ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

TRUMP E CATARINA



Estou empenhadíssimo em ver quais serão as consequências, para a Europa, dos cortes, das denúncias de tratados e de outras decisões que Trump toma diariamente, naquela sua tara permanente de fazer a América grande outra vez.
Ainda não percebi bem o que quer dizer com isto, com a América, depois de mais de um século, a dominar a economia mundial que faz funcionar a seu favor, apropriando-se de riquezas que são de outros.
Não sei se conseguirá levar a sua avante, mas mais vale prevenir do que remediar, pois nunca se sabe o que pode sair de uma cabecinha tonta.
A Europa habituou-se, ao longo do tempo, desde a segunda guerra mundial e do plano Marshal, a que os EU sejam o seu guarda-chuva protector quando faz trovoada. O que não fazem de borla, obviamente…
Agora que Trump não parece disposto a que continue assim, são dois os caminhos possíveis para esta Europa decadente, ou reage com a força que ainda lhe resta, mostrando que o “velho continente” é capaz de renovar valores que outros desconhecem, ou dá razão a Catarina Martins, a “inspirada” líder do BE que vai dizendo que a Cimeira de Lisboa será uma boa oportunidade para denunciar o acordo!
Imaginemos que o plano da Catarina, um Portexit, acontece. Que soluções tem ela para tal? O que pensa que acontecerá depois?
Pois é, mais uma vez se prova que ninguém está contente com o que tem. Reclama, volta a reclamar, mas jamais diz o que quer nem, muito especialmente, como resolver os problemas que causariam as mudanças que propõe. E é aqui que está a verdadeira questão.
Apontam-se problemas em cima de problemas e a solução jamais deixa de ser a de descarregar fortunas em cima deles, talvez para os abafar. Pois, é tão fácil fazer dinheiro, o que a Europa nos não consente!
E a Catarina teria o seu problema resolvido! Dinheiro com fartura para podermos ter os salários mais altos do mundo, mas não sei para fazer o que.
Não seria melhor ideia avaliar o que se tem, os recursos naturais de que dispomos, o que com eles se pode fazer e ver, depois, que vida poderemos ter?
Não sei por que há quem, como a Catarina, pense que os problemas se resolvem com mais dinheiro, venha do BCE ou, depois de deixar a Europa, do Banco de Portugal.
A verdade é que nada se consegue sem cabeça e muito trabalho e não pode meio mundo continuar a pensar que sempre encontrará no outro meio quem faça o que ele não quer fazer.
Cada vez é mais visível o desconforto dos mais pobres, como é maior a decisão de participar das riquezas do mundo que, alguma vez, deixará de ser dos mais espertos para passar a ser de todos, como deve ser.
As desigualdades são cada vez maiores e tornar-se-á insustentável continuar assim.
Talvez, por isso, Trump queira fechar as fronteiras com muros e outras decisões que o desespero, um dia, derrubará com forte estrondo.
Catarina quer Portugal isolado do todo a que pertence, deixando-o à mercê sei lá de que.
Trump e Catarina, dois modos diferentes de isolar um país.


domingo, 29 de janeiro de 2017

EU E SOARES



Parece-me que, depois do tempo que já passou após a sua morte, demonstrado o respeito que deve ter-se por aqueles que se foram e, seja Soares agora o nada em que esperava tornar-se, esteja num outro mundo qualquer que nem sei como seja, em circunstâncias em que as nossas almas continuem a viver, eu seria um hipócrita se, simplesmente, alinhasse no coro de elogios a um homem cheio de virtudes que ele não foi e não dissesse nada do que penso sobre a personagem.
Seja como for, que Deus o tenha consigo.
Foi como foi e teve o mérito de pertencer aos que recuperaram uma liberdade que, pesem todos os inconvenientes que até possa ter, eu aprecio e uso para dizer o que penso.
Quanto ao socialismo que dizia praticar, depois do comunismo que, também, defendeu, não lhe reconheci qualidades morais que dele fizessem um homem excepcional, digno, sequer, de servir de exemplo.
Não precisa um socialista ser como Madre Tereza de Calcutá ou como outros seres de grande estatura moral para ser um bom cidadão, um socialista daqueles que querem erradicar a pobreza e a exclusão a que meio mundo está sujeito para o tornar melhor. Preferiu não querer saber dos que deixou para trás, nem das guerras em que, depois, os locais se veriam envolvidos. Já não seria problema seu, apesar das inúmeras mortes que estas guerras fizeram.
Como pouco lhe interessou o regime corrupto que se instalaria.
Mas ser milionário entre tanta desgraça, continuar a receber de quem pouco tem, aquilo com que vive em abastança, isso é que não é, de todo, socialismo.
Fui eu com a minha já numerosa família para Moçambique para evitar ser chamado para o serviço militar pela terceira vez e para uma guerra que não achava ser o caminho para a convivência e para o desenvolvimento que juntos poderíamos alcançar e lá vivi quase cinco anos trabalhando sério na investigação, no ensino superior e defendendo a liberdade, para fazer daquela terra a terra que poderia ser, convencido de que jamais me veria na situação de ignorado pelos paladinos da “liberdade” que me pareceram sempre mais preocupados com o seu lugar aqui do que com os portugueses espalhados por lá e por esse mundo fora que, simplesmente deixaram nas mãos daqueles a quem entregaram o país sem negociar a sua segurança.
Colocar entre os feitos heróicos aquela reunião em que Samora Machel esperava ter de negociar a liberdade mas na qual, simplesmente, se entregou tudo e todos quantos lá estavam, tornou natural ver, sem dó nem piedade, mandar colocar à porta da residência oficial as malas de homem às portas da morte e que fora primeiro ministro, para que alguém as viesse buscar!
E este “colonialista” que fui, que alterou a sua vida para não ir pelo caminho errado que Portugal seguia, viu-se sozinho com a família e, como pode, voltou para Portugal com o mesmo carro que levara e deixando lá o pouco que juntara. De mãos a abanar!
O que tenho eu, então, para reconhecer como grande mérito de quem não quis saber de mim, dos problemas que poderia ter com a mulher e quatro crianças que trouxe comigo e lhe não foi permitido trazer mais do 14.500 escudos para refazer a vida, porque preferiu o acto heróico de entregar, sem assegurar a segurança dos seus compatriotas, a terra onde, vivendo do meu trabalho, eu me encontrava e fui expulso?
E tantos oportunistas que eu conheci bem que aproveitaram a “boleia” para se fazer passar por revolucionários ou democratas que que jamais haviam sido…
Ainda me lembro de junto de quem fui até Angola, na viagem que fiz para Moçambique. Como a conversa mudou depois!
Soares foi um grande governante? Não foi e não foi necessário muito tempo para que Portugal estendesse, pela primeira vez, a mão à caridade.

sábado, 28 de janeiro de 2017

MENOSPREZAR TRUMP?



Diz Pacheco Pereira, num extenso escrito sobre o novo presidente americano que “Trump quer fazer o que quer sem qualquer entrave. Não é um democrata, não é um liberal, não é um conservador, nem um fascista, nem um nacionalista, é um demagogo revolucionário, egocêntrico e autoritário, que só ouve a voz do seu próprio sucesso. E, como sucesso não lhe falta, essa voz soa-lhe bem alto. Milhões de americanos já entenderam que com Trump a resistência tem de ser imediata e constante e não pode ser complacente ou adiada. Como Trump tem com ele também muitos milhões, o ambiente político nos EUA é de cortar à faca e vai-se agravar todas as vezes que ele abrir a boca, e vai abri-la todos os dias, porque precisa de um contínuo fluxo para alimentar o seu estilo revolucionário. Menosprezem-no e pagarão um preço bem alto”.
Parece-me que os americanos com bom senso o não estão a menosprezar quando lhe manifestam o seu profundo desagrado e criticam as suas propostas que algo têm de paranóico, ao que Trump tantas vezes responde como é próprio de alguém como o Pacheco Pereira descreve, com grosserias.
Considero um verdadeiro desastre o que se passou nas eleições americanas e nunca me passou pela cabeça que alguém como Trump fosse eleito o que, a partir de certa altura me pareceu que aconteceria perante a adversária que tinha pela frente!
Os Estados Unidos estão, mesmo, divididos a meio, como o que sucedeu na guerra Norte-Sul a propósito da abolição da escravatura.
Não irão, por certo, para o campo de batalha desta vez, mas que um tipo qualquer de guerra civil se perfila… disso não tenho dúvidas.
Será que os próprios republicanos se revêem neste exemplar acabado de chauvinismo que é Trump?
Se sim, então voltarei a rir por aquela anedota que diz que “a diferença entre o olhar de um americano e de uma vaca está no olhar inteligente da vaca”!
Quando ma contaram não achei muita piada e continuo a creditar que não passa de uma anedota e prefiro pensar que os americanos serão capazes de evitar os males que uma Adminstração Trump lhes pode causar e a todo o mundo também.



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

DESEQUILÍBRIOS PERIGOSOS



Não me parece que 2017 seja um ano muito calmo na política portuguesa.
São de duas ordens os motivos que causam esta preocupação, a instabilidade de que a Geringonça começa a dar sinais e as exigências externas para que o governo tome novas medidas para garantir o sucesso de um Orçamento de Estado que a muita gente parece cheio de alçapões.
De facto, as medidas mais imediatas e mais simples foram tomadas neste primeiro ano de governação, no qual seria natural os partidos mais à esquerda darem uma certa margem de manobra num período de adaptação para medidas mais extremas onde as divergências vão ser profundas.
É um estado de coisas que aquelas frases de circunstância como “a Direita tem de compreender que esta Câmara deixou de ser uma caixa de ressonância do governo”, não disfarçam.
As divergências vão ser cada vez maiores, à medida que PCP e BE exigirem as medidas que os seus princípios ideológicos impõem e o PSD já mostrou que não está disposto a substituir os aliados de ocasião do PS, como aconteceu com a descida da TSU.
Deste modo a margem de manobra do PS fica muito reduzida para os acordos que um governo minoritário não pode deixar de fazer.
Por outro lado, ficou evidente que o limite do défice foi atingido porque medidas excepcionais o permitiram, o que significa que as finanças nacionais ainda não estão equilibradas e que, em próximos Orçamentos poderão ser necessários artifícios que garantam que as metas definidas sejam atingidas.

UMA RECORDAÇÃO



Tinha os meus vinte e muito poucos anos quando vi a Simone cantar pela primeira vez. Creio mesmo que terá sido a sua primeira apresentação pública num festival da canção realizado no ex-cinema Império, no qual actuou como convidada.
Assisti à estreia desta sala de cinema e frequentava-o muito porque ficava ali quase a meio do caminho da minha casa para o Técnico onde estudava.
Lembro-me bem desse festival em que actuaram os nomes maiores da canção de então e recordo-me de quanto me impressionou a “Senhora da Nazaré” que o malogrado Tristão da Silva cantou.
Uma oração que hoje mesmo valeria a pena dizer tais são os perigos que nos espreitam.

“Senhora da Nazaré rogai por mim,
Também sou um pescador que anda no mar,
Ao largo da vida aproei nas ondas sem fim,
Está meu barquito de sonho quase a naufragar…”

Mas a Simone foi a menina que mais deu nas vistas. Encantou-me.
Envelheceu a par comigo, mas sem nunca nos conhecermos pessoalmente e, dos dois “catraios” que então éramos, somos hoje dois velhos, mas de cabeça erguida depois de carreiras em que cada um fez o melhor que soube.
Oiço-a, agora, numa entrevista em que reconhece que “Portugal é um país de velhos. A população é muito idosa. Mas realmente as pessoas de idade são muito mal tratadas neste país. É um facto. Não estou a falar dos da minha profissão, que também são mal tratados e mal amados. Nós não amamos a nossa gente de idade. É normal que sejam deixados nos hospitais pelos filhos e pelos netos? Não tenho capacidade para compreender como é que se deixa um pai ou uma mãe. Isso dá-me fúrias interiores, raivas interiores.
Tens razão Simone. Apenas te faltou dizer quanto valor e saber se perde neste modo de pensar que despreza a sabedoria dos velhos.
Aliás, tu és uma prova do que digo pelo que ainda fazes.