Muitas
vezes ouvi um ditado que, embora tendo a sua razão de ser quanto aos
efeitos psicológicos que produz, jamais me convenceu quanto ao
estado de espírito mais adequado a certas ocasiões.
Dizer
que “o mal de muitos é conforto” pode dar a sensação de
não estarmos sós numa desgraça qualquer que a todos toca, o que é,
aparentemente, reconfortante! Mas não será este o estado de
espírito que incita à disposição para iniciar qualquer caminho
que debele o mal de que todos sofremos.
Não
será, por isso, um ditado que se invoque nesta altura em que
olhar para o lado é ver como a vida de todos se vai degradando em
função dos padrões de vida a que uma “alegre romaria” nos
habituou e o desejo de recuperar mais arruina.
Um
olhar atento sobre os mais diversos pormenores deixa-nos perceber
como se tornou menos lauta a mesa dos ricos e são, por isso, menos
as migalhas que delas caem, na mira das quais muitos abandonaram as
suas terras pensando que, com elas, se alimentariam melhor.
Como
qualquer de vós senti, ontem e uma vez mais, a angústia dos
sucessivos apertos a que, enormes equívocos, já me obrigaram desde
há dezenas de anos e tive de recordar ao longo da apresentação que
a Ministra das Finanças fez do orçamento para 2014 que acabara de
entregar na Assembleia da República.
Foi
mais um daqueles discursos que me faz lembrar o “rolo da massa
embrulhado em papel de seda”, como se, desse modo, bater com ele aleijasse
menos!
Colocando-me
na pele do cidadão que tem consciência da realidade e, por isso,
não espera que melhores dias se sigam aos da farra leviana que
acabou, não me resta senão aceitar aqueles cortes em despesas que o
Estado não pode suportar.
Mas,
como alguém atento a uma realidade bem mais vasta, da qual estas
medidas de austeridade são consequência inevitável, tenho por
certo não ser este o caminho a seguir, não serem estas as razões
pelas quais, por mais que o tentemos evitar, o nosso modo de vida se
vai alterar profundamente.
Insistem
os economistas em não introduzir nas suas equações e nos seus
teoremas, nem sequer considerar nas comparações que fazem, um vasto
conjuntode factos que, necessariamente, lhes daria outra visão da
própria Economia. Por isso, as soluções que propõem não
passaraão de uma miragem como a que leva atribuir o Prémio Nobel da
Economia a economistas que ainda não perceberam que a vida não é
comandada pelos mercados que estudaram mais profundamente e nem por eles se
deixa manobrar.
A
Economia, na sua mais pura assserção, é a arte de bem gerir as
coisas da casa o que, sem dúvida, tem por fim que seja tirado o
máximo proveito daquilo de que se dispõe. Depois deste conceito que
foi buscar ao grego antigo o nome que adoptou, muita coisa aconteceu
e se tornou diferente, sobretudo a transformação da realidade numa
outra que pretendeu fazer do Planeta em que vivemos uma despensa
enorme e inesgotável, o que, óbviamente, fez desaparecer os
cuidados com a exiguidade.
Mas
mostram os factos que assim não é, que a despensa não é inesgotável
e que os nossos excessos degradam a casa em que vivemos, deixando-a sem
condições de habitabilidade para nós e, sobretudo, para os nossos
vindouros com os quais não contamos positivamente, tanto na pesada
herança que lhes deixaremos como na casa suja, desarrumada e sem
condições de vida em que os abrigaremos a sobreviver.
Nesta
“aldeia global” que torna óbvia, para todos, a noção de caos a
que eminentes cientistas, como Galileu, Newton e outros, foram dando
corpo ao longo do tempo, ainda não conseguem, economistas e
poiíticos, ver para além do domínio limitado em que as aus teorias
se tornam imediatamente práticas mas não reais.
Só
assim poderemos explicar que a democracia se reja pelos princípios
que tempos, há muito passados, pareciam justificar, que tenhamos uma Cosntituição
consagre direitos que a realidade não consegue suportar e que os portugueses tenham a esperança de regressar ao “progresso” do mundo evoluído que se está
a desmoronar!
Mas uma coisa é certa: há formas melhores de usufruir a grandeza do mundo e todos os fantásticos recursos que nos proporciona.
Mas uma coisa é certa: há formas melhores de usufruir a grandeza do mundo e todos os fantásticos recursos que nos proporciona.
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