Tinha
os meus vinte e muito poucos anos quando vi a Simone cantar pela primeira vez.
Creio mesmo que terá sido a sua primeira apresentação pública num festival da
canção realizado no ex-cinema Império, no qual actuou como convidada.
Assisti
à estreia desta sala de cinema e frequentava-o muito porque ficava ali quase a
meio do caminho da minha casa para o Técnico onde estudava.
Lembro-me
bem desse festival em que actuaram os nomes maiores da canção de então e
recordo-me de quanto me impressionou a “Senhora da Nazaré” que o malogrado
Tristão da Silva cantou.
Uma
oração que hoje mesmo valeria a pena dizer tais são os perigos que nos
espreitam.
“Senhora
da Nazaré rogai por mim,
Também
sou um pescador que anda no mar,
Ao
largo da vida aproei nas ondas sem fim,
Está
meu barquito de sonho quase a naufragar…”
Mas
a Simone foi a menina que mais deu nas vistas. Encantou-me.
Envelheceu
a par comigo, mas sem nunca nos conhecermos pessoalmente e, dos dois “catraios” que então éramos, somos hoje dois velhos,
mas de cabeça erguida depois de carreiras em que cada um fez o melhor que
soube.
Oiço-a,
agora, numa entrevista em que reconhece que “Portugal é um país de velhos. A população é muito idosa. Mas realmente
as pessoas de idade são muito mal tratadas neste país. É um facto. Não estou a
falar dos da minha profissão, que também são mal tratados e mal amados. Nós não
amamos a nossa gente de idade. É normal que sejam deixados nos hospitais pelos
filhos e pelos netos? Não tenho capacidade para compreender como é que se deixa
um pai ou uma mãe. Isso dá-me fúrias interiores, raivas interiores.”
Tens razão Simone. Apenas te faltou dizer quanto valor
e saber se perde neste modo de pensar que despreza a sabedoria dos velhos.Aliás, tu és uma prova do que digo pelo que ainda fazes.
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