ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

SERÁ, O MAL DE MUITOS, CONFORTO?

Muitas vezes ouvi um ditado que, embora tendo a sua razão de ser quanto aos efeitos psicológicos que produz, jamais me convenceu quanto ao estado de espírito mais adequado a certas ocasiões.
Dizer que “o mal de muitos é conforto” pode dar a sensação de não estarmos sós numa desgraça qualquer que a todos toca, o que é, aparentemente, reconfortante! Mas não será este o estado de espírito que incita à disposição para iniciar qualquer caminho que debele o mal de que todos sofremos.
Não será, por isso, um ditado que se invoque nesta altura em que olhar para o lado é ver como a vida de todos se vai degradando em função dos padrões de vida a que uma “alegre romaria” nos habituou e o desejo de recuperar mais arruina.
Um olhar atento sobre os mais diversos pormenores deixa-nos perceber como se tornou menos lauta a mesa dos ricos e são, por isso, menos as migalhas que delas caem, na mira das quais muitos abandonaram as suas terras pensando que, com elas, se alimentariam melhor.
Como qualquer de vós senti, ontem e uma vez mais, a angústia dos sucessivos apertos a que, enormes equívocos, já me obrigaram desde há dezenas de anos e tive de recordar ao longo da apresentação que a Ministra das Finanças fez do orçamento para 2014 que acabara de entregar na Assembleia da República.
Foi mais um daqueles discursos que me faz lembrar o “rolo da massa embrulhado em papel de seda”, como se, desse modo, bater com ele aleijasse menos!
Colocando-me na pele do cidadão que tem consciência da realidade e, por isso, não espera que melhores dias se sigam aos da farra leviana que acabou, não me resta senão aceitar aqueles cortes em despesas que o Estado não pode suportar.
Mas, como alguém atento a uma realidade bem mais vasta, da qual estas medidas de austeridade são consequência inevitável, tenho por certo não ser este o caminho a seguir, não serem estas as razões pelas quais, por mais que o tentemos evitar, o nosso modo de vida se vai alterar profundamente.
Insistem os economistas em não introduzir nas suas equações e nos seus teoremas, nem sequer considerar nas comparações que fazem, um vasto conjuntode factos que, necessariamente, lhes daria outra visão da própria Economia. Por isso, as soluções que propõem não passaraão de uma miragem como a que leva atribuir o Prémio Nobel da Economia a economistas que ainda não perceberam que a vida não é comandada pelos mercados que estudaram mais profundamente e nem por eles se deixa manobrar.
A Economia, na sua mais pura assserção, é a arte de bem gerir as coisas da casa o que, sem dúvida, tem por fim que seja tirado o máximo proveito daquilo de que se dispõe. Depois deste conceito que foi buscar ao grego antigo o nome que adoptou, muita coisa aconteceu e se tornou diferente, sobretudo a transformação da realidade numa outra que pretendeu fazer do Planeta em que vivemos uma despensa enorme e inesgotável, o que, óbviamente, fez desaparecer os cuidados com a exiguidade.
Mas mostram os factos que assim não é, que a despensa não é inesgotável e que os nossos excessos degradam a casa em que vivemos, deixando-a sem condições de habitabilidade para nós e, sobretudo, para os nossos vindouros com os quais não contamos positivamente, tanto na pesada herança que lhes deixaremos como na casa suja, desarrumada e sem condições de vida em que os abrigaremos a sobreviver.
Nesta “aldeia global” que torna óbvia, para todos, a noção de caos a que eminentes cientistas, como Galileu, Newton e outros, foram dando corpo ao longo do tempo, ainda não conseguem, economistas e poiíticos, ver para além do domínio limitado em que as aus teorias se tornam imediatamente práticas mas não reais.
Só assim poderemos explicar que a democracia se reja pelos princípios que tempos, há muito passados, pareciam justificar, que tenhamos uma Cosntituição consagre direitos que a realidade não consegue suportar e que os portugueses tenham a esperança de regressar ao “progresso” do mundo evoluído que se está a desmoronar!
Mas uma coisa é certa: há formas melhores de usufruir a grandeza do mundo e todos os fantásticos recursos que nos proporciona.

Sem comentários:

Enviar um comentário