… Tal como, na fuga dos
judeus do Egipto, o maná que os alimentava caía do céu enquanto andavam
perdidos no deserto, também há quem pense que os meios financeiros que
alimentam as “conquistas” e outros dos direitos que a Constituição consagra vêm
de um “nada” que pode substituir a contribuição de todos nós.
Falam de austeridade como
se promovê-la alguma vez pudesse ser o propósito de quem governa e deseja
continuar a governar ou, mesmo até, dos que vivem dos gastos que ela, afinal,
não consente. A austeridade não pode ser, pois, um fim em si mesmo porque,
afinal, não aproveita a ninguém. Em vez disso é o resultado de desatinos
cometidos sem pensar nas consequências ou talvez julgando que é nos gastos
desmedidos que encontram a solução dos problemas que, com eles, vão criando. Esta foi a "espiral de estupidez" que nos tramou e poderá voltar a fazê-lo!
Parece que os factos
desmentem os que tomam a austeridade como um propósito sádico em vez da
inevitabilidade a que os desmandos obrigaram. Este é o juízo mais lógico. Mas gostaria
de poder pensar como eles porque, tal como eles também, reclamaria das
contribuições que pago e do que, para além disso, me levam, agora que a minha
idade é a razão que me impede de procurar outros rendimentos para além de uma
reforma que o que para ela descontei justifica, mas cuja capacidade de
aquisição decresce a cada dia que passa, porque
tal me poderia trazer a esperança de uma solução daquelas que, dizem, a
democracia sempre tem, mas desta vez não encontra.
Mas, em vez disso, sei que
quando os problemas acontecem se não resolvem com ideais mas com ideias que
permitam superá-los com iniciativas e trabalho, já que as choradeiras, as
jornadas de luta, os poemas de protesto e outras manifestações de desespero
nada mais fazem do que piorar as coisas.
Aconteceu, seja a culpa de
quem for! Que mais posso fazer do que participar no esforço da recuperação?
Adiantaria de alguma coisas dizer que “eu não tive a culpa”?
Diz o tão cantado Manuel Alegre que o mal está aí outra vez, não como ditadura e guerra colonial, mas
sob a forma do pesadelo da austeridade. E da antologia que publica afirma que "é por um lado uma celebração dos 40 anos
do 25 de Abril, por outro, um alerta ou até talvez um ato de resistência".
Resistência a que?
Resistência que deveria ter sido aos disparates que até aqui nos conduziram ou
ao esforço, para alguns tão grande, para os corrigir?
Nunca vi resolver nada com
cantigas. Mas é isso que eu temo, que seja com cantigas de embalar que nos
adormeçam para não vermos a tragédia em que podemos enterrar-nos.
Portugal precisa de gente
de fibra que reaja e supere e não de cantigas de embalar.
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