Ouvi
o discurso de Rui Moreira na sua tomada de posse como presidente da
Câmara do Porto e não fiquei muito surpreendido, tal como me não
surpreendera, antes, a sua eleição independente, fora de partidos
políticos.
Depois
dos efeitos desta democracia mal assimilada que fez nascer em
Portugal uma classe de autênticos oportunistas que se agrupam para
melhor defenderem os seus interesses e das razões que já nos deu
para sentirmos que muita coisa precisa de mudanças urgentes, o
discurso do novo presidente da Câmara do Porto pareceu-me um grito
de revolta contra o centralismo de Lisboa que os profissionais da
política desejam preservar a todo o custo.
Não
pude deixar de recordar a autêntica vergonha que foi o referendo que
se realizou sobre a regionalização administrativa que a
Constituição impunha que se fizesse num prazo que ninguém cumpriu
nem o Tribunal Constitucional impôs que fosse cumprido. Foi, para
mim e, decerto para muita gente, a prova mais evidente do cinismo
político em Portugal, porque não posso acreditar que tanto os
propositores da regionalização como os que contra ela se
manifestaram sejam tão ignorantes como tudo quanto disseram fez crer
que fossem. Foi um referendo ridiculamente patético em que o Zé
Povinho, infantilmente, se deixou levar porque se uns propuzeram uma
regionalização sem pés nem cabeça, os outros a combateram com
argumentos que pressupunham alternativas de benefícios que nunca
aconteceram.
As
consequências são um país cada vez mais desorganizado, mais
desequilibrado e menos preparado para aproveitar os seus recursos, um
país que ficou sem as condições mínimas necessárias para reagir
contra esta crise final de uma economia manipuladora sem mais
condições para se manter por muito mais tempo.
Mas
ningém disso reclama porque todas as cúpulas de partidos, de
sindicatos ou seja do que for, já consideram o país pequeno demais
para que, com a regionalização, as suas influências possam ser
limitadas.
Rui
Moreira, na sua proposta de uma Liga
de Cidades “passando, entre outras, por Viana do Castelo, por Braga
e Guimarães, por Chaves e Vila Real, num traço contínuo que nos
une como norte”, mais
não propõe do que a constituição de uma região com o “pêso”
bastante para se impor ao centralismo que tem sido a causa real da
estagnação da maior parte do país.
Mas
também me não parece ser esta a via certa para regionalizar porque a
“região” não é um aglomerado de autarquias porque é, ela
própria, uma autarquia de outro nível, com competências próprias.
Mas,
seja como for, fica o aviso que espero não acabe no discurso que
ouvi se, de facto, pretende conseguir alguns efeitos de que o país
tanto carece, não apenas naquele "norte" que Rui Moreira refere mas em todo o país para além da influência próxima de Lisboa.
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