Estão quase perfeitos
quarenta anos depois daqueles dias de uma revolução que teve por mérito pôr fim
a um regime impróprio e desgastado e já sem capacidade para resolver os
problemas cada vez mais sérios que o isolacionismo político que fomentou, lhe
colocava.
Dezenas de anos se
passaram desde que foi retirada a mordaça castrante de tanto mérito e
criatividade que sem ela, assim se esperava, depressa se revelaria e faria sair
dos fundos de muitas gavetas as obras fantásticas que ali apodreciam sem se
poder mostrar ao mundo.
Esperamos há todo este
tempo pela sociedade justa que a revolução prometeu.
Passou tempo bastante de
liberdade para cada um poder organizar e esclarecer as suas ideias, dar a sua
contribuição para um Portugal melhor e dizer, de sua justiça, o que deseja para
a sua vida, para a sua comunidade, para o seu país e, por tais objectivos,
lutar com lealdade, muito e continuado esforço.
Já lá vão muitos anos em
que, de esperança em esperança, de ilusão em ilusão, vemos o tempo passar sem
que aconteça exactamente o que julgámos natural que acontecesse sem nada fazer mais
do que a implantação de um regime democrático do qual tudo seria o corolário
natural e sem retrocesso possível!
Parece que não foi assim.
Agora, em vez de,
simplesmente, querer mudar, é mais do que urgente fazer contas e reflectir
sobre se, passado já tanto tempo, estávamos preparados para enfrentar os
problemas sérios que, mais cedo ou mais tarde, se atravessariam no nosso
caminho, entender se privilegiar os interesses partidários ou pessoais, como
uma democracia que não se ajustou às circunstâncias consente, é o caminho certo
do futuro ou se vamos ter de reconhecer que continuar pelo único caminho que a
ilusão traça é viver à toa sem encarar de frente a realidade.
Parece-me mais do que necessário reconhecer que Abril, ao contrário do que muitos pensam, não foi uma conquista definitiva mas sim o começo de um
caminho difícil e trabalhoso que nos conduzirá ao futuro que o esforço de
todos, solidário e muito empenhado, puder merecer.
O resto, são apenas cantigas.
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