Estarei
sempre pouco confiante num futuro decidido apenas por razões políticas, as
quais, por sua vez, se baseiam em razões “económicas” que dependem de relações
de forças que se sobrepõem às que, de facto, deveriam ser as de considerar no
planeamento que cada vez mais é necessário quando os problemas se acumulam e a
escassez é uma realidade que se agrava.
Num
país desorientado, desorganizado e falido como era Portugal aquando do acordo
de resgate a que se viu obrigado, não poderia ser apenas o equilíbrio
financeiro o propósito de uma recuperação que, só por ele, nunca ficaria
perfeita ou, porventura até, nem seria possível de garantir.
O
esclarecimento do modelo de futuro a preparar, tendo em conta as ambições, as
circunstâncias e os recursos para tal disponíveis, bem como a reorganização
indispensável à optimização do aproveitamento dos recursos e à minimização de
gastos, é a atitude indispensável ao equilíbrio financeiro que se pretende
alcançar.
Por
tudo isto me tem parecido pouco cuidado o caminho definido, no qual as questões
financeiras foram, por demasiado tempo prioritárias e quase únicas, enquanto as
reformas estruturais se atrasaram e vão sendo feitas de modo avulso, casuístico, sem a
visão global que as integraria na verdadeira reestruturação do país.
Faz-se
a reestruturação na Justiça, na Saúde, na Educação e em outros domínios, sem a matriz comum
que seria o modelo de desenvolvimento previamente definido para todo o país, o modelo de
aproveitamento e de estruturação de um território profundamente desequilibrado
e, em grande medida, desaproveitado ou com aproveitamento deficiente.
Talvez
por isso, as reformas são tão contestadas porque, de facto, parecem fatos talhados
para corpos diferentes quando o deveriam ser apenas para um, o do país que
somos.
Sem
um modelo de futuro bem definido, sem a integração, numa reforma global, de
todas as reformas sectoriais que se façam tendo-o como referência, não haverá
garantias de um futuro bem sucedido e sustentado.
Mas
se o Governo cometeu erros crassos nestes aspectos essenciais, a Oposição
demonstrou o duplo equívoco de julgar possível o regresso ao modelo económico
que nos levou às portas da bancarrota da qual apenas um resgate nos salvou e de,
ao mesmo tempo, nunca levantar as questões essenciais para a construção do
futuro e, deste modo, atenuar os erros que foram cometidos!
Ou
será que a Oposição apenas existe para contestar e, desse modo, tentar recuperar
o Poder?
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