Tenho
todo o direito de ter pouca confiança no ensino que se limita a exigir dos
alunos que saibam uns quantos teoremas, definições, leis ou princípios que
debitam escorreitamente depois daquele esforço que chega a ser quase desumano
em véspera de exames, mas que bem depressa esquecem sem, sequer, os saber
relacionar.
E
ainda mais depressa quando menos tempo têm para o memorizar.
Com
as excepções que sempre se verificam seja no que for, nas funções que tive de
professor no ensino universitário, pude aperceber-me dos débeis conhecimentos
que muitos alunos possuíam e, mais do que isso, da sua pouca capacidade para os
utilizar.
Já
deixei de ensinar há vários anos e mesmo durante esse tempo pouca atenção
prestei às novidades que iam sendo introduzidas nos outros níveis de ensino, do
que mais me dei conta depois de me afastar.
O
meu estilo de professor foi, sem qualquer dúvida, moldado pelos erros que
detectei no ensino que recebi, no que nele me desagradou e, até, no modo como o
contrariava enquanto aluno, assim como pelo que a vida profissional entretanto me ensinava.
A
violência (ainda sou do tempo da “menina de cinco olhos” que castigava os que
não tinham na ponta da língua a resposta ás perguntas que lhes faziam, além de
outras), a exigência de enormes esforços de memória que se esvaziava quando a
pressão do exame passava, da separação absoluta, em cadeiras, de conhecimentos
que fazem parte do mesmo saber, da necessidade de “auxiliares de memória” que
permitissem ultrapassar algumas falhas de memória ou, até, substituíssem o
estudo que não foi feito e outras coisas que as alterações entretanto feitas
não me parece que corrijam como deveriam.
A
violência estava fora de questão, ao contrário da total responsabilização que o
aluno deve ter, pelo seu comportamento e pelas decisões que toma.
O
“encornanço” (assim se chamava ao esforço de memória compacto nas vésperas dos
exames) não é solução para aprender, tal como o não é saber uma matéria
desconhecendo totalmente as outras.
Não
é fácil ensinar ou, melhor dizendo, formar alguém de um modo perfeito.
A
vida é hoje muito diferente e são naturais as preocupações que levam a fazer
alterações que, em minha opinião, quase nunca são as melhores.
Por
exemplo, a questão da retenção (a que, antes, se chamava reprovação), é agora
muito discutida e fico surpreso quando, algumas vezes vejo preferir a
progressão mesmo sem saber!
A
verdade é que a passagem sem saber sempre existiu, em consequência do falso
saber que resultava do “encornanço”.
Sem
rejeitar a necessidade de ter presente conhecimentos fundamentais, como a
tabuada, por exemplo, mas que pouca gente sabe, o fundamental é reconhecer os
problemas que se nos colocam e o modo de na sua resolução aplicar os
conhecimentos adquiridos e os conhecimentos e procedimentos que podemos
encontrar na literatura existente ou em práticas alheias e podemos aperfeiçoar
em discussões com colegas.
Foi
este o princípio que adoptei.
Publicava
os livros de base das matérias que leccionava, nas aulas esclarecia-os com os
alunos, relacionava-os com outras matérias e discutia a sua aplicação na
resolução de problemas.
Os
exames eram provas de demonstração dos resultados conseguidos, porque neles era
permitida a consulta de apontamentos e de livros onde, naturalmente, não estava
a solução dos problemas colocados mas sim o que era necessário saber para os resolver.
Era,
pois, a destreza mental que mais me interessava que fosse desenvolvida, em vez
da tradicional capacidade relambória.
Afinal,
é assim que os bons profissionais fazem. Sabem identificar os problemas,
consultar livros e revistas, actualizar conhecimentos, trocar ideias, inovar e, finalmente, realizar.
Era
para isso que eu preparava os meus alunos. Sobretudo, ensinava-os a pensar,
coisa que nenhum livro consegue fazer.
Será
isto que tanta discussão sobre o ensino tem em vista?
A verdadeira evolução do ensino estará em criar condições de síntese dos conhecimentos diversificados, mesmo apenas dentro de um mesmo currículo de formação.
A verdadeira evolução do ensino estará em criar condições de síntese dos conhecimentos diversificados, mesmo apenas dentro de um mesmo currículo de formação.
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