Que
“de médico e de louco todos temos um pouco” é um dito muito antigo que, em
certa medida, continua a fazer sentido, pois todos temos o nosso modo de reagir
ou tentar curar certos males que nos afectam e as taradices próprias dos seres
humanos ainda ninguém as curou.
Mas
a medicina evoluiu muito.
A
dor de barriga, que antigamente não era mais do que isso, hoje que pode ser
muita coisa que tens causas e tratamentos diferentes.
Os
equipamentos que a medicina utiliza vasculham-nos quase todos cá por dentro e
as análises estão cada vez mais aperfeiçoadas. O que não sei se bastará para
tratar, porque evitar já não evitam, as doenças que tivermos.
Consultas
à distância e, mesmo até cirurgias com apoio remoto, passaram a ser comuns
porque os procedimentos estão normalizados.
Lembro-me
de o médico me auscultar, pedir para dizer 33, respirar fundo, fazer apalpação
a perguntar se dói, bater com os dedos para ouvir o som que fazia, pedir que
lhe diga o que fiz ou costumo fazer, como me sentia quando me levantava, se
tinha tonturas, etc, esforçando-se por fazer um diagnóstico no qual o doente
participava.
Hoje
as consultas são diferentes e a conversa quase não existe e a medicina fica parecida
com uma oficina de mecânica, onde até algumas “peças” já se substituem.
Ficou
desumana a medicina.
Por
isso gostei de ler, numa entrevista com o dr Miguel Guimarães, concorrente nas
eleições para bastonário da Ordem dos Médicos, realçar este aspecto e defender
a relação médico-doente, dizendo “O que
está a ser ameaçado é a falta de tempo que actualmente existe para os médicos e
os doentes poderem comunicar. De uma forma prática e geral, há cada vez menos
tempo para um médico conversar com o doente. A consulta. Pelo que temos mais factores
externos que acabam por interferir com esta relação, como é o caso da
informática, com dezenas de aplicações, de procedimentos que se têm de fazer e
que ocupam praticamente o tempo todo”, acrescentando que “um dos principais motes da minha
candidatura e que irei implementar é que haja mais tempo para esta relação,
porque quem define este tempo não é o Estado, nem o Governo, nem o Tribunal de
Contas…”
Não
se trata de regressar ao João Semana, mas de Humanizar, de novo, a medicina.
Muito
de positivo pode resultar da reposição da relação perdida, na qual o médico,
para além de se aperceber das especificidades do doente, o pode ajudar a evitar
males maiores, a identificar sintomas que permitam diagnósticos precoces, tudo
isto para além da confiança que pode transmitir, ajudando o doente a participar
na própria cura.
Além
disso, acredito que a “formação” que podem dar ao doente, ensinando-o a evitar doenças e a participar na própria cura, poderia evitar
consumo de recursos, tornando a utilização dos equipamentos mais racional.
Pareceu-me
importante voltar a colocar a tónica na parte humana da questão.
Eu
não voto nessa Ordem doutor porque se votasse, votaria em si!
Uma Ordem não é um Sindicato e é das coisas que o Senhor fala que deve tratar.
Uma Ordem não é um Sindicato e é das coisas que o Senhor fala que deve tratar.
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