ACORDO ORTOGRÁFICO

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

25 DE ABRIL, UM PROPÓSITO OU UMA OPORTUNIDADE?

Quarenta anos depois do 25 de Abril de 1974, comemorar a queda de um regime autoritário com ataques a um Governo a que o regime democrático então restaurado deu a oportunidade de governar, em vez de louvar a possibilidade de o poder fazer por decisão do povo, não pode ser senão um oportunismo preconceituoso que, em tempo de campanha eleitoral, se aproveita das emoções próprias de um evento de cujas consequências, melhores ou piores, não deveríamos querer abdicar
Para minha desilusão, não são para exaltar um acontecimento mas para atacar um governo que se fazem conferências “abrilistas” com discursos inflamados que não tomam a restauração da liberdade política como um propósito mas, em vez disso, como a oportunidade de uma ideologia que outras não podem afrontar sem cometer heresia.
Proceder deste modo é, só por si, um contra-senso, uma subversão dos conceitos mais básicos da democracia. Mas fazê-lo de um modo manipulador de “verdades” e sem o bom senso de quem deve fazer da autenticidade e do saber as artes com as quais se previne o futuro de um país, é uma atitude condenável.  
“Já não temos Serviço Nacional de Saúde, já não temos Serviço Social…” e mais coisas, com pouco ou nenhum sentido, disse Mário Soares que já não temos, afirmando que os responsáveis por tal situação “deverão, por isso, um dia ser julgados.”
Esqueceu-se, sem dúvida, dos efeitos das governações perdulárias que lhe causaram amargos de boca, o levaram a estender a mão à boa vontade do FMI e fizeram dele o primeiro governante do pós 25 de Abril, a pedir ao povo para “apertar o cinto”!
Eu penso que os responsáveis pelo que estamos a passar foram já julgados, como ele o foi também, em eleições que lhes retiraram o poder que não usaram como deveriam, o que é a razão mais forte para a situação de austeridade financeira que vivemos, estando, naturalmente, a sofrer as consequências dos desmandos cometidos, dos abusos consentidos e das más decisões tomadas por quem, dizendo recusar o “discurso da tanga”, comprometeu o futuro num salto para o abismo no qual, como afirmou, se sentia “sozinho a puxar pelo país”.
E o discurso do preconceito oportunista prossegue com outros protagonistas estranhos como o é, sem dúvida, Freitas do Amaral, o primeiro presidente do partido mais à direita do leque político português, que classificou este Governo como o mais à direita que alguma vez governou Portugal e afirmou estarmos a viver um momento de retrocesso histórico como jamais se viu! Saberá muito do passado o Professor que, ao contrário do que um político deve saber, não parece fazer ideia do que seja a realidade actual, das mudanças profundas que o mundo sofreu nem do que, por elas, possa ser o futuro próximo que, um dia, será História também.
E, como se tornou moda, até um bem conhecido militante do PSD, tal como outros desde há tempos mais entregue mais à crítica do que à participação militante que poderia permitir, ao governo do seu partido, ser melhor, mesmo sem cravo participou nesta ladainha de maldizer.
Será que é, deste modo, que Mário Soares pretende cumprir o propósito de um conhecido “capitão de Abril” para correr com o Governo à paulada e Fretas do Amaral pretende reentrar na política onde perdeu o lugar, formando um novo partido?

Não é o Governo que me preocupa, mas o modo como esta democracia é vivida, o modo como uma comemoração é aproveitada de um modo impróprio e descabido, o que me faz preocupar com o futuro a que os maus procedimentos possam conduzir.


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