Usando uma expressão que
já foi mais usada do que agora é, apesar das cada vez mais numerosas
circunstâncias que a justificariam, digo que “me caíram os queixos” com o que
ouvi da boca do co-fundador do PS António Campos à saída da visita que fez a
Sócrates na prisão de Évora.
Depois das declarações de
Soares, foram as de António Campos que, sem qualquer dúvida, mais me
impressionaram.
Não está em causa a
presunção de inocência a que Sócrates, tal como qualquer outro cidadão, tem
direito enquanto não for condenado. Mas as suspeitas fundamentadas são
legítimas e nada deve impedir a Justiça de prosseguir, do modo como o julgar
mais adequado, no apuramento da verdade, seja o suspeito quem for.
Contrariando esta ideia
que, pelos vistos, apenas se aplica aos outros, diz Campos ter sido lançada uma
bomba atómica sobre a democracia com a prisão de um ex-primeiro-ministro, um
símbolo que deveria ser intocável! Uma ideia que Soares, de algum modo, havia
ali também expressado com a afirmação de ser inadmissível que um polícia
qualquer fosse prender Sócrates.
Campos subverteu completamente
o conceito de democracia, como o fizera Soares, ao invocar as funções desempenhadas por alguém para
tornar num atentado uma atitude da Justiça no desempenho das funções que lhe
competem e do modo como a separação de poderes que o regime democrático
consagra.
De resto, não é a
democracia, por excelência, um conceito de igualdade de todos perante as
oportunidades e a lei? Então, por qual razão seja quem for, porque desempenhou estas funções ou aquelas, não pode ser tratado
como o é qualquer outro cidadão? Por que deveria um ex-primeiro-ministro estar
acima da lei ou ser tratado de modo desigual de como o são os demais?
Fica em mim cada
vez mais clara a ideia do aprisionamento da “democracia” pelos que, algum dia, julgaram ser os donos dela.
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