Por mil razões, não
esperava das comemorações do 25 de Abril mais do que o que foram.
Num ambiente de velório
carregado, choraram-se as mágoas pelo que um país fez com a liberdade que alcançou!
Vivendo em democracia, que perplexidade maior pode imaginar-se?
Terão os ressentimentos acumulados e a ganância emancipada deixado resvalar para a licenciosidade o que em liberdade e com sensatez deveria ter sido vivido?
Terão os ressentimentos acumulados e a ganância emancipada deixado resvalar para a licenciosidade o que em liberdade e com sensatez deveria ter sido vivido?
Se, ao longo de dias e
dias, tudo foi preparado para carpir mágoas, confundir razões, maldizer a
governação e clamar por uma mudança que ninguém indica por onde nem como se
fará, se a discussão responsável do futuro foi calada pelo barulho estridente do
revivalismo de lutas às quais outras bem mais duras e oportunas agora fazem perder o
sentido, se se reclamam “conquistas” que um esforço sério não consolidou, que
outras sensações poderiam manifestar-se para além da frustração de um tempo
vivido de costas para a realidade que o tempo, inevitavelmente, mudou?
Como será possível pensar
hoje como se pensava então, acalentar os mesmos sonhos que então queríamos realizar,
eleger como inimigos os alvos que já não o podem ser, usar as mesmas razões e
os mesmos meios quando as circunstâncias são tão diversas e até o mundo que nos
rodeia mudou?
Não sou capaz de encontrar
razões para, depois de quarenta anos ao longo dos quais a realidade nos chama à
razão à qual não demos ouvidos nem prestámos atenção, se atingir um desencanto tamanho
e, pior do que isso, tão fortemente se revelar o desejo de recuperar o que o
tempo, inapelavelmente, desfez, a não ser pelas razões de um desejo insuperável
de, por outra revolução talvez, retomar o caminho das utopias que o tempo
mostrou serem irrealizáveis. Ou será o caminho que conduzirá alguns ao sucesso
a que o verdadeiro bem do povo jamais os conduziria?
Se tudo o que se passou
nos não fizer pensar nas responsabilidades que temos para com um país com um
longo passado mas cuja dimensão do futuro depende de nós, será funda a cova que abrimos
para sepultar a esperança de uma independência nacional que poucos já parecem
saber o que seja.
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