Quando era professor de Hidrologia
eu ensinava aos meus alunos que, apesar de ser a água o elemento mais abundante na
Terra (descoberta recente parece ter acrescentado uma grande quantidade à enorme
que já se sabia existir), ela raramente estava disponível em boas condições de aproveitamento. É demais mais nas “cheias” e de menos nas “secas”,
fenómenos que, há umas largas dezenas de anos, eram facilmente previsíveis quer
nas épocas em que aconteciam quer na maior ou menor amplitude que atingiam, de cuja
frequência as estatísticas disponíveis permitiam ter uma noção razoável e, na medida do possível, controlar.
As mudanças climáticas em curso
têm provocado modificações que são já muito profundas e que estão a conduzir a
alterações que implicarão mudanças muito significativas nas nossas vidas.
A regularidade que nos levou a
caracterizar, com bastante pormenor, as Estações do Ano, deixou de existir como
parece comprová-lo este “INVERÃO”, um misto de Inverno e de Verão que acontece
quando a “estação mais quente do ano” deveria ser já uma realidade.
As cheias intensas de que temos
tido notícia, sobretudo na Europa de Leste, e as secas extremas em outros
lugares do Planeta, como aquela que as notícias dizem estar a Venezuela a
tentar combater com a produção de chuva artificial, são acontecimentos que tenderão
a agudizar-se e a criar-nos problemas cada vez maiores pelas alterações físicas
a que darão lugar.
As cheias provocam erosões
intensas que modificarão as estruturas dos solos e as alterações na temperatura
e na humidade atmosférica darão origem a novas condições climatéricas. Deste
modo, sobretudo na agricultura, haverá necessidade de significativas adaptações
que não serão igualmente profundas em todas as regiões do mundo mas que,
certamente, obrigarão a repensar as coisas por toda a parte.
E quando falamos de agricultura, da produção de alimentos, falamos do "combustível" da vida e não dos outros que são responsáveis pelos tormentos a que a sujeitam.
E quando falamos de agricultura, da produção de alimentos, falamos do "combustível" da vida e não dos outros que são responsáveis pelos tormentos a que a sujeitam.
Tudo isto porque a actividade
humana tem interferido excessivamente com as dinâmicas de que resultavam os
ténues equilíbrios que o que se passa nos mostra estarem a ser destruídos.
A alteração da relação de gases presentes
na atmosfera, a poluição dos oceanos e a redução das extensões de florestas
húmidas são factos que atingiram dimensões excessivas e já muito difíceis de
repor para reequilibrar aquilo que desequilibrámos alterando,
quantitativamente, o ciclo do carbono.
É uma situação extremamente preocupante
à qual os governantes e economistas não prestam atenção porque tal levaria ao
reconhecimento imediato dos erros das suas políticas e à destruição das suas
teorias. Não considero como prestar atenção quando, perante as danos que já estamos
a sofrer e depois de negações patéticas que arrastaram os acordos e convenções
desde Kioto pelas ruas da amargura, o chefe da maior economia do mundo
finalmente se disponha a enfrentar a situação com uma redução de 20% das
emissões de gases de estufa até 2020! É como que colocar numa longa fila de
espera para ser atendido, alguém que está a sofrer um ataque cardíaco agudo!
E vêm-me à ideia tantas coisas,
tantas que tornam impossível fazer-lhes aqui qualquer referência global, mas às
quais já me tenho referido em outros dos meus escritos. Por isso refiro,
apenas, um que ocorreu há bem pouco tempo aqui em Lisboa, por altura da final
da Liga dos Campeões Europeus no estádio da Luz, quando um grupo da Greenpeace
se escondeu (dizem que durante uma semana) na cobertura do estádio para, antes
do início do jogo desfraldarem uma tarja que chamava a atenção para os sérios
danos ambientais que a GAZPROM está a causar no Ártico.
Foram descobertos antes de o
poderem fazer. Do que tenho pena porque se trata de coisas muito sérias com as
quais todos parecemos brincar. A Gazprom porque, naturalmente, quer ganhar
muito dinheiro, os europeus porque querem continuar a gastar as enormes
quantidades de combustíveis que a sua economia e a sua civilização consumista exigem. Parece que apenas a
Ucrânia não gastará porque lhe fecharam a torneira!É tempo de todos sermos parte da consciência que apenas uma minoria, por enquanto, ainda tem. É tempo de sermos a maioria que obrigue os poderes a respeitar a VIDA.
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