter prestado mais atenção aos aspectos materiais do que aos aspectos sociais nesta sociedade que acabou arruinada por sonhar com grandezas que jamais poderia ter. Mas, mesmo assim, soaram-me a excessivas as atitudes de repúdio por seja o que for que tenha dito ou feito, sobretudo quando são tomadas por quem mais culpas tem neste folhetim de horrores que estamos a viver.
A exaltação de Sócrates também não podia ter faltado da parte dos que continuam a considera-lo um excelente Primeiro Ministro que fez o país prosperar, ao longo de cujo governo vivíamos muito melhor do que com esta governação que temos agora e que corta salários, acaba com benefícios, aumenta impostos.
Estou de acordo que se vivia melhor no tempo do governo de Sócrates do que no tempo deste governo de Passos Coelho que, sendo assim, perde no confronto com o antigo líder socialista. Terei mesmo de dizer, sentidamente, que este é um mau governo que, nem sequer, deveria existir! E não existiria, por certo, se o de Sócrates não tivesse existido antes.
Este critério de julgar governos faz-me recordar uma anedota em que dois bêbados caminhavam pela avenida abaixo dizendo que “um bom governo poria o vinho a pataco e de borla as sardinhas para acompanhar...”, além de outras coisas parecidas até que, de tantos tropeções um no outro, acabaram por se estatelar. Seguia-os um outro bêbado muito interessado na conversa que logo comentou: “estava a formar-se um governo tão bom e já caiu!”

quinta-feira, 8 de março de 2012

O SUPORTE LEGAL

Segundo o que é de domínio público, a empresa concessionária da Ponte sobre o Tejo tem um contrato com o Estado Português pelo qual recebe uma indemnização por não cobrar portagens durante o mês de Agosto de cada ano. É natural que o Estado pague à concessionária por uma benesse que pretende dar aos cidadãos, a qual terá sido estabelecida em função das perdas prováveis que ela teria. Nada de recriminatório haverá nesta atitude.
Mas em tempo de austeridade, quando o Estado retira aos cidadãos direitos e benefícios que tinham porque os não pode manter, natural é que não pagar portagens na Ponte Sobre o Tejo em Agosto seja um dos benefícios retirados. Também nesta atitude nada haverá de estranho.
Pensar-se-á que, procedendo assim, o Estado pretende poupar a indeminização que costuma pagar! É natural pensar assim porque, não existindo a razão para a pagar, ela não será devida.
Por isso, as Estradas de Portugal deduziram no pagamento da indemnização as portagens cobradas. Mas parece que não é assim porque o Secretário de Estado a quem compete este foro mandou restituir à concessionária o que fora deduzido com o argumento de que não há base legal para a deduzir!!! Já não parece natural que seja assim porque, sem causa, como pode haver pagamento?
Foi esta uma questão colocada ao Primeiro Ministro no Parlamento, à qual, depois de receber informações da respetiva Secretaria de Estado, respondeu que não haveria a duplicação de pagamento a que a atitude do Secretário de Estado parecia corresponder.
No dia seguinte, diz a comunicação social ter sido o Primeiro Ministro desmentido pelo Secretário de Estado que insistirá na falta de base legal para não deduzir as portagens cobradas na indemnização, acrescentando argumentos de riscos e outras razões estranhas em que a “legalidade” é pródiga.
Eu não conheço o contrato que o Estado fez com a Lusoponte, mas é natural pensar que nele se diga que a indemnização é devida para compensar a não cobrança de receitas. O motivo, o único motivo natural para ser assim.
Ora, eu diria que as Estradas de Portugal não deveriam ter deduzido as portagens cobradas em Agosto à indemnização acordada por não serem cobradas, mas sim apenas ter entregue à Lusoponte as portagens recebidas. Assim me pareceria natural, a menos que – e disso me não admiraria – o Estado tenha feito mais um daqueles contratos macacos pelos quais sempre sai prejudicado!
Admitindo que esse contrato macaco exista, duas atitudes se imporiam: a primeira corrigir um contrato que não faz sentido e no qual, até mesmo, pode haver má fé, depois chamar à pedra quem, em nome do Estado, o tenha negociado!
Finalmente, uma pergunta: se as coisas não eram a naturalidade que a lógica mostra que deveriam ser, qual a razão pela qual se decidiu uma cobrança de portagens que prejudica os cidadãos e não beneficia o Estado?
E por falar em legalidade em tempo de austeridade inevitável, não se poderia discutir, também, a legalidade de tantas medidas que foram tomadas e nos andam a fazer penar?

quarta-feira, 7 de março de 2012

A ESTUPIDEZ FEITA POLÍTICA É OS PAÍSES SUBMETEREM-SE À FINANÇA (Francisco Louçã)

Esta é uma afirmação com a qual apetece estar de acordo sem mais pensar se não fosse a verdade que pretende esconder e é a estupidez de os países pedirem à finança o dinheiro que não têm para satisfazer os seus caprichos de grandeza!
Não admira que afirmações como aquela, sem explicar as consequências de proceder como sugerem, soem bem a tanta gente que passa mal em consequência da austeridade a que os disparates de outros a obrigam. A pobreza extrema e a fome são tormentos insuportáveis mas que se tornariam ainda maiores se caíssemos no descrédito dos incumpridores.
Talvez a razão de tal princípio seja o ditado que afirma que “o mal de muitos é conforto”... Mas não é, por certo, porque, no meio de uma pobreza total, de onde viria o que necessitaríamos para viver?
A austeridade é, infelizmente, inevitável e não adianta dizer mal de quem tem de a gerir. Pode discutir-se se seria melhor deste ou daquele modo, mas por em causa o respeito pelas obrigações assumidas é inadmissível.
Melhor solução me parece a que os islandeses adoptaram, a de responsabilizar quem creem culpado do mal que lhes bateu à porta, coisa que, entre nós, seria um sacrilégio! Mas qual será a razão para não julgar quem, por má gestão, gerou tanto sofrimento?
Como pode haver responsáveis num país onde haja inimputáveis pelos actos que praticam?

OS DEBATES QUINZENAIS NA AR

Já me dei ao cuidado de assistir a estes debates por diversas vezes, o que a ARTv agora torna fácil.
Apesar da oratória verborrenta em que se cruzam estilos de maior ou menor qualidade, a qual, por vezes, é quase empolgante, insistir nesta audição é uma pura perda de tempo porque nada de novo ou de importante ali se passa ou ali é dito, a não ser para jornais e televisões que, depois, o exploram das mais variadas formas.
Nestes debates, discutem-se as mesmas queixas que se ouvem ao longo da semana, os mesmos “factos” que títulos impróprios de notícias já transformaram em realidade, as mesmas picardias truculentas que, de tão correntes, já podiam constar de um manual e repetem-se queixas e argumentos que se ouviram no passado e por mais de uma vez. As respostas são as óbvias e já esperadas em cada caso, por tantas vezes que tiveram de ser dadas.
De um modo mais ou menos aprimorado, mais ou menos agressivo, lá se vão sucedendo as intervenções que uns aplaudem e outros não, em que uns são mais incisivos do que outros mas que, no final, quando resumidas, não passam do mesmo rosário de lamúrias a que o dia a dia num país quase falido naturalmente dá aso e dos mesmos argumentos lamechas que a infeliz pobreza de muitos inspira a quem a não sofre.
Enfim, tudo se passa do mesmo jeito que numa campanha eleitoral em vez de do modo como a urgente necessidade de resolver os problemas graves do país justificaria, com o empenhamento de todos.
Quem ganha com tudo isto é a comunicação social que aproveita estas trocas de mimos para pisar e repisar os assuntos e nem sempre de um modo em que se possa confiar plenamente, fazendo de um excesso de informação a bagunça que a tanta gente confunde.
Há muito que entendo ser o parlamentarismo um regime caduco a necessitar de uma profunda reforma nestes tempos em que cada vez é mais difícil iludir a verdade que a realidade impõe e, por isso, com problemas que se não resolvem com o palavreado parlamentar nem deixam margem para, na dialética que lhe é própria, fingir que é o que, de facto, não é ou que não seja aquilo que, mostram as evidências, não pode ser negado!
O tempo de parlamentares famosos, como Disraeli e outros, já lá vai, assim como as margens para errar se tornaram tão pequenas que os efeitos dos erros se vão tornando, cada vez mais, irrecuperáveis.
Já me manifestei a propósito de concordar com uma redução sensível do número de deputados neste órgão de soberania de utilidade cada vez mais discutível. Mas não será apenas o número de deputados que terá de ser revisto porque, sobretudo, é necessário transformar a AR em algo totalmente útil para o país.

ECONOMIA OU FINANÇAS?

Não me tem caído bem a história da gestão ou coordenação ou seja lá o que for dos milhões do QREN que, diz-se, o ministro das finanças tentou chamar para si num conselho de ministros em que Passos Coelho não esteve presente. É dos livros que os ministros das finanças ficam loucos quando algum tostão lhes passa ao lado!
Não me parece que haja qualquer razão para o ministro das finanças dizer seja o que for em relação ao Quadro de Referência Estratégico Nacional que constitui o enquadramento para a aplicação da política comunitária de coesão económica, pois deveria ser suposto que, depois de negociado, o QREN exigiria que as verbas nacionais necessárias estivessem orçamentadas.
Mais me preocupou, porém, a atitude do primeiro ministro que, depois de ter conhecimento da arremetida aos fundos comunitários destinados à economia feita nas suas costas, tomou uma decisão que o não é, porque nada mais foi do que deitar água na fervura que se levantou, o que foi, notoriamente, uma submissão ao “dono das chaves do cofre” que, diz ele, apenas terá uma palavra decisiva sobre as decisões na aplicação de tais fundos. Eu pergunto: que palavra? Não é uma decisão do foro da economia o como, quando e onde aplicar tais fundos? E, mais do que isso, não pertence ao primeiro ministro ter a última palavra sobre o que o ministro da economia decida? Que decida ele ou qualquer outro ministro, incluindo o das finanças. Afinal quem é responsável pelo governo do país, ele que venceu umas eleições ou um ministro que ele escolheu para as finanças ou para outra pasta qualquer?
Curiosas são sempre as relações entre os primeiros ministros e os ministros das finanças. Ao contrário do que se passou no governo de Sócrates que obrigou a seu ministro das finanças a “comer o pão que o diabo amassou”, parece agora que é o ministro das finanças que se impõe ao primeiro ministro!
Deixa-me preocupado o que se passou porque penso que nada deveria por em causa a importância que o QREN tem no relançamento da economia portuguesa. Se alguma coisa o ministro das finanças tem para fazer neste domínio será garantir as condições indispensáveis para que os fundos possam ser utilizados e não, como de costume, perdidos.

sexta-feira, 2 de março de 2012

OS ARAUTOS DA DESGRAÇA

Escrevi ontem que era no desencontro entre os efeitos das medidas de austeridade e das medidas estruturais, imediatos os de uma e retardados os da outra, mas ambas indispensáveis para evitar a bancarrota que se aproximava, que se cava o fosso da calamidade que é o desemprego. É natural que, entretanto, alguma coisa tenha de ser feita, mesmo que de forma temporária, tendo em vista minorar os seus efeitos sociais perversos e os sofrimentos dos que não têm como ganhar o pão de cada dia.
Será o que o governo pretende fazer com a utilização de verbas comunitárias para criar estágios e cursos de aperfeiçoamento para jovens, o que, num país que carece de melhor preparação, embora sendo necessariamente transitório, tem virtudes que se não podem desprezar. Atenuam os efeitos do desemprego jovem e melhoram a sua preparação para o futuro. Espero que não do modo como aconteceu na década de 90 quando tanto dinheiro comunitário destinado a acções de formação foi malbaratado, se não mesmo transviado. Isso competirá ao governo garantir.
Parece-me, pois, boa esta iniciativa, mas não me espanta que, apesar das vantagens relativas que me parece que tem, logo apareçam os “profissionais do contra”, tão ruidosos como uma matilha de mabecos, que outra coisa não fazem senão maldizer, afirmando que não chega, que é preciso muito mais, que isto e aquilo, enfim, que nunca encontram bondade no quer que seja que se faça. Na medida em que arregimentam fracas cabeças incapazes de filtrar o que outras lhes impingem, mais não fazem do que dificultar mais o que não é fácil e atrasar um processo excessivamente doloroso para os mais desprotegidos que, compreende-se, se encontram entre os mais vulneráveis às atoardas demagógicas que lhes são impingidas.
Como qualquer pessoa, não posso deixar de sentir receios, de ter dúvidas quanto ao futuro, sobretudo quando, para além do que nós próprios fizermos, tanto depende de outros, do que façam ou do que lhes aconteça. Por isso, prefiro ter fé e esperar que tudo resulte bem, pois não me parece que o caminho que está a ser seguido não seja o que as circunstâncias justificam. De momento não tenho como não o apoiar. Espero que o tempo me não traga desilusões.
Em suma, continuarei a maldizer os que colocaram o meu país na difícil situação em que se encontra, por mais que pretendam esconder, em críticas despudoradas, as culpas que lhes pertencem, ao mesmo tempo que desejo, do fundo do coração, que os que procuram recuperá-lo, sejam eles quem forem, tenham todo o sucesso na dura missão a que se entregaram.
Continuo a lamentar esta mentalidade tacanha que “o velho, o rapaz e o burro”, a que já aqui me referi um dia, tão bem retrata! Somos, mesmo, um país de maldizentes crónicos e impenitentes, de “chicos espertos” que, na sua verborreia histérica, pretendem convencer os demais que julgam burros.
Governar um país assim deve ser tão fácil como ir com um boi à caça!

quinta-feira, 1 de março de 2012

CONVERSAS DA TRETA PARA FAZER DE CONTA

Já enfada ouvir sempre as mesmas tretas que por aí se debitam sobre a crise, porém sem que se demonstre como, sem fazer como o governo faz, se deveria fazer para voltarmos a ser “ricos”.
Não há oposição nem críticas mais fáceis do que as que podem ser feitas a um governo que tem de enfrentar uma situação de emergência e, ainda por cima, está condicionado por um “resgate” que o anterior provocou com os erros que cometeu e nas condições em que o negociou.
Que apenas austeridade não é solução para a crise, que o desemprego é uma sua consequência direta e que são necessárias políticas de desenvolvimento para melhorar o nível de vida, são verdades lapalissianas que a cada dia que passa se tornam mais redundantes. Apenas não oiço insistir em que, nas circunstâncias em que o país se encontra, ambas são indispensáveis e que os seus efeitos se não fazem sentir nem do mesmo modo nem no mesmo ritmo.
A austeridade faz equilibrar as contas e as boas reformas estruturais haverão de tornar o país mais produtivo. Porém, enquanto a primeira produz efeitos imediatos, a segunda necessita de tempo para mostrar os seus, sendo neste desencontro que se abre o fosso da calamidade que é o desemprego.
É uma situação complexa a que está em causa e não um aspeto ou outro que se realce ou, até, se deturpe para fazer a “demonstração” que se pretenda.
Infelizmente, falta empenhamento neste país que demasiados interesses dividem, falta credibilidade numa comunicação social que já deu motivos de sobra para que se não confie totalmente no que transmita, falta pudor aos que, impunemente, tudo fazem para que outros expiem as culpas que, afinal, são apenas suas.
Não acredito, de todo, numa recuperação que nos devolva o modo de vida que tivémos se não reabilitarmos valores que desprezámos e não voltarmos a aproveitar os recursos que temos deixado ao abandono, porque a vida airada acabou! E não apenas para nós.
Valerá a pena continuar a fazer de conta com conversas da treta?

A PEDIR CHUVA

Vai longo demais este Verão frio a que antigamente se chamava Inverno! Há mais de dois meses que não chove, brilha o Sol e fica o solo ressequido, de tal modo que os bombeiros têm, nesta altura do ano, o trabalho que, habitualmente, teriam em Agosto.
O principal problema da água é nunca existir na medida certa, porque é demais em tempo de cheias e de menos em tempo de seca.
Lembro-me dos tempos em que as chamadas Quatro Estações eram uma realidade que os livros pelos quais aprendíamos definiam de um modo preciso e muito claro. Agora, seja por influência dos excessos cometidos pelo Homem na sua atividade económica ultra consumista que acumula excessivos gases de estufa na atmosfera, seja porque é próprio da Natureza num mundo em permanente mudança ou seja por ambas as razões, o clima está nitidamente modificado. O pior é esta evolução demasiadamente rápida para a tradicional inércia dos resistem à mudança, dos que pretendem que tudo seja sempre igual, dos que nem sequer entendem o que se está realmente a passar e, sobretudo, para aqueles cujos interesses a mudança afeta.
Poderemos até dizer que esta seca é normal porque as secas existem, porque em todas as estatísticas há extremos. Mas há, também, a média que, quando a frequência dos extremos se altera, necessariamente se modifica.
Até que ponto é o Homem o culpado pelo que se passa nas alterações climáticas? Não será toda sua a culpa, mas pertence-lhe a que faz acelerar efeitos que poderiam e deveriam ser naturalmente mais lentos.
Quem sabe este fim de semana a chuva voltará...