Eu
creio que se meteram num colete-de-forças todos os que resolveram tomar partido
pelo acordo o contra ele, extremando posições e assumindo, até, atitudes
agressivas quando uma discussão deve ser tranquila para ser sensata e frutífera.
Seja
como for, já se perdeu tempo demais e, sejam quais forem as razões de uns e de
outros para julgarem dever ser assim ou de outro modo, a discussão começa a
perder sentido e a entrar na birra, uma atitude que faz parte da má educação e
não é um procedimento científico. Costuma ser o que faz quem sente que a razão lhe foge.
Jamais
fui contra a simplificação ou contra outras alterações que o passar do tempo
justifique, o que me não parece que seja o que aconteceu no acordo ortográfico
que tanta celeuma levanta, justificado por razões que me não parecem, de todo, as
mais razoáveis.
Algumas
das soluções encontradas quase me parecem ridículas, enquanto outras até me
podem parecer aceitáveis.
Mas
o português europeu e o brasileiro fizeram o seu caminho ao longo de muito
tempo de modos diferentes, tendo os brasileiros adaptado a escrita à pronúncia
que adoptaram e não me parece que haja acordo que desfaça as diferenças
existentes, o que jamais tornará a escrita do português universal.
Depois
de muita contestação que a precipitação da oficialização do acordo em Portugal
acabou por causar, entra em cena a Academia de Ciências de Lisboa que faz
algumas sugestões para o aperfeiçoamento do acordo ortográfico da língua
portuguesa.
Não
me parece que elas vão ao fundo da questão que o acordo levanta, mas são
sugestões que deveriam ser consideradas numa análise definitiva que ponha termo
a uma questão, evitando que o mau e tão contestado acordo acabe por se impor
pelo tempo ou pelos custos financeiros que já teve e não pelas suas virtudes.
Vem
isto a propósito de um texto que acabo de ler no Jornal de notícias, no qual
algumas das sugestões da ACL são expostas.
Esta
contribuição, melhor ou pior mas, para mim, sempre de louvar, mereceu de uma
professora de português esta afirmação que me parece grosseira: “Quando a
Academia refere que estas sugestões constituem «um contributo que resulta de
aturada reflexão em torno da aplicação da nova ortografia e sobre algumas
particularidades e subtilezas da língua portuguesa que não podem ser ignoradas
em resultado de um excesso de simplificação», é altura de dizermos que
preferimos reflectir sem brincar, porque há mais de duzentos e cinquenta
milhões de utilizadores da Língua Portuguesa e existe um tratado internacional
que devemos respeitar”.
Pior
do que isso me parece esta intervenção de alguém nos comentários que são feitos
ao texto, escreve “…Essas criaturas sinistras que andam a defender a velha
grafia com unhas e dentes, como se a identidade portuguesa dependesse em
exclusivo das consoantes mudas, precisam de arranjar algo onde possam
descarregar as suas frustrações existenciais. Andam todos de cabeça perdida.
Houve até um que comparou a prof. Lúcia Vaz Pedro a um traficante de crack.
Esta gente está fora de controlo!”.
O que se ha-de pensar disto?
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