ACORDO ORTOGRÁFICO

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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

OITO E OITENTA!

Depois de uma manifestação de milhares ou, mesmo, dezenas de milhares contra a Troika, o Governo e o Presidente da República, fala-se, agora de uma outra. Esta, que dizem ser de apenas sete pessoas entre os 35 e 60 anos, fará uma arruada para se manifestar a favor da Troika, à qual agradece a intervenção sem a qual o país continuaria, por certo, no caminho do descalabro.
É habitual, em casos em que se confrontam ideias, interesses ou forças, as pessoas escolherem um lado para apoiar. Também há os que ficam indiferentes, deixando aos outros aquela maçada de ter opinião ou a coragem de lutar por ela.
Acontece assim no futebol, nas discussões do bairro, na política, eu sei lá. E se, em algumas circunstâncias, estar por este ou por aquele tem pouca importância ou até nenhuma, outros há em que os nossos próprios interesses vitais estão em causa, como acontece no caso da política, em que muita gente tem o mau hábito de deixar que outros decidam por si.
Mas, em qualquer caso, a tomada de posição tem consequências porque o nosso clube pode perder e os outros nos menosprezarão, podemos por em causa importantes relações sociais com aqueles com quem discordamos ou podemos ter influência no nosso futuro, para que seja melhor ou pior.
Tal como quando o médico nos diz que, pela nossa saúde, temos de evitar coisas das quais muito gostamos porque nos fazem mal, fazer tratamentos desagradáveis ou submetermo-nos a uma cirurgia que, durante algum tempo, nos trará sérias dores e outros incómodos, podemos decidir seguir ou não o seu conselho que, depois de uns tempos de dor, nos poderá devolver a vida melhor qua a doença nos não permitia.
Em qualquer caso, é sempre uma escolha que teremos de fazer, uma decisão que teremos de tomar, a qual, em certas circunstâncias, pode representar a diferença entre a solução do problemas que temos e o seu agravamento. Por isso teremos de ponderar os prós e os contras do que decidirmos, o que só poderemos fazer bem se bem os conhecermos.
Nesta caso das manifestações o que faria eu se tivesse de me manifestar? Participaria naquela que atravessou a ponte em autocarros para, na outra margem, ouvir o Arménio debitar as loas dos costume, vociferar os mesmos insultos, dizer os mesmos disparates porque nem faz ideia das causas profundas de tudo o que se passa?
Não, porque isso parece-me qualquer coisa como zangarmo-nos com a chaga que nos consome, preferir tentar as mesinhas do costume para aliviar a dor que nos causa, em vez de nos decidirmos pela intervenção profunda e séria que talvez nos livre dela. 
Porém, não posso deixar de estar com a razão de muitos dos que se queixam, pelos logros em que caíram, da vida difícil que têm, do modo quase desumano como terão de sobreviver. Mas foram vítimas de logros que não conseguiram evitar porque não estavam preparados para contra eles se prevenirem, tal como o não estão agora em relação aos novos em que poderão cair, à maior desgraça em que cairão ou à ambição que sentem e da qual julgam poder livrar-se com aquelas artes mágicas com que lhes acenam.
Por outro lado, a Troika teve, de facto, a vantagem de evitar que continuássemos na senda do disparate incontido de que a governação de Sócrates foi a cereja no topo do bolo. Mas por aqui se ficou se o governo não soube como o fazer da melhor maneira e o povo não entende o que, para o seu futuro, melhor convem. Simplesmente louvar a Troika não seria, pois, propósito que me fizesse sair de casa.
Entre muitos milhares e sete se situa uma diferença imensa a que a matemática pode chamar de quase infinitamente grande, mas que eu chamo, com muita mágoa o digo, a prova dos problemas sérios que se aproximam.

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