ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

LISBOA E O RESTO

Ouvi o discurso de Rui Moreira na sua tomada de posse como presidente da Câmara do Porto e não fiquei muito surpreendido, tal como me não surpreendera, antes, a sua eleição independente, fora de partidos políticos.
Depois dos efeitos desta democracia mal assimilada que fez nascer em Portugal uma classe de autênticos oportunistas que se agrupam para melhor defenderem os seus interesses e das razões que já nos deu para sentirmos que muita coisa precisa de mudanças urgentes, o discurso do novo presidente da Câmara do Porto pareceu-me um grito de revolta contra o centralismo de Lisboa que os profissionais da política desejam preservar a todo o custo.
Não pude deixar de recordar a autêntica vergonha que foi o referendo que se realizou sobre a regionalização administrativa que a Constituição impunha que se fizesse num prazo que ninguém cumpriu nem o Tribunal Constitucional impôs que fosse cumprido. Foi, para mim e, decerto para muita gente, a prova mais evidente do cinismo político em Portugal, porque não posso acreditar que tanto os propositores da regionalização como os que contra ela se manifestaram sejam tão ignorantes como tudo quanto disseram fez crer que fossem. Foi um referendo ridiculamente patético em que o Zé Povinho, infantilmente, se deixou levar porque se uns propuzeram uma regionalização sem pés nem cabeça, os outros a combateram com argumentos que pressupunham alternativas de benefícios que nunca aconteceram.
As consequências são um país cada vez mais desorganizado, mais desequilibrado e menos preparado para aproveitar os seus recursos, um país que ficou sem as condições mínimas necessárias para reagir contra esta crise final de uma economia manipuladora sem mais condições para se manter por muito mais tempo.
Mas ningém disso reclama porque todas as cúpulas de partidos, de sindicatos ou seja do que for, já consideram o país pequeno demais para que, com a regionalização, as suas influências possam ser limitadas.
Rui Moreira, na sua proposta de uma Liga de Cidades “passando, entre outras, por Viana do Castelo, por Braga e Guimarães, por Chaves e Vila Real, num traço contínuo que nos une como norte”, mais não propõe do que a constituição de uma região com o “pêso” bastante para se impor ao centralismo que tem sido a causa real da estagnação da maior parte do país.
Mas também me não parece ser esta a via certa para regionalizar porque a “região” não é um aglomerado de autarquias porque é, ela própria, uma autarquia de outro nível, com competências próprias.
Mas, seja como for, fica o aviso que espero não acabe no discurso que ouvi se, de facto, pretende conseguir alguns efeitos de que o país tanto carece, não apenas naquele "norte" que Rui Moreira refere mas em todo o país para além da influência próxima de Lisboa.

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