ACORDO ORTOGRÁFICO

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terça-feira, 3 de junho de 2014

PASSOS DE CARANGUEJO

Eu não iria tão longe quanto o foi Medina Carreira ao afirmar que “o Tribunal Constitucional é uma instituição que, se pudesse desaparecer, o país só beneficiaria” mas, tendo em conta os critérios que tem adoptado para tomar decisões importantes para o futuro de todos nós, eu diria que nenhuma contribuição positiva tem dado ao difícil e penoso processo de recuperação da situação financeira caótica em que o país se encontrava quando o governo socialista de Sócrates pediu o resgate que, obviamente, impôs condições cujo cumprimento se não compadece com uma interpretação defensiva de uma Constituição aprovada em condições muito diversas das que agora vivemos.
Pretender que as exigências de quem resgatou a bancarrota em que, por excessos óbvios, o país caiu, respeitem decisões discutíveis de um tribunal que se baseia em interpretações com as quais defende situações que a capacidade financeira do país não comporta e, por isso, tiveram como consequência a austeridade que não foi possível evitar, é uma atitude que se pode entender em quem se deixe desinformar pelas disputas políticas para a conquista do poder, mas que não é desculpável a um tribunal que não deveria alhear-se da realidade, pondo em causa todo o enorme esforço já feito pelos portugueses.
Ouvindo, de novo, Medina carreira, “a Constituição é do tempo em que tínhamos escudos, o que era completamente diferente dos tempos actuais. Uma interpretação do Constitucional que não tenha em linha de conta esse aspecto faz o Estado andar com pés de barro”.
Além disso, os critérios de equidade que o Tribunal Constitucional utiliza nos seus julgamentos nem sempre me convenceram da neutralidade política que deveria pautar todas as suas decisões, como uma vez mais me parece ter acontecido nas últimas decisões que tomou e que constituem um verdadeiro atentado aos princípios de justiça social, continuando a não aceitar a correcção de desigualdades que diferentes capacidades reivindicativas permitiram, ao longo do tempo, entre um sector que consome recursos e o outro que os produz.
A que irão obrigar as decisões do tribunal Constitucional ainda é cedo para saber. Mas que para nada de bom para a maioria de nós contribuirão, é uma certeza que pode sair-nos muito cara.
Mas creio que tudo se esclarecerá quando verificarmos que, uma vez mais, a alternância democrática que os nossos impostos pagam bem cara, a nada mais levará do que a uma mudança sem as vantagens que os que pretendem o poder prometem. Porque nada de muito diferente poderão fazer na situação em que o país se encontra.
Por isso, uma vez mais poderá ter razão quem tenha dito que “as eleições não passam da suspeita periódica de que a maioria tem razão”.


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