Ouvi hoje, na rádio, um juiz jubilado do Tribunal Constitucional insurgir-se contra o juízo que, lá por fora, se faz da intervenção deste órgão de soberania, ao qual quase já se chama uma força de bloqueio da governação do país. E lá veio, uma vez mais, a invocação do todo poderoso TC alemão, ao qual nenhum político se atreveria a levantar a voz!
Posso, como português,
indignar-me quando estrangeiros falam de modo depreciativo das nossas
instituições. E fico indignado, obviamente! Mas não o fico menos quando oiço as
respostas que são dadas a tais intromissões na nossa ordem jurídica ou no que
for, as quais me parecem, com o TC alemão à mistura, a pior forma de o fazer.
Há diferenças legais e circunstâncias que tornam a sua invocação simplesmente
falaciosa.
O Tribunal Constitucional
português é, naturalmente, um órgão de soberania tal como o são a Assembleia e
a Presidência da República. Mas igualmente o é o Governo cuja “soberania” um
acordo de resgate assinado com uma entidade exterior, limitou!
E, por mais voltas que demos
ao texto, a limitação da soberania do Governo é uma limitação da soberania
global do país e, por isso, da soberania do próprio TC. Por esta razão, não
poderá deixar de ter em conta as condições em que vivemos, em consequência dos excessos
“constitucionais” que cometemos e que geraram a dívida monstruosa que nos
coloca na dependência de outros, se queremos continuar a ter meios financeiros
para fazer funcionar o país.
Foram constitucionais as
medidas que permitiram a Sócrates sobreendividar conscientemente o país,
tornando-o dependente da ajuda que outros lhe dariam? Foram constitucionais as
medidas aceites no acordo de ajuda que o governo de Sócrates assinou para
evitar a bancarrota? Como se pronunciou o TC nessas circunstâncias? Alguém
pediu a análise preventiva ou sucessiva de constitucionalidade nessa altura?
No passado, as coisas
resolviam-se de outro modo que poderiam levar Portugal à perda da própria
independência. Hoje, as coisas são feitas de um modo aparentemente diferente
mas que, mesmo assim, afecta dramaticamente a nossa soberania. E quando assim
acontece será apenas o Governo quem a perde ou seremos todos nós que deveremos actuar
da melhor forma e em harmonia para a recuperar rapidamente?
Parece-me que deveríamos
ter alguma noção da realidade que vivemos. Deveríamos ser menos politiqueiros
evitando estes confrontos de “poderes” que impedem a solidariedade que nos
poderá livrar dos problemas que, de outro modo, apenas complicamos, poderíamos
ser menos “quadrados” nas noções em que nos baseamos para defender os
disparates que nos dividem, bem como deveríamos ser suficientemente
inteligentes para entendermos que, divididos, perdemos a força que nos
permitiria ter melhores condições para defender os interesses de Portugal e dos
portugueses perante os que, porque são nossos credores e nos podem negar os meios financeiros dos quais impreterivelmente necessitamos, nos fazem as exigências
que lhes convêm.
Mas, infelizmente, há
interesses bem maiores, os quais são os que afirmam o poder de cada um ou de cada
instituição, em detrimento do bem estar do país!
Estou certo de que poderíamos viver bem melhor se nos entendessemos.
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