(Sobre um
artigo de Nicolau Ferreira no “Público” de 27/06/2014: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/so-a-democracia-universal-permite-que-haja-recursos-para-a-proxima-geracao-1660660)
Na fotografia, Alvin Toffler.
Na fotografia, Alvin Toffler.
Não sei se chamaria “estudo” ao
que o artigo descreve ou se, admitindo que o seja, ele permite tirar como
conclusão o que consta da sinopse feita pelo autor, “Estudo mostra que
maioria das pessoas está disposta a sacrificar recursos para si em prol das
gerações futuras, mas para que a minoria egoísta não os esgote é necessário
haver uma votação universal”, de
onde creio retirar o título “Só a democracia permite que haja recursos para
a próxima geração”, porque me não parece possível fazer juízos conformes
com a mentalidade política actual que os gerou, acerca de questões que apenas
uma nova e ainda inexistente mentalidade política permitirá compreender.
O artigo pretende falar de uma coisa muito séria que, de um modo simples,
metafórico como diz, o autor descreveu assim: “Se o mundo coubesse num
jardim de um hectare, que dentada é que a humanidade já lhe teria dado? E o
jardim que sobraria seria capaz de se regenerar e receber os nossos filhos,
netos e gerações vindouras? As duas questões são metafóricas, mas os recursos que
nos permitem viver são terrivelmente concretos. O solo que nos dá comida, a
água que bebermos, o ar que respirarmos, tudo tem um fim e nós podemos
acelerá-lo”.
Sem que me agrade muito, mesmo assim aceito o modo como, sem
responsabilidade científica, coloca a questão dos recursos que nos permitem
viver e são terrivelmente “escassos” e, por isso, têm um fim que nós estamos a
acelerar perigosamente.
Afinal, esta questão não passa da preocupação, já velha de muitas dezenas
de anos mas persistentemente ignorada por economistas e por políticos, na qual
se pretende reflectir sobra “a capacidade de suporte do Planeta”, a população
total que o mundo pode suportar de modo sustentado, conjugado com “os
limites do crescimento”, um estudo promovido pelo Clube de Roma, profundo e
muito sério que mostrou a gravidade das consequências do consumo incontrolado
dos recursos naturais.
Juntaria a estes trabalhos a louvável obra de Alvin Toffler, em
particular “o choque do futuro” cuja leitura, se pudesse, eu faria
obrigatória.
São afinal, questões muito importantes que já abordei muitas vezes nestas
minhas reflexões, às quais este “estudo” pretenderia acrescentar a questão do
egoísmo humano que, inevitavelmente, lhes está ligada e determina o caminho da
sobrevivência ou para a extinção da Humanidade.
Não me parece que a questão se possa colocar em termos de democracia,
pelo menos desta em que a maioria tem, necessariamente, razão, mas sim de uma
outra em que a maioria da razão prevaleça. E para que a razão prevaleça será
necessário um muito melhor entendimento das coisas, sobretudo do meio natural a
que pertencemos e, ao contrário do que parece que julgamos, não é nossa
pertença, bem como da solidariedade que, a nível global, sejamos capazes de
praticar, porque a Natureza é um todo que apenas como um todo poderá sobreviver.
O “estudo” referido terá, pelo menos, um mérito que é o de mostrar que à
medida que as pessoas se apercebem dos efeitos negativos do que fizerem poderão
corrigir as suas atitudes. E é aqui que a grande questão se coloca, a questão
da educação que não tem lugar nesta civilização consumista que privilegia a
satisfação do egoísmo de uma minoria que joga aquele jogo sem se importar com
outras consequências que não sejam a sua exclusiva satisfação.
E recordo aquele velhíssimo adágio oriental cuja actualidade nada põe em
causa: “se o teu programa é para um ano, planta arroz, se é para dez anos,
planta árvores, mas se for para cem anos, educa o povo!”.
Infelizmente, verdadeiros estudos científicos mostram que o egoísmo de
alguns que conseguem convencer a maioria impreparada de que acautelam, também,
os seus interesses, já causou danos irreparáveis, impossíveis de reverter,
assim como mostra o conhecimento científico que já possuímos que os danos
aumentarão ainda muito mais antes que os efeitos do que a partir de agora possamos
fazer para os evitar, se revelem.
Para justificar o que digo, não vou aqui repetir o que tantas vezes já
escrevi e o blogue vai guardando e, nem sequer, tento o resumo impossível de
tudo quanto disse. Mas os textos continuam aí e valeria a pena reflectir sobre
estas questões graves que determinarão o futuro da Humanidade, por isso dos
nossos filhos e dos nossos netos, daqueles que já conhecemos e um dia nos
acusarão do egoísmo que lhes infernizou a vida!
Já há muito tempo também, alguém, cujo nome não sou capaz de aqui referir
como devia, disse, numa muito imaginativa inversão do tempo, esta verdade que este estudo parece pretender descobrir “pedimos
a Terra emprestada aos nossos filhos a quem temos de a devolver em boas
condições”. Mas não é isto que estamos a fazer!
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