Foi frequente, ao longo
destes últimos dias, ouvir falar dos “valores de Abril” e dos “direitos
constitucionais” que muita gente entende estarem a ser destruídos ou
pervertidos pela austeridade que vivemos.
Dos porquês da austeridade
e da sua inevitável continuação por mais tempo ainda, já muito aqui reflecti,
pelo que me dispenso de o fazer de novo.
Dos ditos “valores de Abril”
nunca entendi quais sejam para além da instituição de um regime democrático
que, pela liberdade que implica, seguiria o seu caminho sem outras imposições
que não a vontade dos cidadãos em conformidade com as regras pela democracia definidas.
Nem de outro modo poderia ser porque a democracia não pode impor caminhos,
sendo por isso que se distingue dos regimes autoritários. Define comportamentos
livres e responsáveis que, pela natureza das coisas, não correspondem à
aparente uniformidade que os regimes autocráticos determinam.
Não podem, pois, os tão
propalados “valores de Abril” passar de uma falácia porque, a não ser assim,
constituiriam uma imposição que limitaria a liberdade democrática que a “revolução”
dizia garantir. Radicariam nessa possível imposição os valores que se desejavam
criar, pois de outro modo jamais os vi definidos?
A primeira Constituição da
República aprovada depois do 25 de Abril determinava que Portugal seria uma
república democrática tendencialmente socialista! O que é uma orientação que a liberdade
democracia não pode consentir.
O Almirante Vitor Crespo que
integrou o Conselho da revolução, afirmou, recentemente, que "A Constituição tem uma estrutura democrática
avançada para a época. Penso que não é por razão dela que o país tem passado as
vicissitudes que tem passado, mas pelas pessoas que integram essa estrutura.
Isto é, não se tem criado aqui um clima de responsabilidade equivalente à
estrutura democrática que foi criada, e da qual eu me orgulho muito".
Em meu parecer, o “avanço
temporal” da Constituição, na altura considerada a mais avançada do mundo, não
é penhor da sua adaptação a uma realidade que deveria evoluir livremente,
conforme a democracia garante, a menos que os “valores de Abril” fossem o
pressuposto de uma determinada via que impediria quaisquer outras de se manifestar. Seria o condicionamento impróprio do livre fluir do regime de liberdade conquistado.
Correr o
Governo à paulada, como diz Vasco Lourenço, ou de outro modo qualquer como diz
Mário Soares, fazer um novo 25 de Abril, como dizem outros ou “desobedecer”
como afirma o Bloco de Esquerda, não passariam de uma revolução contra um
regime democrático que, por ser livre, seguiu a via que o povo determinou e não
a que eles esperariam.
Em democracia as “revoluções
de regime” são, obviamente, anti-democráticas, por isso inadmissíveis. Como
inadmissíveis deveriam ser as confusões com que se pretende influenciar o povo
para desvirtuar um regime que, a meu ver, precisa, urgentemente, de se
modernizar, se pretende continuar a ser democrático!
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