ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

UM DESABAFO

Não sou filiado em qualquer partido político, pelo que não usufruo de quaisquer privilégios que tal facto me possa proporcionar.
Sou crítico desta Constituição que considero excessivamente desaptada à realidade presente que, ao contrário dela, poucos direitos materiais nos pode conferir.
Não reconheço os méritos de uma democracia que não evoluiu com o tempo e cuja afirmação maior está nas alternâncias de poder que promove, o que lhe impede a visão de futuro que a governação cada vez mais deve ter, sobretudo quando se tornou evidente terem sido a sua profunda miopia e o aproveitamento cíclico das vantagens que o poder conquistado trás em prejuízo da dedicação à causa comum, a origem dos maiores erros que cometeu e geraram a situação preocupante em que o mundo se encontra.
Causa-me espanto a profunda ignorância que os políticos revelam do Planeta em que vivemos e, por ela, insistem nos disparates que não conseguem evitar por absoluta falta de perspectiva de futuro.
Preocupam-me os problemas desta economia que a globalização agravou, mas ainda mais a cegueira que tolda a visão dos que já deveriam ter dado conta da impossibilidade de prosseguir a via de desperdício de recursos escassos a que o seu constante crescimento obriga, descaracterizou a sociedade e a família por hábitos, procedimentos e modos de vida que introduziu e provocou profundas alterações no Ambiente e na estrutura demográfica que se vão tornando impróprios para esta Humanidade que corre o risco de, assim, apressar o seu caminho para a extinção que, um dia, fatalmente, acontecerá.
Acho insustentáveis as desigualdades cada vez mais cavadas entre o mundo “evoluído” e o Terceiro Mundo, das quais resultam os dramas dos quais diariamente nos dão conta as notícias dos acidentes sofridos pelos que, desesperados, tentam fugir do inferno em que nasceram.
Revoltam-me os atropelos aos direitos humanos em comunidades populosas e economicamente frágeis onde a escravatura impõe, a tanta gente, as dores terríveis de que o mundo “civilizado” se aproveita para ter, a baixo preço, o que o seu elevado nível de vida tornou impróprio de si fazer.
Não sei até quando, mas penso que não poderá continuar por muito tempo, o conforto excessivo de uns será o desconforto excessivo e aviltante de outros e coro de vergonha quando leio na Constituição do meu país e de outros que, com ele, supostamente constituem o mundo civilizado e evoluído, direitos e regalias que esses desgraçados nem imaginam o que sejam.
Considero hipocrisia sem limites as normas de qualidade minuciosas, sejam da água, dos alimentos, dos serviços prestados ou sejam do que for, quando no mundo vivem milhares de milhões de seres humanos que não dispõem nem do mínimo de que o simples sobreviver necessita e os deixamos beber água fétida e comer alimentos pútridos, quando os tenham, em vez de para com eles termos a solidariedade que o envio de uns sacos de arroz ou de farinha não é, de todo.
Poderia continuar quase indefinidamente com esta ladainha que a estupidez, a hipocrisia e o egoísmo que vejo à minha volta e se excedem em tempos de disputa de poder me inspira e, estarei infelizmente certo, será a ruína da vida e dos valores que julgávamos ser nossos por direito mas que, afinal, teriam de ser conquistados. Sou, por isso, um “desaptado” nesta sociedade de “políticos” egoístas, incultos, ignorantes e hipócritas que, não tarda, mais uma vez tentarão que lhes dê o meu voto para que, depois, possam fazer o que lhes der na real gana, sem se lembrarem mais de mim.
Uns mais do que outros, obviamente.


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