Lembro-me de, quando era miúdo, gostar de ler aos sábados as previsões para os jogos de futebol de domingo que os conhecedores da coisa apoiavam em variados e complexos fatores para, na segunda-feira, ler o que os mesmos comentadores diziam depois de não terem acertado na maioria das coisas que disseram. Mas lá iam conseguindo razões ou desculpas para não ter sido como prenunciaram. Como é costume dizer, lá davam a volta ao texto. Então os jogos eram todos ao Domingo e à mesma hora, não havendo jornais desportivos diários como agora há.
Hoje divirto-me também, mas a escutar os comentários e as previsões de outros comentadores que, tão falíveis como aqueles, são, no entanto, mais requintados no seu modo de explicar as coisas, baseados em ciências outrora inexistentes e de tal modo que, quanto menos delas se entender… melhor!
Tenho adotado, ao longo da vida, um princípio que se tem revelado eficaz: quando me dão explicações que a lógica real me não permite entender, logo concluo que têm a maior probabilidade de estarem erradas. Desconfiadamente, fico atento. Quase sempre o tempo acaba por me dar razão.
Nos programas “especializados”, quando se pretende dar mais credibilidade a uma dada interpretação do que se passa na política, são chamados a opinar os constitucionalistas, os politólogos e outros mais desses sábios das ciências convencionais regidas por leis que eles próprios criaram, os quais sempre arranjam o que criticar em nome de princípios que, sem margens para dúvidas, definem e a sabedoria própria dos títulos que ostentam não consente ao comum mortal por em dúvida! Curiosamente, as críticas quase sempre são para dizer que está mal feito algo que devia ser feito melhor, mas que nunca explicam como fariam. E compreendo porque a sua função é criticar e não fazer…
Depois, também me não parece que os preconceitos que não conseguem disfarçar lhes permitam o uso pleno da inteligência que, por certo, possuem, tão grandes são os disparates que, por vezes, dizem em nome do que pretendem ser convicções mas, muitas vezes, não passam de interesses nos jogos de poder que caracterizam a democracia.
Depois da celeuma causada por um célebre prefácio que mereceu as maiores críticas certificadas por "competências incontestáveis", veio hoje o Senhor Presidente da República pedir que se leia, com atenção, o que escreveu e se encontre na Constituição a razão de ser da deslealdade que referiu.
Li e lá me fui recordando dos factos que menciona, sobretudo quando refere as críticas aos excessos de despesa e outras atitudes de gestão que muita gente criticava ao Governo então em funções. Lembro-me de muita coisa que li e que aqui escrevi a dizer que as coisas iam acabar mal. Como acabaram! Éramos os do discurso da tanga, como Sócrates gostava de dizer.
Quanto à “deslealdade institucional” e independentemente do que a Constituição a esse respeito nos possa dizer, acho que não informar o Presidente da República de situações ou de atitudes que possam ter impacto sensível e grave na vida do país é, sem dúvida, altamente reprovável. E foram as circunstâncias e não a Constituição que o vieram provar!
Esta lenga-lenga dos sábios comentadores e dos “engraçados” que a gozar com estas coisas ganham a vida, fez-me lembrar a questão dos pasteis de nata que tanta chacota custou ao Ministro da Economia.
Quando se trata de uma situação de dificuldades financeiras e económicas do tamanho das que vivemos, parecerá ridículo falar do aproveitamento dos pasteis de nata para as superar. Parece mas não é!
Saber ouvir e tirar do que se escuta as conclusões mais próprias, é dom que nem todos têm ou não querem ter, sobretudo quando lhes convém tirar partido da confusão que possam gerar e, assim, descredibilizar quem fale.
Pareceu-me que o Ministro nada mais quis do que dizer que sem produções em que, pela quantidade ou preço possamos concorrer com países de maiores meios ou socialmente menos evoluídos,deveríamos tirar partido de tantas coisas boas que temos e são muito apreciadas. E é isso que teremos de fazer.
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