ACORDO ORTOGRÁFICO

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terça-feira, 27 de março de 2012

SOCIALISMO E ESTADO SOCIAL

Apesar da minha convicção de estarmos a viver os últimos tempos de uma abastança que nada justifica e a realidade mostra ser impossível de manter, considerando inevitável que uma nova forma de economia seja adotada, não sou avesso aos esforços que o governo faz para recuperar a que foi devastada por disparates imensos, por oportunismos que dela criminosamente se aproveitaram e por um inqualificável desprezo pelo que que é de todos e, por isso, deveria merecer todo o respeito a quem foi dada a responsabilidade de o gerir.
Aos poucos nos vamos apercebendo da enormidade do buraco em que caímos, bem como dos erros e das irregularidades que para ele contribuíram.
Corremos atrás de maus exemplos de outros governos que vivem acumulando dívidas que já ultrapassam mais de duas vezes o PIB ou conseguem registar resultados orçamentais positivos enquanto a maior parte dos seus governados sofrem as agruras da pobreza.
Deixámo-nos embalar por uma ilusão de socialismo que distribui o que não gera e concede benefícios que não tem como garantir.
Apegamo-nos a direitos que a Constituição confere, porém sem nada contribuir para os podermos merecer.
Tapamos os olhos para não ver a crua realidade que os factos representam e gritamos aqui del rei que nos querem roubar!
Afadigam-se os responsáveis a apagar traços de irregularidades, fazer barulhos que confundam as vozes que as apontam, apresentar razões que mais não fazem do que brincar com a inteligência dos que, mais cedo ou mais tarde, haverão de os julgar.
Está a ser muito difícil para todos viver este tempo de privações e nem todos estarão ainda capazes de identificar aqueles contra quem reclamar porque, como é de todos os tempos, se continua a confundir a mensagem com o mensageiro.
Por isso me é grato reconhecer aqui a retidão e a verticalidade de um homem que fez parte do governo de Sócrates, Luis Amado, que, numa extensa e muito esclarecedora entrevista reconheceu que o governo actual está a fazer o que se tornou inevitável em face da situação a que o país chegou! Afirmou, mesmo, que a urgência de sair da situação de resgate em que nos encontramos é premente, o que ele, como Ministro dos Negócios Estrangeiros que foi, pode reconhecer como pouca gente, através da humilhação que nos faz sofrer e dos prejuízos que nos causa.
Não é simpático um governo que nos impõe a austeridade que nos faz sentir saudades daqueles tempos em que a imprevidência nos deu o que não tinha para dar e, agora, nos deixa desprotegidos contra as falácias dos que, sem terem soluções, nos garantem que as há!
Deus queira que os sinais que os “mercados” começam a dar, através da redução do valor dos juros que nos cobram, sejam reais e duradouros, assim como desejo que não voltemos a cair no logro de um “socialismo” sem controlo para que possamos fundar o “Estado Social” que os nossos recursos nos permitam assegurar.

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