ACORDO ORTOGRÁFICO

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

DE MÉDICO E DE LOUCO…



Que “de médico e de louco todos temos um pouco” é um dito muito antigo que, em certa medida, continua a fazer sentido, pois todos temos o nosso modo de reagir ou tentar curar certos males que nos afectam e as taradices próprias dos seres humanos ainda ninguém as curou.
Mas a medicina evoluiu muito.
A dor de barriga, que antigamente não era mais do que isso, hoje que pode ser muita coisa que tens causas e tratamentos diferentes.
Os equipamentos que a medicina utiliza vasculham-nos quase todos cá por dentro e as análises estão cada vez mais aperfeiçoadas. O que não sei se bastará para tratar, porque evitar já não evitam, as doenças que tivermos.
Consultas à distância e, mesmo até cirurgias com apoio remoto, passaram a ser comuns porque os procedimentos estão normalizados.
Lembro-me de o médico me auscultar, pedir para dizer 33, respirar fundo, fazer apalpação a perguntar se dói, bater com os dedos para ouvir o som que fazia, pedir que lhe diga o que fiz ou costumo fazer, como me sentia quando me levantava, se tinha tonturas, etc, esforçando-se por fazer um diagnóstico no qual o doente participava.
Hoje as consultas são diferentes e a conversa quase não existe e a medicina fica parecida com uma oficina de mecânica, onde até algumas “peças” já se substituem.
Ficou desumana a medicina.
Por isso gostei de ler, numa entrevista com o dr Miguel Guimarães, concorrente nas eleições para bastonário da Ordem dos Médicos, realçar este aspecto e defender a relação médico-doente, dizendo “O que está a ser ameaçado é a falta de tempo que actualmente existe para os médicos e os doentes poderem comunicar. De uma forma prática e geral, há cada vez menos tempo para um médico conversar com o doente. A consulta. Pelo que temos mais factores externos que acabam por interferir com esta relação, como é o caso da informática, com dezenas de aplicações, de procedimentos que se têm de fazer e que ocupam praticamente o tempo todo”, acrescentando que “um dos principais motes da minha candidatura e que irei implementar é que haja mais tempo para esta relação, porque quem define este tempo não é o Estado, nem o Governo, nem o Tribunal de Contas…”
Não se trata de regressar ao João Semana, mas de Humanizar, de novo, a medicina.
Muito de positivo pode resultar da reposição da relação perdida, na qual o médico, para além de se aperceber das especificidades do doente, o pode ajudar a evitar males maiores, a identificar sintomas que permitam diagnósticos precoces, tudo isto para além da confiança que pode transmitir, ajudando o doente a participar na própria cura.
Além disso, acredito que a “formação” que podem dar ao doente, ensinando-o a evitar doenças e a participar na própria cura, poderia evitar consumo de recursos, tornando a utilização dos equipamentos mais racional.
Pareceu-me importante voltar a colocar a tónica na parte humana da questão.
Eu não voto nessa Ordem doutor porque se votasse, votaria em si!
Uma Ordem não é um Sindicato e é das coisas que o Senhor fala que deve tratar.

 


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