Passou Abril, um mês que
deveria ter sido de profunda reflexão sobre quarenta anos de uma democracia mal
sucedida, findos os quais o país sofre as agruras de um baixo nível de vida a
que gastos excessivos, resultantes do mau entendimento da realidade por
sucessivas governações, deu lugar. Em vez disso, Abril não passou de uma longa
campanha em prol da demissão do governo, tendo como argumento o “empobrecimento”
que a sua política de recuperação do equilíbrio financeiro, desfeito pela imprudência
gastadora de anteriores governações, inevitavelmente teria de causar.
Passou um mês que deveria ter
sido de reflexão serena e produtiva mas que não passou, infelizmente, de um
repositório da leviandade sucessiva com que os problemas do país têm sido
encarados, das soluções impróprias que têm sido adoptadas e da atitude passiva
e incompetente dos nossos políticos perante os graves problemas económicos,
financeiros, sociais e etários que nos
afectam e que, a continuar assim, muito mais ainda nos afectarão.
Diria que, com queixas e
muita algazarra, se tentou fazer disfarçar o insucesso de uma “democracia”
que cometeu o erro de querer dar o passo maior do que a perna, acreditando em
facilidades que a administração de um país não consente ou até, talvez, os
equívocos de uma “revolução” que teve mais em mente a fruição de vantagens do
que realização do trabalho duro a que a construção de um país novo daria lugar.
Foi, para mim, deprimente
o aproveitamento do falhanço evidente de um acontecimento que deveria ter dado
lugar a um modo diferente de viver na liberdade, na cooperação e na harmonia
que o anterior regime não consentia.
Foi, sem dúvida, a
oportunidade perdida para esclarecer as razões de tudo quanto aconteceu, para
encontrar explicações para o insucesso e evitar a repetição dos erros
cometidos.
Foi com o espírito vanguardista
de sempre que foi vivido este Abril que, definitivamente, necessita mais de
entendimento do que do voluntarismo que, monotonamente, o tem inspirado.
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