É natural que, ao longo do tempo e por força
do que vemos e vamos vivendo, tenhamos de ajustar os modos que usamos, seja
para o que for, às novas realidades que vão surgindo. E o modo de aquisição de
conhecimentos está, por certo, entre os que mais necessidade têm de evoluir com
a realidade.
Uma notícia que fala do sucesso Xavier Niel, homem
de negócios francês na área das tecnologias de telecomunicações, diz que, aos
16 anos, ele recebeu de seu pai um Sinclair
ZX81 com o qual, em vez de se divertir com jogos gravados em cassetes, treinou
e desenvolveu linguagem de programação que já dominava completamente três anos
depois, o que lhe trouxe muito sucesso e dinheiro.
A notícia compara-o, mesmo a Mark Zukerberg e
Steve Jobs que, sem passados académicos notáveis se tornaram mestres muito bem sucedidos
nos seus empreendimentos em novas tecnologias.
A notícia continua dizendo que “assim, em
2013, depois de afirmar que o sistema educativo de França não funcionava,
começou a pensar em como melhorá-lo. A resposta foi a École 42 em Paris, uma experiência
pedagógica para formar programadores em que não há professores, exames,
horários ou graus académicos, é gratuita para os estudantes e é totalmente
financiada por Xavier Niel”.
Deu-me que pensar esta notícia, sobretudo
pela afirmação de não funcionar o sistema educativo em França, bem como a
resposta que deu com a sua École 42 e o modo como funciona.
É, com certeza, um projecto magnífico este
que parece funcionar bem para quem deseja especializar-se em “ciências
tecnológicas”, sem preocupação por outros conhecimentos.
Esta escola acaba por selecionar 1000 entre
os 80000 que se inscrevem, dos quais cada um alcançará o nível de que for capaz
no domínio exclusivo do saber que escolheu.
É aqui que entra o meu total e frontal
desacordo com este modo de aprender que faz do conhecimento alcançado o ponto
de partida para ser milionário mas, ao mesmo tempo, o torna refém de um
conhecimento específico fora do qual pouco mais será do que ignorante.
É a especialização levada ao extremo que faz,
de quem a adquire, um robô que executa com mestria as suas funções, mas
desconhece a importância social, o sentido e a razão de ser do que faz.
O mundo não pode reduzir-se a esta tecnologia
que cria um ambiente virtual que pouco ou nada tem a ver com a realidade. Daí o
desconhecimento, cada vez mais generalizado, das grandes questões da vida, dos
problemas que o nosso próprio modo de viver nos cria e da inaptidão para os
reconhecer e dar-lhes solução.
O face book, o tweeter, enfim, o telemóvel ou
o ipad não devem absorver todo o tempo para além das obrigações sociais que
tivermos, porque, no aproveitamento dos tempos livres, a convivência directa e
os momentos de reflexão são indispensáveis ao equilíbrio social que a
virtualidade tecnológica vai destruindo.
Pelo contrário, a vida exige mais do que a simples auto-aprendisagem e, muito mais
ainda, do que a especialização precoce em pequenos nichos de saber que nos afasta do
seu verdadeiro e global conhecimento.
A indisponibilidade de tempo a que esta vida
atribulada que levamos nos conduz, exige, sem dúvida novos modos de transmitir
conhecimentos que cada vez menos passa pela pouco mais do que inutilidade de
decorar a matéria mas sim por compreendê-la, por saber raciocinar a partir de
conhecimentos mais básicos, para o que não conheço livro ou manual que ensine a
fazer. Daí a indispensabilidade do professor que, de facto, o seja.