Li isto num jornal e só não
fiquei meio zonzo porque, depois de tantos disparates que já ouvi, devo estar
vacinado!
“O responsável máximo da fundação do Pingo Doce, um think tank
inteligente do neoliberalismo, declarou, ao jornal i, que os juízes do Tribunal Constitucional tinham
mentalidade de funcionários públicos. Como se isso fosse um insulto, como se
ser professor, médico, polícia, homem do lixo, funcionário de uma autarquia,
bombeiro e enfermeiro desqualificasse as pessoas e significasse que andam a
roubar o dinheiro dos outros.”
E apetece-me perguntar, como na
gíria se diz, o que tem a ver o cu com as calças? É deste modo, com
mentalidades e comentários assim, que baralham as coisas e confundem os
cidadãos menos prevenidos, que se quer salvar o país? Não é. A explicação terá
de ser outra.
Também fui funcionário público e
professor e NUNCA TIVE MENTALIDADE DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO, uma coisa que toda a
gente sabe o que quer dizer… Mereci, pelo meu trabalho que o meu currículo
profissional atesta, tudo o que me foi pago.
Cheguei cedo à função pública,
mas depressa dela saí porque ter fazer sempre “como na Ribeira de Santo António
em Alhandra” (era assim que o chefe me dizia quando tinha de resolver algum
problema de hidráulica fluvial mais complicado) era coisa que me não
satisfazia. Como não suportava fazer ofícios em cujo final, para me
prevenir de uma qualquer responsabilidade de uma opinião que nem havia dado, escrevia
“no entanto, V Exa pelo melhor decidirá”. Porque há sempre uma Exa que tem a
última palavra! E essa Exa é intocável, inimputável pelas consequências da
decisão que tomar.
É algo que se não pode negar.
E depressa fiquei sabendo também,
por disso fui prevenido, que “nunca ninguém foi condenado por nada fazer…”. Na
função pública claro está!
Há, pois, duas formas de escapar
à condenação: não fazer ou, por ser inimputável, fazer como entender. Não o entendi assim e não me dei bem.
Obviamente e para bem de todos
nós, É MINORIA o conjunto dos que assim pensam e procedem porque têm a tal mentalidade.
Conheci gente competentíssima na Função Pública, gente que trabalhava muito e o fazia bem, a par daqueles que nada faziam e, muitas vezes, nem competência tinham para o fazer. Por isso o sector privado procurava os competentes e os levava, oferecendo as condições que o Estado lhes não podia dar. E lá iam eles …
Conheci gente competentíssima na Função Pública, gente que trabalhava muito e o fazia bem, a par daqueles que nada faziam e, muitas vezes, nem competência tinham para o fazer. Por isso o sector privado procurava os competentes e os levava, oferecendo as condições que o Estado lhes não podia dar. E lá iam eles …
Depois do 25 de Abril a situação
passou a ser outra. É a função pública que, pelas “conquistas” que alcança,
atrai quem trabalha no sector privado porque tem condições e garantias que os
empresários não conseguem oferecer!
Como as coisas mudaram! Por isso
são evidentes as desigualdades que deveriam ser sanadas neste esforço de salvar
o país e o dito Tribunal Constitucional não compreendeu ou não quis
compreender..
A mentalidade de funcionário
público, de facto, existe e não mudou. Sobretudo naqueles que mais reivindicam as conquistas
que o sector privado nunca conseguiu.
Quanto à afirmação do tal “think
tank” neoliberalista do Pingo Doce, remeto para o que tenho escrito, o desacordo
ou o meu acordo que, naturalmente, nunca é total.
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