ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

EQUÍVOCOS DO PRESENTE

Quando pretendemos viver o presente como se fosse igual ao tempo que passou, quando abordamos as questões que a vida agora nos coloca do modo como antes o fizemos, é porque não demos conta de que o tempo não parou, passou veloz e fez diferentes os problemas que temos de enfrentar. Não poderemos esperar, pois, que sejam os melhores os resultados que alcançamos quando, em problemas novos, usamos velhas receitas.
Mas não valerá a pena insistir na verdade que põe em causa as subtilezas que alimentam muitas pretensões políticas porque, infelizmente, é bem mais fácil tornar mentiras em verdades apetecíveis do que fazer reconhecer a verdade dura que levaria a rejeitar os também tão apetecíveis excessos que dela são a causa.
Com o tempo tudo muda e vai continuar a mudar, com consequências invitáveis para toda a vida na Terra, incluindo a desta Humanidade a que pertencemos.
A dinâmica e a constituição da atmosfera que, de um modo natural, desde a formação da terra se têm modificado, num processo do qual, milhões de anos depois, resultaram as condições propícias ao desenvolvimento da vida que conhecemos e da qual somos apenas uma das expressões, continuará a modificar-se por força do tempo que não pára e, por certo um dia, a tornará imprópria para nela continuarmos a viver. O que não parece natural ou, pelo menos, próprio da inteligência que a espécie humana julga ter, é que a sua actividade económica deliberadamente interfira nos processos naturais, intensificando os desequilíbrios e, por isso, acelerando as alterações que, a prazo não muito longo, nos podem criar inultrapassáveis problemas.
Quantas coisas, numa simples vida, vi mudar. Vi aparecer e desaparecer muitas que julguei que ainda por cá estivessem muito depois de eu morrer! Tiveram vidas mais curtas, porém. Mesmo assim, algumas mudaram completamente o nosso modo de viver.
Modificaram-se conceitos tidos por inalteráveis, condenaram-se atitudes que antes eram louvadas, deixaram de ser aplicados tratamentos que, afinal, não faziam o bem que se julgava, desaconselharam-se alimentos antes muito recomendados para bem da nossa saúde, uma só bomba foi capaz destruir uma cidade enorme, o Professor Christiaan Barnard transplantou o órgão mais nobre da vida porque o julgámos o inviolável cofre onde guardávamos os nossos sentimentos, quase morremos de espanto quando, pouco depois de substituir a hélice pelo jacto, um avião ultrapassou a barreira do som, surpreendeu-nos o primeiro satélite artificial, a ida do primeiro homem ao espaço, a chegada dos primeiros homens à Lua e, pasme-se, triplicou a população do mundo!
Se estes poucos exemplos não são bastantes para mostrar como é preciso estar atento ao tempo que passa para que nos não ultrapasse, eu direi que o Homem já perdeu a noção da sua própria vida, por mais esforços que faça para fingir que ainda a vive!
É assim na política também. Não se quer dar conta dos tempos que passaram, do que eles fizeram às ideias que julgámos perfeitas, de como isso nos deixou presos a preconceitos renitentes à mudança que não sei se ainda temos tempo para fazer.
Se o poeta tem razão ao dizer que os tempos mudam, por que razão, então, se não mudam as vontades?


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