ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

O ÚLTIMO DE ABRIL

Passou Abril, um mês que deveria ter sido de profunda reflexão sobre quarenta anos de uma democracia mal sucedida, findos os quais o país sofre as agruras de um baixo nível de vida a que gastos excessivos, resultantes do mau entendimento da realidade por sucessivas governações, deu lugar. Em vez disso, Abril não passou de uma longa campanha em prol da demissão do governo, tendo como argumento o “empobrecimento” que a sua política de recuperação do equilíbrio financeiro, desfeito pela imprudência gastadora de anteriores governações, inevitavelmente teria de causar.
Passou um mês que deveria ter sido de reflexão serena e produtiva mas que não passou, infelizmente, de um repositório da leviandade sucessiva com que os problemas do país têm sido encarados, das soluções impróprias que têm sido adoptadas e da atitude passiva e incompetente dos nossos políticos perante os graves problemas económicos, financeiros, sociais  e etários que nos afectam e que, a continuar assim, muito mais ainda nos afectarão.  
Diria que, com queixas e muita algazarra, se tentou fazer disfarçar o insucesso de uma “democracia” que cometeu o erro de querer dar o passo maior do que a perna, acreditando em facilidades que a administração de um país não consente ou até, talvez, os equívocos de uma “revolução” que teve mais em mente a fruição de vantagens do que realização do trabalho duro a que a construção de um país novo daria lugar.
Foi, para mim, deprimente o aproveitamento do falhanço evidente de um acontecimento que deveria ter dado lugar a um modo diferente de viver na liberdade, na cooperação e na harmonia que o anterior regime não consentia.
Foi, sem dúvida, a oportunidade perdida para esclarecer as razões de tudo quanto aconteceu, para encontrar explicações para o insucesso e evitar a repetição dos erros cometidos.

Foi com o espírito vanguardista de sempre que foi vivido este Abril que, definitivamente, necessita mais de entendimento do que do voluntarismo que, monotonamente, o tem inspirado. 


terça-feira, 29 de abril de 2014

O VÓMITO!

Ainda não tinha lido o “vómito” das terças-feiras de Soares quando escrevi o meu “um canto triste por Abril”, e nele afirmei que “… a discussão responsável do futuro foi calada pelo barulho estridente do revivalismo de lutas às quais outras bem mais duras e oportunas agora fazem perder o sentido”. Não imaginava, por isso, quanto Soares me daria razão nas baboseiras que escreveu.
Mais uma vez, na sua crónica, Soares dá mostras de um entendimento obtuso da democracia que tanto diz defender. Tal como Vasco Lourenço quando afirmou que “este governo é legítimo, mas democracia não é isto…”, Soares entende ser boa prática democrática atentar contra um governo legitimamente eleito e constituído segundo as regras democráticas que ele ajudou a instituir em Portugal! E parece que certos "militares" também.
Sem outras razões para além das dores que causam ao povo os equívocos do socialismo que apregoa, mas de cujas dádivas não prescinde no salário e em outras regalias que o Estado lhe concede, Soares diz do Governo que “é fatal que seja demitido, a bem ou mal, como dizem os militares. O Governo não tem capacidade de o fazer por si próprio. Já se viu que não tem sensibilidade para isso. O que é inaceitável”.
Mas se não vejo, porque ninguém o esclarece, o que o socialismo fará para além do que lhe consente a sua ignorância da realidade em que vivemos, se Soares, tal como Seguro e seus pares nada mais prometem do que o impossível regresso ao passado, sem soluções compatíveis com os problemas da actualidade com que todo o mundo se vê confrontado, como posso levar a sério a democracia dos que apregoam a “felicidade” que, dizem, que vão devolver ao povo?
Para além de tudo isto e para além das bacoradas em que vomita disparates e insultos como quando, sem qualquer assomo de ética que qualquer ex-Presidente da República deveria ter, se refere às banalidades inúteis” que, afirma, o seu sucessor Cavaco Silva diz, o relato que faz do “colapso” que teve ao ser “abraçado por tanta gente e beijado por tantas senhoras”, faz-me lembrar aquela manifestação que, num estádio de futebol, levou Marcelo Catano a julgar-se amado pelo povo que, pouco tempo depois, o corria e lhe chamava fascista!
Em tudo o que tem escrito, Soares jamais invocou outras razões para além do “porque sim” ou do que o “povo” por si e seus correligionários instigado possa gritar em momentos de exaltação, numa prosápia de autoridade democrática que deveria refrear. Porque não é assim que se constrói o futuro. Não é lutando de um modo labrego contra quem governa, mas apresentando razões esclarecidas e colaborando para melhorar a forma de governar que se defende o povo em tempo de emergência como o que vivemos e se lhe garante um futuro melhor.

Pelo contrário, é assim que pode lançar-se o país no caos em que o povo se queimará enquanto muitos que o dizem defender, então nem por aqui ficarão para o consolar na sua desgraça.


segunda-feira, 28 de abril de 2014

UM CANTO TRISTE POR ABRIL

Por mil razões, não esperava das comemorações do 25 de Abril mais do que o que foram.
Num ambiente de velório carregado, choraram-se as mágoas pelo que um país fez com a liberdade que alcançou! Vivendo em democracia, que perplexidade maior pode imaginar-se? 
Terão os ressentimentos acumulados e a ganância emancipada deixado resvalar para a licenciosidade o que em liberdade e com sensatez deveria ter sido vivido?
Se, ao longo de dias e dias, tudo foi preparado para carpir mágoas, confundir razões, maldizer a governação e clamar por uma mudança que ninguém indica por onde nem como se fará, se a discussão responsável do futuro foi calada pelo barulho estridente do revivalismo de lutas às quais outras bem mais duras e oportunas agora fazem perder o sentido, se se reclamam “conquistas” que um esforço sério não consolidou, que outras sensações poderiam manifestar-se para além da frustração de um tempo vivido de costas para a realidade que o tempo, inevitavelmente, mudou?
Como será possível pensar hoje como se pensava então, acalentar os mesmos sonhos que então queríamos realizar, eleger como inimigos os alvos que já não o podem ser, usar as mesmas razões e os mesmos meios quando as circunstâncias são tão diversas e até o mundo que nos rodeia mudou?
Não sou capaz de encontrar razões para, depois de quarenta anos ao longo dos quais a realidade nos chama à razão à qual não demos ouvidos nem prestámos atenção, se atingir um desencanto tamanho e, pior do que isso, tão fortemente se revelar o desejo de recuperar o que o tempo, inapelavelmente, desfez, a não ser pelas razões de um desejo insuperável de, por outra revolução talvez, retomar o caminho das utopias que o tempo mostrou serem irrealizáveis. Ou será o caminho que conduzirá alguns ao sucesso a que o verdadeiro bem do povo jamais os conduziria?

Se tudo o que se passou nos não fizer pensar nas responsabilidades que temos para com um país com um longo passado mas cuja dimensão do futuro depende de nós, será funda a cova que abrimos para sepultar a esperança de uma independência nacional que poucos já parecem saber o que seja.


sexta-feira, 25 de abril de 2014

PROFECIA OU MALDIÇÃO?

"Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. … Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa." (Marcelo Caetano sobre o 25 de Abril)

E se recordarmos que, com um soberbo desdém, ouvimos esta “profecia” a que não prestámos atenção porque a julgámos apenas a “maldição” inútil de quem a “revolução” exilou, entenderemos que há pouco para festejar e nos espera uma penosa luta que teremos de lutar para remendar os buracos que abrimos, pagar as dívidas que fizemos e arejar as ideias que não deixámos evoluir para lá do oportunismo saloio, se quisermos conservar a liberdade que, felizmente, conseguimos e da qual uma tenebrosa PIDE sadicamente nos afastava.
É uma luta que apenas juntos seremos capazes de vencer, mas jamais ganharemos com o divisionismo e os partidarismos sectários que desmedidas ambições e iniludíveis incompetências fizeram nascer.

É este o caminho e não o da luta contra os fantasmas que jamais derrotaremos, porque os fantasmas somos nós que quisemos usufruir do que não construímos, em festas e cantigas apenas “conquistámos” ilusões e em protestos e manifestações constantes reclamamos aquilo a que, sem esforço, não podemos ter direito.


O MEU SONHO DE ABRIL

Já, há muito, ficaram para trás as esperanças que o 25 de Abril me criou, os sonhos que me fez sonhar, porque um sonho é um sonho e nada mais se não se materializar, tal como a esperança não é coisa capaz de esperar tempo demais.
Disse-me o velho Almirante que pôs fim ao descaminho para onde o “gonçalvismo” empurrava este país, que acabou com os delírios de uma “muralha de aço” feita de papel de jornais que outras ideias mais não tinham para além das loas que cantavam, que teria de esperar quarenta anos até a democracia se consolidar. Julguei ser muito tempo, tempo demais que pensei que a fibra portuguesa pudesse encurtar, mostrando uma vez mais, ao mundo, a grandeza da alma de um povo que o seu pequeno corpo não conseguia albergar.
Mas como me desilude esta constatação que faço agora de, pelo modo como exigimos que outros façam por nós o que só nós podemos fazer e por este jeito de andar de mão estendida à espera de que nos dêem aquilo de que precisamos para cumprir as nossas ilusões, sentir que nem mil anos serão bastantes para reconstruir um país que se deixou destruir por sonhos de que não soube acordar, cantou vitórias em batalhas que não teve a coragem de travar e nada mais conquistou do que ilusões que, parece, ainda se não deu conta de não poder realizar.
Como me deixa triste este caminho por onde um povo se deixa levar sem reparar nos que que, disputando entre si os direitos do futuro e as cadeiras do poder, lhe roubam a alma e tudo o mais, mantendo-o neste túnel escuro ao fundo do qual, por este caminhar, jamais verá a luz.
Mas quem sabe se, um dia, Portugal acordará deste sonho que, com o tempo, se tornou o pesadelo enorme que o afronta e poderá, enfrentando a realidade, ser o país enorme que pode ser pelo trabalho duro e os sacrifícios sem os quais nunca o será.

É este o meu sonho de Abril onde não cabem festas, nem comemorações. Apenas uma réstia de esperança pode renascer para me deixar partir em paz, sem as preocupações imensas pelo futuro dos que, por mim, cá vão continuar porque o futuro não se constrói com cantigas.


quinta-feira, 24 de abril de 2014

O FADO

Património imaterial da Humanidade, o Fado está em cada um de nós, inspira-nos e, até por vezes, faz-nos crer sermos poetas…
Mas ninguém como Malhoa soube captar a sua verdadeira alma, pintando um quadro em que se “ouve” o Fado!







O FADO E A LÁGRIMA

Tristes, dolentes, magoadas,
Soltam-se as notas do Fado
De gargantas afinadas,
Pelo tom que marca a dor.
É um canto apaixonado,
Dolorido, sofredor…

Soam roucos os trinados,
Das violas, das guitarras,
Das cordas do coração…
São notas que estão gravadas
Naquelas linhas traçadas
Na palma de cada mão.

É o destino, a saudade,
A dor, o amor, a verdade
De uma canção tão sofrida
Num estertor de paixão
Que uma lágrima corrida
Faz brotar do coração…

RC


OS VALORES DE ABRIL E A CONSTITUIÇÃO. AS CONTRADIÇÕES!

Foi frequente, ao longo destes últimos dias, ouvir falar dos “valores de Abril” e dos “direitos constitucionais” que muita gente entende estarem a ser destruídos ou pervertidos pela austeridade que vivemos.
Dos porquês da austeridade e da sua inevitável continuação por mais tempo ainda, já muito aqui reflecti, pelo que me dispenso de o fazer de novo.
Dos ditos “valores de Abril” nunca entendi quais sejam para além da instituição de um regime democrático que, pela liberdade que implica, seguiria o seu caminho sem outras imposições que não a vontade dos cidadãos em conformidade com as regras pela democracia definidas. Nem de outro modo poderia ser porque a democracia não pode impor caminhos, sendo por isso que se distingue dos regimes autoritários. Define comportamentos livres e responsáveis que, pela natureza das coisas, não correspondem à aparente uniformidade que os regimes autocráticos determinam.
Não podem, pois, os tão propalados “valores de Abril” passar de uma falácia porque, a não ser assim, constituiriam uma imposição que limitaria a liberdade democrática que a “revolução” dizia garantir. Radicariam nessa possível imposição os valores que se desejavam criar, pois de outro modo jamais os vi definidos?
A primeira Constituição da República aprovada depois do 25 de Abril determinava que Portugal seria uma república democrática tendencialmente socialista! O que é uma orientação que a liberdade democracia não pode consentir.
O Almirante Vitor Crespo que integrou o Conselho da revolução, afirmou, recentemente, que "A Constituição tem uma estrutura democrática avançada para a época. Penso que não é por razão dela que o país tem passado as vicissitudes que tem passado, mas pelas pessoas que integram essa estrutura. Isto é, não se tem criado aqui um clima de responsabilidade equivalente à estrutura democrática que foi criada, e da qual eu me orgulho muito".
Em meu parecer, o “avanço temporal” da Constituição, na altura considerada a mais avançada do mundo, não é penhor da sua adaptação a uma realidade que deveria evoluir livremente, conforme a democracia garante, a menos que os “valores de Abril” fossem o pressuposto de uma determinada via que impediria quaisquer outras de se manifestar. Seria o condicionamento impróprio do livre fluir do regime de liberdade conquistado.
Correr o Governo à paulada, como diz Vasco Lourenço, ou de outro modo qualquer como diz Mário Soares, fazer um novo 25 de Abril, como dizem outros ou “desobedecer” como afirma o Bloco de Esquerda, não passariam de uma revolução contra um regime democrático que, por ser livre, seguiu a via que o povo determinou e não a que eles esperariam.

Em democracia as “revoluções de regime” são, obviamente, anti-democráticas, por isso inadmissíveis. Como inadmissíveis deveriam ser as confusões com que se pretende influenciar o povo para desvirtuar um regime que, a meu ver, precisa, urgentemente, de se modernizar, se pretende continuar a ser democrático!

     

quarta-feira, 23 de abril de 2014

QUANDO DOI, CORTA-SE A CABEÇA?

Já pouco ou nada me surpreende neste país de loucura que, em vez de se entregar de alma e coração à dura tarefa honrada de corrigir as consequências dos erros que cometeu, toma atitudes contrárias aos seus próprios interesses, assim a modos como quem corta a cabeça porque lhe dói!
É mais do que óbvia a falta de noção que muita gente tem da situação financeira de Portugal e das muito sérias consequências de ela se não conseguir recuperar.
A continuada ideia do “roubo” que os ditos partidos de esquerda propalam há tanto tempo, como se a austeridade fosse um propósito do Governo em vez de uma inevitabilidade ditada por circunstâncias resultantes de más decisões governativas tonadas ao longo de décadas, faz a sua escola nas cabecinhas ocas que não sabem ou não querem pensar. E são de temer os efeitos nefastos que possam resultar deste entendimento errado do que, na realidade, se passa.
Fiquei mudo de espanto ao ler a notícia de que “Os turistas estrangeiros que escolhem Portugal como destino vão ser surpreendidos por agentes da PSP numa iniciativa informativa invulgar. À sua chegada, os polícias farão questão de os avisarem de que a segurança interna poderá estar em causa com as medidas do Governo com que estão a ser afectados. A informação será dada em panfletos já a partir do próximo mês”.
O turismo é uma das mais importantes fontes de receita do país, cujo crescimento nos últimos tempos tem sido uma preciosa ajuda para o crescimento da nossa ainda muito fraca economia.
Obviamente que até os polícias entendem isto, pelo que sou eu quem não entende a leviandade de um sindicato que decide tomar uma atitude que, prejudicando todos, também prejudica os seus membros. Naturalmente.


terça-feira, 22 de abril de 2014

A QUADRATURA DO CÍRCULO

Às afirmações do FMI de que Portugal teria de prosseguir e, até, ir mais além em medidas de austeridade para que a economia portuguesa se torne, a longo prazo, sustentável e bem sucedida, respondeu a Frente Comum dos Sindicatos da Função Pública com a garantia de grandes momentos de contestação no 25 de Abril e no 1.º de Maio.
Nesses “momentos”, é objectivo da Federação contestar a política de destruição de direitos e dos serviços públicos, bem como exigir a demissão do Governo e eleições antecipadas.
Antes havia lido uma notícia que dava conta de declarações de alguns “Capitães de Abril”, entre os quais Garcia dos Santos, um amigo dos tempos do Técnico cujas capacidades de inteligência sempre apreciei, que considera que os políticos que actualmente governam Portugal são "uns garotos, ignorantes, sem experiência", e que serão precisas três gerações para se chegar a uma classe política competente.
Estou certo de que se não referia apenas aos que fazem parte do Governo, mas a esta geração de políticos sem a cultura política que um regime autoritário e paternalista não consentiu que se desenvolvesse.
Sem comentários a estas afirmações que guardarei para outra oportunidade, mas avançando com o meu total acordo quanto à parte final da sua afirmação (se as condições de degradação ainda o permitirem), eu pergunto-me de que valerá mudar de governo! Serão, os que vierem, menos “garotos”, mais sabedores e mais experientes do que os que, já lá estando, pelo menos alguma experiência ganharam? Penso que não, mesmo pela ideia que têm deixado de uma total ausência de ideias para além da de um regresso a um passado irresponsável e impossível porque a realidade o faz, definitivamente, passado.
Depois do 25 de Abril, a Função Pública que o anterior regime mantinha controlada na quantidade e na remuneração dos seus funcionários, como que fazendo disso o compasso que marcava o ritmo de toda a sociedade, tornou-se o lugar fácil para “abrigar” rapidamente muita gente, com especial relevo para os “boys” da revolução (também já os havia então) e, bem depressa, se encheu de gente bem remunerada, numa reviravolta total da relação nas remunerações dos sectores público e privado que passou a favorecer os que, antes, eram menos remunerados.
E todos sabemos como o número de funcionários públicos cresceu e como cresceram, também, as remunerações e as regalias que “conquistas” e mais “conquistas” lhes proporcionaram, enquanto no sector privado eram o esforço e o mérito que continuavam a ser os caminhos únicos para progredir um pouco.
Hoje, mesmo depois dos cortes já sofridos, o nível salarial médio na função pública é, ainda, francamente superior ao do sector privado, tal como as suas pensões continuam a ser mais generosas também.
Conto-me no número dos que contribuem, por vezes até demais, para o esforço de recuperação nacional que a tentativa de reposição das “conquistas” pode, definitivamente, arruinar.
Sinto na pele os sacrifícios que são necessários de fazer para suprir os cortes sofridos. Mas, apesar disso, prefiro o menos que recebo de uma Segurança Social equilibrada ao nada que receberei se voltarmos a cair nos disparates já cometidos.

Será isto que a Federação dos Sindicatos da Função Pública pretende?


segunda-feira, 21 de abril de 2014

25 DE ABRIL, UM PROPÓSITO OU UMA OPORTUNIDADE?

Quarenta anos depois do 25 de Abril de 1974, comemorar a queda de um regime autoritário com ataques a um Governo a que o regime democrático então restaurado deu a oportunidade de governar, em vez de louvar a possibilidade de o poder fazer por decisão do povo, não pode ser senão um oportunismo preconceituoso que, em tempo de campanha eleitoral, se aproveita das emoções próprias de um evento de cujas consequências, melhores ou piores, não deveríamos querer abdicar
Para minha desilusão, não são para exaltar um acontecimento mas para atacar um governo que se fazem conferências “abrilistas” com discursos inflamados que não tomam a restauração da liberdade política como um propósito mas, em vez disso, como a oportunidade de uma ideologia que outras não podem afrontar sem cometer heresia.
Proceder deste modo é, só por si, um contra-senso, uma subversão dos conceitos mais básicos da democracia. Mas fazê-lo de um modo manipulador de “verdades” e sem o bom senso de quem deve fazer da autenticidade e do saber as artes com as quais se previne o futuro de um país, é uma atitude condenável.  
“Já não temos Serviço Nacional de Saúde, já não temos Serviço Social…” e mais coisas, com pouco ou nenhum sentido, disse Mário Soares que já não temos, afirmando que os responsáveis por tal situação “deverão, por isso, um dia ser julgados.”
Esqueceu-se, sem dúvida, dos efeitos das governações perdulárias que lhe causaram amargos de boca, o levaram a estender a mão à boa vontade do FMI e fizeram dele o primeiro governante do pós 25 de Abril, a pedir ao povo para “apertar o cinto”!
Eu penso que os responsáveis pelo que estamos a passar foram já julgados, como ele o foi também, em eleições que lhes retiraram o poder que não usaram como deveriam, o que é a razão mais forte para a situação de austeridade financeira que vivemos, estando, naturalmente, a sofrer as consequências dos desmandos cometidos, dos abusos consentidos e das más decisões tomadas por quem, dizendo recusar o “discurso da tanga”, comprometeu o futuro num salto para o abismo no qual, como afirmou, se sentia “sozinho a puxar pelo país”.
E o discurso do preconceito oportunista prossegue com outros protagonistas estranhos como o é, sem dúvida, Freitas do Amaral, o primeiro presidente do partido mais à direita do leque político português, que classificou este Governo como o mais à direita que alguma vez governou Portugal e afirmou estarmos a viver um momento de retrocesso histórico como jamais se viu! Saberá muito do passado o Professor que, ao contrário do que um político deve saber, não parece fazer ideia do que seja a realidade actual, das mudanças profundas que o mundo sofreu nem do que, por elas, possa ser o futuro próximo que, um dia, será História também.
E, como se tornou moda, até um bem conhecido militante do PSD, tal como outros desde há tempos mais entregue mais à crítica do que à participação militante que poderia permitir, ao governo do seu partido, ser melhor, mesmo sem cravo participou nesta ladainha de maldizer.
Será que é, deste modo, que Mário Soares pretende cumprir o propósito de um conhecido “capitão de Abril” para correr com o Governo à paulada e Fretas do Amaral pretende reentrar na política onde perdeu o lugar, formando um novo partido?

Não é o Governo que me preocupa, mas o modo como esta democracia é vivida, o modo como uma comemoração é aproveitada de um modo impróprio e descabido, o que me faz preocupar com o futuro a que os maus procedimentos possam conduzir.


domingo, 20 de abril de 2014

OS FALA-BARATO

Marques Mendes tornou-se um verdadeiro oráculo, daqueles que sabem coisas que mais ninguém sabe, anuncia o que ainda está no segredo dos deuses e classifica tudo o que acontece como mais ninguém o faz.
Passou pela presidência do PSD e pelo Governo um diamante de cujo brilho ninguém se apercebeu. Agora, quando tanto Portugal necessitava de uma coisa assim, de quem, sem quaisquer dúvidas, soubesse o que esteja certo ou errado, juntou-se ao grupo dos comentadores, essa autêntica praga dos que, nada fazendo, criticam quem faça ou tente fazer, a troco de uns milhares de euros que, por mais que sejam, tornam baratos os programas que outros temas fariam mais caros.
Por isso pululam e são às dezenas os que peroram a horas e a desoras, sempre que há quem os possa ouvir, ou nem por isso, ou seja necessário preencher um tempo qualquer.
Devem ser, daquela geração “altamente qualificada” de que tanto se fala e nos deixam sem o seu talento imenso na hora de emigrar, os que por cá ficaram para que nos não esqueçamos de que, mesmo assim, temos génios bastantes que sabem de política, de futebol e sei lá mais do que, do que falam com um pleno conhecimento que lhes permite prever o que nunca acontece mas, sobretudo, mostram  ser capazes de governar o país ou qualquer coisa que seja sem necessitarem de gabinete, de secretárias, de motoristas, porque apenas um microfone lhes basta! Em tempo de encolher despesas, seriam um autêntico achado...
Passos Coelho quis fazer um Governo mínimo com super-ministérios, a fim de reduzir as despesas. Mas, pelos vistos, não se lembrou destes génios, os únicos capazes mas que deixou de fora e que as televisões pagam!
Em hora de aperto, cada um aproveita o que tem. Nós temos por cá estes “fala-barato” que se “fazem ao piso” mas que só as televisões aproveitam para as horas de encher com lixo. Mas têm o mérito de serem os inspiradores de muita gente que, nas redes sociais, se enfeitam com as ideias que deles ouviram. E que ideias, por vezes, eles inspiram.
De tal modo que nasceram canais novos dedicados a este tipo de humor. Mas nem me atrevo a pensar na sorte que vão ter quando passarem de moda.

Sempre passam porque o que é demais enjoa!


sábado, 19 de abril de 2014

HÁ ALIMENTOS QUE FAZEM MAL À SAÚDE. MAS HÁ OUTRAS COISAS TAMBÉM…

Taxar os alimentos que fazem mal à saúde parece ser uma aposta que o Governo quer fazer. É uma proposta que, para além de render mais uns “patacos” às suas ainda débeis finanças, parece ter tudo para merecer o nosso apoio porque tanto os alimentos demasiado salgados como os muito doces são causadores de problemas de saúde que, depois, sobrecarregam o já tão debilitado Serviço Nacional de Saúde.
Seria uma medida no sentido do conhecimento geral que diz “prevenir é bem melhor do que remediar” e, por isso, uma atitude louvável para evitar o que faz mal à saúde e cria problemas num serviço que, assim, perde qualidade.
Mas se é assim, porque nos ficaremos por aqui se tanta coisa mais podemos contar no número dos erros privados evitáveis pelos quais a sociedade, já tão sobrecarregada, tem de pagar?
Por exemplo, o Código da estrada pune as manobras perigosas que, apesar disso e porque o “braço da Lei” não consegue chegar a toda a parte, continuam a acontecer vezes demais. Delas resultam consequências, por vezes gravíssimas que, depois, todos teremos de pagar! Por que deverá a sociedade pagar algumas das consequências do desrespeito da lei?
Poderia, ainda, falar de muito mais coisas com especial destaque para as questões de droga que me parecem tratadas com excessiva permissividade e sem responsabilização bastante por tantos aspectos anti-sociais que a elas se associam.
Tudo isto para dizer que me não parecem certas nem adequadas aos objectivos prosseguidos, estas iniciativas avulsas, não integradas num programa que contemple todos os aspectos preventivos de qualquer mal social e, em função deles, defina uma política.
Não me parece, de todo, que a proposta de taxar alimentos salgados e doces seja uma medida a considerar deste modo súbito que apanha desprevenidos os que os produzem, criando desajustamentos que não beneficiam a economia.

Não é com sobressaltos que se regulam as coisas… Seria uma medida pateta!


PÁSCOA FELIZ!

PARA TODOS UMA PÁSCOA FELIZ!
Aos que seguem este blogue no qual coloco as preocupações que me assaltam nestes momentos pouco felizes da vida da Humanidade mas, por enquanto, ainda esperançado naquilo de que a inteligência humana pode ser capaz, eu deixo aqui os meus mais sinceros votos de uma Páscoa Feliz!
Para os que não tenham a Páscoa como referência importante nas suas convicções religiosas, do mesmo modo eu deixo aqui os meus votos de que estes momentos sejam, de algum modo, um renascimento da Humanidade, uma experiência que nos traga a paz para a qual o Deus de todos nós, Aquele que nós cremos ser a nossa razão de ser, nos criou!
Melhores tempos para todos são os meus votos.

Páscoa de 2014

quinta-feira, 17 de abril de 2014

UMA PIADA DESCONCERTANTE!

É quase sempre desconcertante ouvir ex-governantes falar!
Senão, atente-se nesta preciosa afirmação de Teixeira dos Santos, o ministro das finanças de Sócrates, referindo-se ao actual Governo: "Cortaram salários e só agora descobrem gorduras do Estado".
Não nos esqueçamos de que foi Teixeira dos Santos quem governou as finanças portuguesas ao longo de muito tempo no Governo anterior, o de Sócrates, e, por isso, inscreveu nos orçamentos que fez as verbas que pagavam aquelas gorduras que o actual Governo, diz ele, apenas agora descobriu mas das quais, pelos vistos, ele nunca se apercebeu!
Francamente, esperava mais de alguém que durante vários anos viveu rodeado dessas “gorduras” com as quais se não preocupava! Tê-las-á, até, alimentado como se pode concluir de tanta coisa que fez e teve de ser, depois, alterada.
Mas por que diabo será que certas pessoas ficam candidamente amnésicas ou deliciosamente patetas quando se deixam levar por paixões sectaristas em vez de reconhecer os seus erros, mesmo os mais óbvios, e participar, como deveriam, na recuperação do seu país? Será que não conseguimos ser mais do que uma sociedade permanentemente desavinda em guerrinhas tolas de poder que nos enfraquecem e dão de nós tão má imagem?
Muita gente se lembrará daquele tempo em que todos sentíamos o país a resvalar para o abismo e o Sr Ministro Teixeira dos Santos, com ar tranquilo, pedia calma porque tudo estaria bem enquanto os juros da dívida não ultrapassassem 7%!!! Entretanto, Sócrates havia afirmado "tivemos a coragem de aumentar a dívida..." 
Agora que os juros estão já inferiores a 4%, os socialistas entendem que o país está pior do que então e que a dívida não é sustentável.
A verdade é que Portugal não teria tido necessidade de um resgate financeiro se no Governo de Sócrates e de Teixeira dos Santos os juros se encontrassem ao nível em que hoje se encontram, as finanças estivessem controladas como hoje estão e a economia crescesse como hoje cresce em vez de se reduzir como, então, se reduzia e poderíamos, calmamente, fazer as reformas indispensáveis, sem interferências alheias e como julgássemos melhor.
Parece nada saciar estes senhores que, antes, fizeram a festa e, agora, fazem a caramunha!
Independentemente dos erros também cometidos por este Governo, são, sem dúvida, muito mais graves os que o anterior cometeu e levou o país à beira da bancarrota!

Não deveria haver um pouco de pudor quando disso falam os maiores responsáveis pelo que se passou?


quarta-feira, 16 de abril de 2014

A ENTREVISTA

Ouvi a entrevista que Passos Coelho concedeu a José Gomes Ferreira e, do modo como me pareceu correcto que fizesse, confrontei o que ele disse com a noção que tenho da realidade e não me pareceu descabido aquilo de que me apercebi.
Afinal, de tudo quanto foi dito, pouco ou nada foi além do que relaciona com o equilíbrio financeiro que Portugal terá de alcançar o mais depressa possível para que possa voltar às políticas de crescimento social. É uma tarefa com custos, por vezes muito pesados, para a qual não há alternativa, à qual ninguém se poderá furtar porque não há, ninguém descobriu ainda, como reduzir uma dívida sem, antes, anular o défice.
Como tanta gente, sinto na pele a dureza de medidas que foram tomadas e que bem preferiria que o não tivessem sido. Mas nada posso argumentar que me ilibe do dever de fazer a minha parte do esforço de que Portugal carece para voltar a ser livre, senhor de si, nem encontro outro modo de fazer que não seja assim!
Entendi o discurso do Primeiro Ministro e não me pareceu ver nele as explícitas as mentiras que alguns lhe apontam, nem escondidas as verdades que também dizem que ele guarda para melhor ocasião.
Não faço juízos de valor. Tomo por bom ou por mau o que é dito, em função de razões e não de preconceitos e comparo-o com o que a realidade me vier a mostrar para, depois, fazer o juízo que determinará o que farei com a minha ínfima quota parte do poder que tantos desejam. Irei votar na continuidade ou na alternância, irei votar ou anular o voto? Veremos!
É fácil criticar do modo como o fazem os que tudo sabem mas nada fazem, quantas vezes sem dignidade e sem respeito, brincando com coisas sérias e fazendo dos juízos de intenções os argumentos únicos para maldizer. É este o retrato de uma Oposição onde não encontro, infelizmente, aquilo que me faria desejar uma mudança que me desse menos preocupações e mais esperança mas que, em vez disso, me faz recear problemas sérios que podem lançar o país no caos.
Mas, como também disse Passos Coelho, um ano e meio é ainda muito tempo para cada um mostrar o que vale e, sobretudo, para os eleitores olharem com atenção e, eles também sem preconceitos, para o que uns fazem e outros criticam, para que, a seu tempo, possam tomar a decisão que, em seu juízo, seja a que mais lhe pode garantir um futuro melhor. Mas que nunca será o regresso ao passado que uns prometem e muitos anseiam.
Tenho pena de que os problemas do presente não permitam olhar com clareza para além do futuro próximo e que a cultura distorcida dos nossos políticos lhes não permita entender a gravidade dos problemas que a Humanidade enfrenta e lhe apontam caminhos diferentes destes que agora trilha.
Mas são os políticos que temos. Aqui e lá fora!


terça-feira, 15 de abril de 2014

FOI A ABASTANÇA DO PASSADO UMA MENTIRA?

Há muito tempo, algumas dezenas de anos já, que me inspira a afirmação, atribuída a Lord Rutherford, “se estamos sem dinheiro temos de pensar mais”. Não me recordo já onde encontrei tal citação e nem consegui, até agora, identificar claramente o Lord que tamanha verdade terá dito.
Era eu ainda estudante, um tempo em que, de um modo geral, o dinheiro escasseia, quando, algures, o li. Ficou-me na ideia e foram muitas as situações ao longo da minha vida em que me ajudou, porque não é apenas a falta de dinheiro que reclama mais reflexão.
Mas, se alguma vez, tal princípio que a minha experiência de vida sem qualquer dúvida confirmou, se tornou uma verdade incontestável e numa necessidade inadiável, é nesta altura da vida da Humanidade que insiste em métodos antigos, mas persistentemente ineficazes, para resolver uma “crise” que parece não ter fim. Tudo é pensado e feito na perspectiva de que a “economia” regresse ao crescimento que resolverá todos os problemas, mas não resulta. Nem poderia resultar tal como se não consegue fazer uma sopa sem água ou uma omeleta sem ovos, por duas ordens de razões: escasseiam cada vez mais os recursos naturais indispensáveis e, pelos excessos da actividade económica, degradam-se aceleradamente as condições de vida neste planeta. Esta é, pois, uma “economia” confinada num mundo de sonhos que a realidade não permite continuar a sonhar.
Para tudo isto fui alertado quando, muito cedo na vida, lia as reflexões de quem, já então, se preocupava com estes que viriam a ser os grandes problemas da Humanidade. Por isso lhes prestei atenção e reconheci quando chegou o momento em que tais preocupações se converteram na realidade dura que vivemos. Por isso afirmo desde há vários anos, como continuei a afirmar mesmo quando contrariado por sinais de recuperação que, afinal, o não eram, que estamos a viver o fim de um modo de viver, a assistir ao desastre de uma “economia” que se tornou num jogo em que se divertem os gurus que, no entanto, se alimentam do que produzem os que trabalham!
Felizmente, reparo que alguns economistas começam a dar-se conta do que a sua curta visão não alcançava. Começam a entender não ser possível o regresso a um passado de falsa abastança e que, como já diz Bagão Félix numa entrevista ao DN que “O tudo para todos já não existe. Ou melhor, nunca existiu… Defender o Estado Social significa, em primeiro lugar, criar os recursos necessários para a sua preservação e reformulação”.
Como ouvi já, também, admitir a possibilidade de estarmos a procurar soluções na perspectiva de a economia volte a crescer quando tal crescimento pode não ter condições para acontecer.
Passaram anos desde que, apesar de todas as evidências, se insiste no erro de querer prosseguir por um caminho impossível.
Mas é isto que fazem os políticos, tão preocupados estão com o poder que podem perder ou querem recuperar, que descuidam as suas funções de análise e de previsão com as quais deveriam preparar o futuro.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

O GOVERNO, A OPOSIÇÃO E O FUTURO

Estarei sempre pouco confiante num futuro decidido apenas por razões políticas, as quais, por sua vez, se baseiam em razões “económicas” que dependem de relações de forças que se sobrepõem às que, de facto, deveriam ser as de considerar no planeamento que cada vez mais é necessário quando os problemas se acumulam e a escassez é uma realidade que se agrava.
Num país desorientado, desorganizado e falido como era Portugal aquando do acordo de resgate a que se viu obrigado, não poderia ser apenas o equilíbrio financeiro o propósito de uma recuperação que, só por ele, nunca ficaria perfeita ou, porventura até, nem seria possível de garantir.
O esclarecimento do modelo de futuro a preparar, tendo em conta as ambições, as circunstâncias e os recursos para tal disponíveis, bem como a reorganização indispensável à optimização do aproveitamento dos recursos e à minimização de gastos, é a atitude indispensável ao equilíbrio financeiro que se pretende alcançar.
Por tudo isto me tem parecido pouco cuidado o caminho definido, no qual as questões financeiras foram, por demasiado tempo prioritárias e quase únicas, enquanto as reformas estruturais se atrasaram e vão sendo feitas de modo avulso, casuístico, sem a visão global que as integraria na verdadeira reestruturação do país.
Faz-se a reestruturação na Justiça, na Saúde, na Educação e em outros domínios, sem a matriz comum que seria o modelo de desenvolvimento previamente definido para todo o país, o modelo de aproveitamento e de estruturação de um território profundamente desequilibrado e, em grande medida, desaproveitado ou com aproveitamento deficiente.
Talvez por isso, as reformas são tão contestadas porque, de facto, parecem fatos talhados para corpos diferentes quando o deveriam ser apenas para um, o do país que somos.
Sem um modelo de futuro bem definido, sem a integração, numa reforma global, de todas as reformas sectoriais que se façam tendo-o como referência, não haverá garantias de um futuro bem sucedido e sustentado.
Mas se o Governo cometeu erros crassos nestes aspectos essenciais, a Oposição demonstrou o duplo equívoco de julgar possível o regresso ao modelo económico que nos levou às portas da bancarrota da qual apenas um resgate nos salvou e de, ao mesmo tempo, nunca levantar as questões essenciais para a construção do futuro e, deste modo, atenuar os erros que foram cometidos!

Ou será que a Oposição apenas existe para contestar e, desse modo, tentar recuperar o Poder?


domingo, 13 de abril de 2014

ABRIL, FIM OU COMEÇO?

Estão quase perfeitos quarenta anos depois daqueles dias de uma revolução que teve por mérito pôr fim a um regime impróprio e desgastado e já sem capacidade para resolver os problemas cada vez mais sérios que o isolacionismo político que fomentou, lhe colocava.
Dezenas de anos se passaram desde que foi retirada a mordaça castrante de tanto mérito e criatividade que sem ela, assim se esperava, depressa se revelaria e faria sair dos fundos de muitas gavetas as obras fantásticas que ali apodreciam sem se poder mostrar ao mundo.
Esperamos há todo este tempo pela sociedade justa que a revolução prometeu.
Passou tempo bastante de liberdade para cada um poder organizar e esclarecer as suas ideias, dar a sua contribuição para um Portugal melhor e dizer, de sua justiça, o que deseja para a sua vida, para a sua comunidade, para o seu país e, por tais objectivos, lutar com lealdade, muito e continuado esforço.
Já lá vão muitos anos em que, de esperança em esperança, de ilusão em ilusão, vemos o tempo passar sem que aconteça exactamente o que julgámos natural que acontecesse sem nada fazer mais do que a implantação de um regime democrático do qual tudo seria o corolário natural e sem retrocesso possível!
Parece que não foi assim.
Agora, em vez de, simplesmente, querer mudar, é mais do que urgente fazer contas e reflectir sobre se, passado já tanto tempo, estávamos preparados para enfrentar os problemas sérios que, mais cedo ou mais tarde, se atravessariam no nosso caminho, entender se privilegiar os interesses partidários ou pessoais, como uma democracia que não se ajustou às circunstâncias consente, é o caminho certo do futuro ou se vamos ter de reconhecer que continuar pelo único caminho que a ilusão traça é viver à toa sem encarar de frente a realidade.
Parece-me mais do que necessário reconhecer que Abril, ao contrário do que muitos pensam, não foi uma conquista definitiva mas sim o começo de um caminho difícil e trabalhoso que nos conduzirá ao futuro que o esforço de todos, solidário e muito empenhado, puder merecer.

O resto, são apenas cantigas.


sexta-feira, 11 de abril de 2014

AS DESVENTURAS DE UM CRAVO

Andam de candeias às avessas os que a “democracia de Abril” fez representantes do povo e os que dela se julgam eternos donos.
Mas, pessoas e instituições sempre acabam por atingir a maioridade que os torna independentes das suas origens, com personalidade e vida próprias, como resulta da lei da vida. E mais não resta aos progenitores do que aceitá-la. E se aos quarenta anos a maturidade para andar e decidir por si se não tiver, ainda, revelado, é tempo para reflectir sobre qual será a razão desta anomalia e a melhor solução para a corrigir.
Como se tornou tradição, a Assembleia da República comemora o 25 de Abril com uma sessão solene para a qual, com naturalidade, os chamados “capitães de Abril” são especialmente convidados. Mas desde há algum tempo que as coisas não correm bem e a exigência de poder falar para estar presente, parece ser a gota que faz transbordar o copo da conflitualidade que, estou certo, apenas põe em causa e desacredita a própria democracia cujo respeito não deve, em caso algum, depender de quaisquer contrapartidas.
Além disso, não me pareceria adequado que, numa altura como a que vivemos e, até, em período pré-eleitoral, se fizessem ouvir, no hemiciclo de S Bento, outras vozes para além das que o povo escolheu para ali serem ouvidas.
Lamento este clima de conflito que se instalou e, com graves consequências, tira força à vontade, que devia ser enorme, de um país que dela necessita muito mais do que de birras para alcançar um futuro melhor. Por isso aponto o dedo aos promotores das desavenças, aos alimentadores de fogueiras em que todos nos podemos queimar e podem fazer murchar os cravos em que depositámos a esperança de uma liberdade feliz.
A oportunidade tem-me trazido à ideia uma quadra que alguém um dia escreveu quanto ao modo de usar o cravo, se na lapela se no pé, dependendo, por certo, do mérito de quem o usa.
Mas não consigo transcrevê-la com exactidão e, por isso, não vou correr o risco de estropiar qualquer coisa que outro criou.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

ANTIGAMENTE OS BEBÉS VINHAM DE PARIS NOS BICOS DAS CEGONHAS…

… Tal como, na fuga dos judeus do Egipto, o maná que os alimentava caía do céu enquanto andavam perdidos no deserto, também há quem pense que os meios financeiros que alimentam as “conquistas” e outros dos direitos que a Constituição consagra vêm de um “nada” que pode substituir a contribuição de todos nós.
Falam de austeridade como se promovê-la alguma vez pudesse ser o propósito de quem governa e deseja continuar a governar ou, mesmo até, dos que vivem dos gastos que ela, afinal, não consente. A austeridade não pode ser, pois, um fim em si mesmo porque, afinal, não aproveita a ninguém. Em vez disso é o resultado de desatinos cometidos sem pensar nas consequências ou talvez julgando que é nos gastos desmedidos que encontram a solução dos problemas que, com eles, vão criando. Esta foi a "espiral de estupidez" que nos tramou e poderá voltar a fazê-lo!
Parece que os factos desmentem os que tomam a austeridade como um propósito sádico em vez da inevitabilidade a que os desmandos obrigaram. Este é o juízo mais lógico. Mas gostaria de poder pensar como eles porque, tal como eles também, reclamaria das contribuições que pago e do que, para além disso, me levam, agora que a minha idade é a razão que me impede de procurar outros rendimentos para além de uma reforma que o que para ela descontei justifica, mas cuja capacidade de aquisição decresce a cada dia que passa, porque tal me poderia trazer a esperança de uma solução daquelas que, dizem, a democracia sempre tem, mas desta vez não encontra.
Mas, em vez disso, sei que quando os problemas acontecem se não resolvem com ideais mas com ideias que permitam superá-los com iniciativas e trabalho, já que as choradeiras, as jornadas de luta, os poemas de protesto e outras manifestações de desespero nada mais fazem do que piorar as coisas.
Aconteceu, seja a culpa de quem for! Que mais posso fazer do que participar no esforço da recuperação? Adiantaria de alguma coisas dizer que “eu não tive a culpa”?
Diz o tão cantado Manuel Alegre que o mal está aí outra vez, não como ditadura e guerra colonial, mas sob a forma do pesadelo da austeridade. E da antologia que publica afirma que  "é por um lado uma celebração dos 40 anos do 25 de Abril, por outro, um alerta ou até talvez um ato de resistência".
Resistência a que? Resistência que deveria ter sido aos disparates que até aqui nos conduziram ou ao esforço, para alguns tão grande, para os corrigir?
Nunca vi resolver nada com cantigas. Mas é isso que eu temo, que seja com cantigas de embalar que nos adormeçam para não vermos a tragédia em que podemos enterrar-nos.

Portugal precisa de gente de fibra que reaja e supere e não de cantigas de embalar.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

POR ONDE VAI O MUNDO OU PARA ONDE VAMOS NÓS

Afinal, somos ou não somos todos iguais? Obviamente que não somos! Nascemos iguais, em direitos e deveres, mas a vida vai mudando as coisas e cada um faz o seu caminho. E todos nos vamos tornando diferentes, acabando por ser aquilo para que nascemos ou o que nos esforçámos por ser.
São as leis da vida que acabam por criar sociedades de cujas diferenças resulta a diversidade que as equilibrará na satisfação das necessidades essenciais se cada um fizer o que sabe e lhe compete fazer com a dignidade própria de uma comunidade evoluída.
Para além de tudo, da riqueza ou da formação académica de cada um, é o civismo que define o verdadeiro nível social. Mas, em termos de civismo, as coisas não vão pelo melhor caminho nesta sociedade que se tornou permissiva, acomodada e perversa. Senão, atentem nestas duas notícias que li na imprensa de hoje:
Expulsou um aluno barulhento e levou um murro. Queixou-se à GNR e participou disciplinarmente do jovem de 15 anos. A escola, em Gondomar, remeteu-a para uma junta médica por motivos psíquicos”.
No dia 21 de Março, uma professora de Matemática da escola EB 2/3 de Fânzeres, em Gondomar, instou um aluno a sair da sala por estar a perturbar a aula. O jovem dirigiu-se-lhe, "encostou a cabeça dele" à dela, ameaçou-a com "dois estalos" e acabou por dar-lhe um murro no ombro”.

Se ainda não esquecemos aquela cena macaca da aluna que brigou com a professora que lhe confiscou o telemóvel que não podia usar durante a aula, nos lembrarmos das atitudes violentas de certos pais que enfrentam os professores que, em seu juízo, não conseguem avaliar os superiores dotes dos seus energúmenos descendentes, bem como outras atitudes demenciais que por essas escolas fora acontecem, não me surpreende que muita gente se interrogue, com preocupação, sobre a caminho que, também em termos de educação, este mundo leva.
Já, há muito tempo, um poeta nostálgico recordava
"Antigamente, a Escola era risonha e franca,
O Mestre Escola usava barba branca... "
O que escreveria ele hoje?



UM DESABAFO

Não sou filiado em qualquer partido político, pelo que não usufruo de quaisquer privilégios que tal facto me possa proporcionar.
Sou crítico desta Constituição que considero excessivamente desaptada à realidade presente que, ao contrário dela, poucos direitos materiais nos pode conferir.
Não reconheço os méritos de uma democracia que não evoluiu com o tempo e cuja afirmação maior está nas alternâncias de poder que promove, o que lhe impede a visão de futuro que a governação cada vez mais deve ter, sobretudo quando se tornou evidente terem sido a sua profunda miopia e o aproveitamento cíclico das vantagens que o poder conquistado trás em prejuízo da dedicação à causa comum, a origem dos maiores erros que cometeu e geraram a situação preocupante em que o mundo se encontra.
Causa-me espanto a profunda ignorância que os políticos revelam do Planeta em que vivemos e, por ela, insistem nos disparates que não conseguem evitar por absoluta falta de perspectiva de futuro.
Preocupam-me os problemas desta economia que a globalização agravou, mas ainda mais a cegueira que tolda a visão dos que já deveriam ter dado conta da impossibilidade de prosseguir a via de desperdício de recursos escassos a que o seu constante crescimento obriga, descaracterizou a sociedade e a família por hábitos, procedimentos e modos de vida que introduziu e provocou profundas alterações no Ambiente e na estrutura demográfica que se vão tornando impróprios para esta Humanidade que corre o risco de, assim, apressar o seu caminho para a extinção que, um dia, fatalmente, acontecerá.
Acho insustentáveis as desigualdades cada vez mais cavadas entre o mundo “evoluído” e o Terceiro Mundo, das quais resultam os dramas dos quais diariamente nos dão conta as notícias dos acidentes sofridos pelos que, desesperados, tentam fugir do inferno em que nasceram.
Revoltam-me os atropelos aos direitos humanos em comunidades populosas e economicamente frágeis onde a escravatura impõe, a tanta gente, as dores terríveis de que o mundo “civilizado” se aproveita para ter, a baixo preço, o que o seu elevado nível de vida tornou impróprio de si fazer.
Não sei até quando, mas penso que não poderá continuar por muito tempo, o conforto excessivo de uns será o desconforto excessivo e aviltante de outros e coro de vergonha quando leio na Constituição do meu país e de outros que, com ele, supostamente constituem o mundo civilizado e evoluído, direitos e regalias que esses desgraçados nem imaginam o que sejam.
Considero hipocrisia sem limites as normas de qualidade minuciosas, sejam da água, dos alimentos, dos serviços prestados ou sejam do que for, quando no mundo vivem milhares de milhões de seres humanos que não dispõem nem do mínimo de que o simples sobreviver necessita e os deixamos beber água fétida e comer alimentos pútridos, quando os tenham, em vez de para com eles termos a solidariedade que o envio de uns sacos de arroz ou de farinha não é, de todo.
Poderia continuar quase indefinidamente com esta ladainha que a estupidez, a hipocrisia e o egoísmo que vejo à minha volta e se excedem em tempos de disputa de poder me inspira e, estarei infelizmente certo, será a ruína da vida e dos valores que julgávamos ser nossos por direito mas que, afinal, teriam de ser conquistados. Sou, por isso, um “desaptado” nesta sociedade de “políticos” egoístas, incultos, ignorantes e hipócritas que, não tarda, mais uma vez tentarão que lhes dê o meu voto para que, depois, possam fazer o que lhes der na real gana, sem se lembrarem mais de mim.
Uns mais do que outros, obviamente.


terça-feira, 8 de abril de 2014

VERDADES DE PITONISA

Quando os mais velhos, aqueles a quem a vida proporcionou a experiência que aos mais novos falta ainda e, por ela, seriam os conselheiros ideiais, os homens sábios deste país que ajudariam a conduzir no sentido da razão e do bom senso, dizem as coisas absurdas que Soares diz nas suas crónicas domingueiras, eu entendo melhor por que chegámos ao ponto de termos vivido os horrores que vivemos, de termos feito os sacrifícios que fizemos e, apesar disso, podermos vir a mergulhar ainda mais fundo na lama de que estamos a querer sair.
Qual Pitonisa, desta vez Soares escreve que não tem dúvidas de que este Executivo "cego e surdo" cairá "dentro de, o mais tardar, um mês e pouco", e, aí, "a verdade virá à tona da água".
Não tenho dons divinatórios que me permitam dizer se Soares está certo ou errado nas suas previsões de hecatombe política que nada, hoje, leva a prever. Mas as loucuras acontecem e essa poderá ser mais uma de tantas que a cada dia se vêem. Acontecerá, pois, o que tiver de acontecer neste país que não parece ainda satisfeito com as provações por que passou, porventura convencido de que não haverá pior por que passar. Mas há, infelizmente! E bem pior se regressarmos às leviandades de outrora.
Passado este pormenor que não discuto para me não intrometer em obscuros processos divinatórios que não domino, a minha curiosidade concentra-se na “verdade que virá à tona de água”.
A que verdade se referirá Soares? Àquela que se conta aos tontinhos que se julgam inteligentes porque já não acreditam no pai natal e os deixa felizes? Aquela que, depois, não é porque afinal…
Todos conhecemos a cena. Mas muitos não se recordam dela!
Pois… devem ser as verdades que se contam nas campanhas eleitorais em que o povo recebe o “beijo de Judas” que o levará a mais um Calvário!

A verdade não será aquela pela qual Soares espera nem a que Arménio, Jerónimo e outros esperam também, porque a verdade dura é muito difícil de esconder e, por isso, sempre está à vista dos que a querem ver e é aquela que as pessoas reconhecem neste caminho pedregoso que as “pitonisas” nos obrigaram a percorrer, fiadas na magia do que mágico não é, sem a visão de futuro que os governantes deveriam ter e, pior do que isso, sem fazerem ideia do mundo que enfrentam e se torna diferente a cada dia que passa, muito diferente daquele que fez crer ser verdade o que deixou de o ser.